Aquela conversa me perseguiu. Uma semana e exatamente quarenta buquês depois, alguns pilotos estavam chegando a Singapura. Meu irmão entre eles, visto que a Ferrari teve alguma reunião de emergência que ele disse não poder comentar comigo, atrasando nossos planos. Ele já havia dito que pousara em segurança e que estava passando pelos trâmites necessários para chegar ao hotel.
Eu estava com a mente ocupada. Não era função minha me preocupar tanto com isso, mas acompanhava de perto a movimentação nas redes sociais para a chegada de George e Lewis no país, o que só aconteceria no dia seguinte. Então não foi exatamente surpresa que eu levantasse animada no segundo em que ouvi baterem na minha porta. Era meu irmão, não era? Tinha que ser. O problema foi só não ter maldade suficiente para processar qualquer outra opção além disso. Eu só levantei, deixando o notebook em cima da cama de qualquer jeito, e corri para atender.
Dei de cara com margaridas de novo. E Leclerc.
O nó que deu na minha cabeça foi tão grande que eu só senti o sorriso morrendo no meu rosto e meu estômago revirando.
- Oi. - Ele abriu um sorriso tímido, esticando o buquê na minha direção.
Eu demorei, mas peguei. Mesmo que fosse ele a me entregar pessoalmente o buquê, ainda assim, havia um cartão. Olhei para Leclerc, vestido com uma calça jeans escura comum e uma camiseta branca da Givenchy, antes de deixar a minha curiosidade ceder ao pegar o cartão com a minha mão livre.
'dis-moi comment te faire mienne'
- Você não me responde no Instagram, eu precisei vir cobrar a resposta pessoalmente.
- Nós estamos próximos um do outro o tempo inteiro, Charles, você podia ter falado comigo pessoalmente antes.
- Eu quis, mas fiquei com medo de você não gostar de ser abordada por um piloto da equipe rival no meio de algo relacionado à competição.
- Bem, você arriscou com as flores.
- De alguma forma, eu esperava que você soubesse que eram minhas.
- Garanto que só recebo flores suas ou do meu irmão. E falando nele...
- Eu quero te levar pra sair. - Leclerc me interrompeu. - Sem compromisso, sem pré-julgamentos, sem expectativas. Só eu, você e uma conversa sincera.
- Charles...
- Por favor! - Os olhos dele brilharam na minha direção.
Eu quis desviar o olhar. Eu juro que quis. Mas negar realmente estava difícil, então eu aceitei depois de protestar um pouco. Antes que eu percebesse, estava trocando de roupa com ele me esperando do outro lado da porta, puta da vida com Carlos porque ele respondeu 'eu sei, divirta-se' quando contei o que acabara de acontecer.
Do Marina Bay Sands até o Zoológico de Singapura, nós não trocamos uma palavra. Passamos pela bilheteria ainda em silêncio. Eu estava tensa porque era Singapura em semana de GP, os fãs já estavam chegando e era só questão de tempo até alguém reconhecer Charles. Minha opinião sobre ele ainda estava em jogo. Eu tinha um cérebro me dizendo para voltar ao hotel e um coração insistindo que queria ouvir meu nome no sotaque de Leclerc mais uma vez.
Tudo aconteceu muito rápido, a verdade é essa. Charles ficou solteiro em dezembro do ano anterior. Ele e meu irmão estavam colados desde que se tornaram pilotos da mesma equipe. O começo do ano era muito agitado para o meu departamento, ainda mais eu estando no meu primeiro ano como gerente. Não ver meu irmão me fez falta, mas só vi tranquilidade suficiente para passar uns dias com ele depois do GP da Austrália, que foi a terceira corrida do ano. Aí eu resolvi ficar pela Itália, já que meu trabalho podia ser feito remotamente e a agenda entre as corridas abriu um espaço de quase um mês.
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Heartbreak Circuit
FanfictionQuando o asfalto fervilha com a adrenalina das corridas, Julia, gerente de mídias sociais da Mercedes, e Charles, piloto da Ferrari, aceleram em direção a um romance cheio de curvas perigosas. Entre o rugir dos motores e os segredos dos bastidores...