Capítulo 08

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Uma coisa que seria difícil de introduzir na minha vida era o luxo absoluto que pilotos, de forma geral, tinham à sua disposição. Eu já tinha selecionado um voo específico. Não custaria nem oitenta euros, o voo era super curto, mas Charles fez questão de resolver com a companhia de me devolver o dinheiro. Não era a minha primeira vez em um jatinho particular, graças ao meu irmão, e duvidava que seria a última. Nós ainda passamos uma parte da tarde de segunda-feira em Mônaco antes de voarmos tranquilamente até Nápoles.

– Nós podíamos ter vindo de barco, sabia? – Charles disse enquanto ajudava o mensageiro a tirar as malas do carro alugado.

Uma Mercedes. Vingança.

– Quantas horas até aqui?

– Onze, doze...

– E você queria vir de barco?! – Eu olhei para ele quase com desgosto.

– Claro, Edmond viria conosco.

– Seria uma tortura.

– Você tá se negando a passar onze horas comigo no barco, mon amour?

– Não me entenda mal, eu gostei do barco, o Edmond é uma ótima pessoa, mas prefiro passar uma hora no avião e dez horas no quarto só com você.

– Seja sincera, você não queria perder a chance da gente entrar pro mile high club.

Estreitei meus olhos para ele. Charles era um golden retriever humano, certeza.

– Nós estamos em público, Leclerc, comporte-se.

– Me dê um bom incentivo pra isso.

– Eu não tiraria a paciência da pessoa que dorme ao seu lado. – Terminamos o caminho até o balcão da recepção enquanto eu o ameaçava sutilmente. – Olá, boa tarde. Reserva em nome de Julia Sainz.

– Boa tarde, senhora Sainz, um momento.

A recepcionista tomou meus documentos da minha mão enquanto eu me segurava para não revirar os olhos. Senhora uma ova.

– Certo. Confirmando... Um quarto duplo deluxe com vista para o mar. Dois hóspedes.

– Não, a minha reserva é pra um quarto clássico, sem vista.

– Bem, consta aqui que a sua reserva é essa e que a senhora já quitou a estadia conosco inclusive.

A risadinha ao meu lado denunciou o culpado. Eu só bufei e forcei um sorriso para a mulher atrás do balcão.

– Tudo bem, o que você precisa pra liberar nosso acesso?

– Só os documentos do seu marido.

– Ele não é...

– Aqui. – Charles chegou ao meu lado, deixou o passaporte em cima do balcão e passou o braço na minha cintura, sussurrando bem próximo do meu ouvido. – Aparentemente, é comum pensarem que nós já somos casados na Itália.

– Você é um pentelho. – Resmunguei.

O quarto não era gigantesco, mas era maior do que os quartos onde eu costumava ficar durante minhas viagens. A cama parecia confortável o suficiente para a noite que passaríamos ali. Charles abriu as enormes portas de vidro, e as cortinas balançaram com a brisa que entrou, liberando a vista para o Castel dell'Ovo. Tinha cheiro de mar.

– Nós vamos nos ver depois que sairmos daqui?

– Eu preciso compensar a minha ausência com a equipe.

– Você tá trabalhando. – Ele protestou. – Toda hora, você para o que tá fazendo pra passar uns minutos no notebook porque o Toto pediu.

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