Capítulo 06

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A realidade chegava para todos, não seríamos os sortudos que conseguiriam escapar. Suzuka era para ser um bom lugar. Tirando o fuso horário, era normalmente incrível. Mas a batida de George ainda estava repercutindo – e repercutindo mal. Esse era o lado ruim da internet, não dava para ignorar absolutamente nada ao mesmo tempo em que você tinha que entender de tudo. Os comentários não estavam muito amigáveis para George.

Por Deus, era impossível enganar qualquer um. Russell era a prioridade da Mercedes naquele momento, o que era absurdo, e eu reconhecia isso com um enorme pesar no coração. Ele era meu melhor amigo dentro da equipe, não tinha como comparar. Por mais que sua carreira ainda estivesse muito embrionária, eu sabia que ele ia se tornar um piloto incrível. A questão era que, do outro lado, nós tínhamos um multicampeão.

Lewis era diferente de nós, mas ele podia ser. Andava com os seus para todos os cantos, tinha bandeiras próprias para defender fora do interesse da equipe. Ele era responsável por boa parte dos fãs, e não lhe dar ouvidos beirava o absurdo. Russell podia sim ser a prioridade da equipe, o que se mostrava inconcebível era que, em razão disso, desrespeitassem Hamilton.

Começou com ignorar comentários sobre os carros e foi acontecendo até o total abandono em momentos importantes, como o pódio em Singapura. Eu tentava reforçar o apoio até onde dava, mesmo que eu não passasse de uma pessoa que recebia ordens. Verdade seja dita, Lewis e eu não éramos amigos amigos. E tudo bem, nós nos tratávamos bem, íamos um pouco além do ótimo relacionamento profissional, dávamos apelidos um ao outro e conseguíamos fazer piada com a vida.

Tudo que dava errado com a Mercedes, eu tratava com uma cortina de fumaça no Instagram da equipe. E onde que eu ia criar a cortina de fumaça quando o problema era justamente lá? Não tinha o que postar lá sem receber uma chuva de comentários odiando não só a equipe, mas especificamente George – o que me incomodava pessoalmente –, e exaltando Lewis. Bela hora para ter o Toto afastado, né?

Surgiram com uma contenção de crise genial: uma noite de boliche. Alguém do departamento de Relações Humanas achou que seria muito bom fechar uma pista de boliche inteira para toda a equipe, e só organizaram com o nosso substituto do Toto. Assim que tudo foi acertado, ele me chamou para uma reunião especial.

Minha função era garantir que tudo ia chegar perfeitamente bem ao Instagram, que as pessoas deveriam ver que Lewis era querido, que a publicação deveria dissipar qualquer dúvida de que nós não estávamos bem... Tudo o que eu já sabia, afinal, foi por competência e não pelo sobrenome Sainz que eu cheguei àquele lugar. Só esqueceram que era mentira. A equipe estava sim em crise interna. Mas, como sempre, a Julia ia ao resgate.

Esquecer da minha vida pessoal, às vezes, fazia parte do emprego. Só vi Carlos e Leclerc porque estivemos no mesmo evento, o que aconteceu sem querer. Tudo ganhou velocidade muito rápido e, da mesma forma, perdeu. E, de novo, eu sabia que não era minha função, mas ali eu me encontrava. Irmão? Não sabia onde estava. Namorado? Só por mensagem. Julia? Na porta do quarto de Lewis Hamilton, repetindo um discurso educado e motivacional na cabeça que não teria serventia alguma.

– Juli?

Foda-se o discurso.

– Vamos fingir que você não sabe o porquê de eu ter vindo aqui. – Propus.

– De terem te mandado até aqui, você quer dizer? – Lewis perguntou, eu assenti, nós rimos. – Juli, obrigado pelo esforço, mas eu marquei outra coisa com meus amigos.

– Eu sei disso mas, por favor, agora sou eu quem tá te pedindo.

– Pela equipe, não por você.

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