Capítulo 09

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Deixamos o restaurante com tempo suficiente para irmos ao hotel, pegarmos nossas bagagens e nos encaminharmos para o aeroporto. Eu devolvi o carro alugado enquanto Carlos e Charles adiantavam a documentação para o embarque. Em pouco tempo, nós estávamos dentro de um dos jatos da empresa que patrocinava os dois.

– Depois que a gente for deitar, por favor, só não façam nenhum som que eu não gostaria de ouvir. – Meu irmão murmurou enquanto nós afivelávamos os cintos de segurança.

– Eu só consigo pensar em dormir, Carlos, me poupe.

– Na Espanha, nós chamamos isso de...

O som do meu celular interrompeu a frase do meu irmão. Era um som muito específico: o barulho que eu escolhi para notificar sempre que Toto mandasse mensagem. Duas horas da manhã – uma hora a menos na Inglaterra, tudo bem –, o que diabos ele queria falar comigo?

– Vocês podem ativar o modo avião ou desligar seus dispositivos móveis, por favor? – A comissária de bordo pediu. – Vamos começar os procedimentos para a decolagem.

Eu assenti sem tirar os olhos do aparelho. Ativei o modo avião antes de ler a mensagem. Duas horas da manhã, ele deveria estar dormindo mas não. As palavras eram simples e, mesmo assim, foi difícil de processar. O avião já estava taxiando e eu, relendo o 'não conseguirei ir ao Catar' na primeira linha da mensagem. De tão nervosa que eu fiquei, minha garganta secou.

– O que houve? – Meu irmão e Leclerc perguntaram ao mesmo tempo.

– Complicações no trabalho. – Eu suspirei e finalmente bloqueei a tela do celular. – O médico pediu que o Toto ficasse mais alguns dias de repouso, então lá vamos nós pra mais uma race week sem o chefão pra tranquilizar os ânimos entre George e Lewis.

– Você sabe que não é função sua se estressar com isso, né? – A mão de Charles envolveu a minha por cima do apoio de braço.

– É função minha gerenciar como essa situação é exposta pro público, o estresse faz parte.

– A equipe tem psicólogo pra isso. – Meu irmão completou. – Faz a sua parte e só.

– Mais fácil falar que fazer.

– De uma forma ou de outra, alguém precisa falar que você tá fazendo o seu trabalho muito bem e que isso é acúmulo de função. – Carlos falou antes de encaixar os fones no ouvido, indicando o fim da conversa.

O avião decolou enquanto meus dedos estavam entrelaçados no de Leclerc. Como o corpo estava começando a relaxar, o cansaço dos últimos dias estava chegando de uma vez só. O assento era confortável o suficiente para me fazer pensar que era só fechar os olhos por tempo suficiente que eu embarcaria em algumas boas horas de sono, mas o tempo não foi suficiente. Logo, a luz indicando o uso obrigatório do cinto de segurança se apagou.

– Você vem pra cama?

– Cama?!

Idiota era eu de ainda me surpreender. Um pouco atrás da cabine principal, havia uma área enorme, equipada com tudo o que uma sala de estar luxuosa poderia ter e, no seu final, uma cama. Nós passamos por essa parte até chegarmos a uma outra cabine, onde uma segunda cama de casal estava disposta. Leclerc fechou a divisória quando eu passei por ela e começou a tirar os tênis antes de mais nada.

Foram pouco menos de seis horas de um sono invejável até sermos acordados pelo meu irmão, chamando porque iríamos pousar e precisávamos sentar e afivelar os cintos. Eu me arrastei até a parte principal do jato até estarmos onde deveríamos. A aterrissagem foi tranquila, suave. Foi só a comissária abrir a porta do jato que eu já estava arrependida. Fomos recebidos por um sopro quente. Não eram nem dez horas da manhã em Doha.

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