Heartbreak Circuit

Capítulo 03

Na sexta, eu não ia ao circuito, mas decidi que não podia adiar uma certa conversa. O primeiro treino livre tinha acabado de terminar. Eu precisei segurar o sorrisinho quando avisaram que Leclerc e meu irmão, respectivamente, tinham liderado a primeira etapa. Não que desse para ficar feliz, visto que eles foram seguidos pelo filho da puta do Verstappen e nossas posições não foram exatamente boas. Lewis e George estavam pingando suor, falando com os engenheiros e meu alvo do dia. Eu parei em uma das cadeiras no hall central do boxe e esperei. É claro que Toto sabia que era por ele que eu estava ali.

– Juli! – Ele sorriu para mim quando terminou com os dois, que deviam estar indo começar os preparativos para o segundo treino livre.

– Nós podemos conversar?

– Claro, o que houve?

– Em particular.

Toto fechou o rosto. Ele era irritadinho, embora nunca sequer tivesse chegado perto de levantar a voz para mim. As coisas estavam sempre às mil maravilhas quando Toto tratava de algum assunto comigo, e ele nunca se preocupava com nada do que estava sob minha responsabilidade. Bem... Nunca até aquele dia. A ansiedade até chegarmos à sua sala era gritante.

– Aconteceu alguma coisa?

– Sim mas, de antemão, já adianto que é algo particular, que não diz respeito à equipe, mas eu achei que devia te contar por questão de honra.

– Certo.

– E isso, de forma alguma, envolve o meu trabalho com a Mercedes. Muito pelo contrário, minha intenção com essa conversa é reforçar meu compromisso com você e o restante da equipe.

Ele cruzou os braços na frente do peito.

– Me diga logo o que é e, se eu achar necessário, conversamos sobre o assunto. Você pode estar preocupada por nada.

– Eu estou saindo com Charles Leclerc.

– O que mais?

– Como assim 'o que mais'?! – Foi a minha vez de cruzar os braços.

– Era esse o assunto? Porque você podia ter poupado seu tempo, criança, eu já sabia.

– Quem te contou?!

– GP de Monza, boxe da Ferrari. Você tava conversando com seu irmão, eu com o Vasseur, e o garoto lá, quase literalmente babando. E aí eu te encontro com o buquê quando fugimos dos seus pais.

– Por que você não falou nada?

– Sua vida pessoal não é da minha conta, nem da conta de ninguém dentro dessa equipe. Seu trabalho é impecável, isso que me importa. Além do mais, eu conheço o Leclerc há anos. Sei do caráter dele, é um ótimo garoto. E melhor ainda, eu confio seu caráter, ou então você nem estaria aqui na minha equipe. Você já teve chance suficiente de mostrar o seu profissionalismo com o seu irmão correndo pelos nossos rivais, e não falhou uma vez sequer.

– E-eu... Eu não sei o que dizer.

– Você quer que eu brigue com você? – Ele riu.

– Claro que não, eu só achei que... Bem, não é nada, eu claramente me equivoquei. Eu agradeço a compreensão, vou aproveitar que vim aqui e coordenar alguns conteúdos.

– Eu que agradeço por você ter se preocupado com me informar, só mostra que eu estou certo sobre o seu profissionalismo, mas não precisa se preocupar com isso. – Ele me deu um sorriso compreensivo. – Mais alguma coisa?

– Não, era só isso.

– Vamos descer então, tá quente demais e nós dois poderíamos estar tomando um sorvete no refeitório agora.