Capítulo 17

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Pisquei e já era a manhã do outro dia. Pedi a Charles que não comentasse nada com ninguém enquanto íamos, só nós dois, para Interlagos. O bom de estarmos no Brasil era que a Mercedes, como equipe, era muito bem quista pela população local. Tanto o meu trabalho quanto o trabalho do restante da minha equipe ficavam mais fáceis. Nós chegamos ao treino livre com tanto conteúdo pronto que era só questão de viver o momento e atualizar os fãs em tempo real sobre o que estava acontecendo no circuito.

Parte ruim: a volta da sprint. Não era só eu que não gostava desses finais de semana. A maioria dos pilotos não era fã, as equipes também ficavam sob maior estresse. Tudo começava com a sessão única de treino livre. Mesmo com tudo a nosso favor – dentro da minha área de atuação, é claro –, eu não me sentia bem o suficiente para lidar com aquele formato.

Durante uma hora, nós lidamos com o momento menos sério daquele grand prix. As duas RedBulls e Lando foram os primeiros a marcar tempo. Lewis não demorou a aparecer também, para a alegria das arquibancadas, e entregou uma boa performance. As Haas mostraram certa disposição satisfatória. As primeiras reclamações vieram de Alonso. De fato, a pista estava em uma condição deplorável para o necessário.

Foi um treino surpreendente, de forma geral, e não só por Kevin e Nico. Yuki também gerenciou uma boa performance. George, em certo momento, assumiu o melhor tempo. Alex passou perto. Enquanto todos estavam de olho em como, estranhamente, até Stroll apresentava um bom desempenho, as duas Ferraris ultrapassaram o tempo de Russell, finalizando assim a sessão com os favoritos em posições muito inferiores ao esperado.

Já estava até acostumada com o enjoo. A sensação, no entanto, piorou do almoço para a frente. Com a qualificação sendo ligeiramente adiada para limpeza da pista, eu tentei me manter tão bem quanto possível, mas não estava adiantando muito. Meus colegas começaram a notar, enquanto eu insistia que nada estava acontecendo. As chances estavam contra mim, mas eu estava decidida a só ceder quanto chegasse de volta ao hotel.

Com o avanço da hora, eu não era mais a única tensa. Todas as equipes estavam preocupadas com o tempo. Os ventos na pista indicavam que uma chuva estava por vir, e que não demoraria muito. Dava para sentir uma gota ou outra aparecendo. Não teria uma pessoa ali no paddock contra terminarmos aquilo tudo o quanto antes. A primeira parte da qualificação já começou com todo mundo tenso com a condição climática.

Lewis e Lando começaram bem. Meu irmão e Stroll – de novo, estranhamente – também apareceram com significativos tempos. No final, Russell e Leclerc estavam dividindo os três melhores tempos com o holandês favorito da federação. Os dois carros da Aston Martin desenvolveram bem na segunda parte. Com Lance indo bem, não tinha como terminar em bons termos, tinha?

– Isso foi um trovão? – Eu fiquei arrepiada quando um som grave fez a estrutura da garagem estremecer.

– Você não viu o tempo lá fora?

Dez minutos antes, aquela nuvem definitivamente não estava ali. Era uma das mais densas que eu já tinha visto na vida. Os ventos estavam aumentando com intensidade. Pelo pouco de experiência que eu tinha, já sabia que não era mais tão seguro os carros voltarem à pista. Até torci para que a FIA esperasse um pouco, avaliasse melhor a situação, mas a terceira etapa começou normalmente.

Os pneus não tinham mais aderência ao asfalto, era óbvio. Oscar chegou a sair da pista. Meu coração apertou ao ver, através das telas, que os carros estavam sofrendo para continuar. As gotas aumentaram, o lado de fora da garagem escureceu como se fosse noite. Não tinha mais jeito, então foi dada bandeira vermelha. Mas mesmo sabendo que os carros estavam voltando para os seus respectivos boxes, ver a traseira da Ferrari de Charles deslizando no asfalto piorou tudo o que eu já estava sentindo nos últimos dias.

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