Capítulo 10

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Eu sabia que ia me arrepender daquilo, mas eu tinha um prazer mórbido em tomar decisões impensadas. O voo para Londres foi calmo, depois de ter a equipe inteira pegando no meu pé porque Charles fez questão de me deixar na fila do portão de embarque na manhã do dia seguinte. Não nego, foi doloroso não poder ganhar um beijo de despedida, de um jeito quase infantil, mas estava tudo bem. Era bom porque ajudava a criar a expectativa.

Ele tinha que ir para Maranello, eu tinha que ir para Brackley. Meu trabalho era, majoritariamente, desenvolvido à distância. Eu precisava estar presente em reuniões remotas, delegar funções, supervisar essas mesmas funções e ser o cérebro por trás de toda e qualquer operação referente ao departamento sob minha responsabilidade. Era um trabalho que podia ser totalmente home office, mas eu trabalhava para a Fórmula 1, não para uma multinacional qualquer. Ou seja, estar presente fazia a diferença.

Nós chegamos em Londres pouco depois da hora do almoço. Boa parte da equipe combinou de ir até um restaurante próximo. Era padrão. Teríamos folga na terça, então calhava sair para beber na tarde de segunda. Normalmente, eu até iria junto, mas estava tão exausta que só pensava na minha cama, então eu me despedi de todos depois de comprar uma refeição para comer no caminho e peguei um carro para casa. Uma hora depois, o carro parou à frente do meu pequeno grande refúgio no distrito de Clapham.

Fui direto para a lavanderia, deixei a maior parte das minhas roupas na máquina de lavar e corri para o chuveiro. Depois do banho, eu fui para a cama sem botar nenhuma peça de roupa. A temperatura devia estar por volta de 15ºC do lado de fora mas, como a casa estava fechada por tanto tempo, o frio era mais intenso. Contratar alguém para cuidar da casa durante minhas viagens se provou ser a melhor escolha, porque a coberta estava com cheiro de amaciante e mais confortável do que eu me lembrava.

Meu estômago faminto acordou por volta das oito horas da noite. A casa estava mergulhada em uma escuridão estranhamente confortante. Eu deixei que meu cérebro se acostumasse com o despertar até pegar o celular. Havia uma mensagem do meu irmão, dizendo que chegara à Itália bem, e outra de Leclerc, dizendo a mesma coisa e acusando que estava com saudades. Eu sorri e digitei uma resposta, interrompida pela minha fome.

Pedi um tagliatelle à bolonhesa no restaurante de sempre enquanto ia atrás de um pijama para vestir. A casa havia sido um presente. Meus pais custearam um terço do valor, Carlos pagou outro terço, e eu tinha terminado de quitar a minha parte naquele ano. A minha justificativa para gostar daquela casa tinha sido a cozinha enorme mas, como eu estava sempre viajando e só parava em casa para descansar, minha vida era resumida em pedir comida. Uma piada. Eu ria sozinha pensando nisso quando o telefone tocou. Eu corri para colocar o fone wireless antes de atender.

– Você acabou de me frustrar. – Resmunguei.

Achou que era o Leclerc?

– Achei que era alguém fazendo um depósito de mil libras por engano na minha conta. – Brinquei. – Você já tá em Londres?

Acabei de entrar no apartamento. Você tem planos pra hoje?

– Acordei agora a pouco, pedi comida não tem nem cinco minutos. Vou comer, ver uma série e dormir mais.

– Planos pra amanhã?

A lembrança do convite de Leclerc que eu tinha aceitado me deu dois socos na boca do estômago. Eu resmunguei antes mesmo de responder.

– Tenho que ir atrás de um vestido.

– Quer companhia? Carmen ficou presa com alguns compromissos no trabalho e só chega na quarta.

– Você quer mesmo me acompanhar enquanto eu estiver provando mil vestidos diferentes?

– Eu duvido que você vai demorar. – Ele riu do outro lado da ligação. – Tenho certeza de que você vai levar o primeiro vestido que você gostar de verdade.

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