Capítulo 20

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Minha mente explodia ao mesmo tempo em que tentava se convencer de que relaxar era a melhor solução. Eu tinha em torno de sete meses pela frente para viver todas aquelas emoções de uma vez. A primeira delas era polêmica e pomposa demais para o meu gosto: Las Vegas. Nós voamos na segunda, para nos adaptarmos à cidade e nos divertimos um pouco antes dos compromissos profissionais.

A Mercedes tinha uma ação especial planejada para aquela race week, a divulgação de um novo modelo. Até Suzie viajou conosco. O trabalho de terça para quarta envolveu o novo carro, majoritariamente. Nós ainda estávamos decidindo sobre como espalhar a notícia da gravidez e, para não esquentar a cabeça com isso, nada melhor do que trabalhar.

Como os organizadores da corrida em Las Vegas quiseram transformar tudo em um grande circo, nós precisamos começar a trabalhar antes da hora. Houve uma cerimônia de abertura – abertura de quê, não me pergunte – que ninguém queria atender. Depois, foi feita pressão para que os pilotos comparecessem a um evento no Wynn Hotel. Quase ninguém deu as caras.

Mexeram, por fim, no dia de imprensa. Eu tinha todo um planejamento perfeito, e eles foram lá e mexeram no meu dia de imprensa. Era engraçado como até os pilotos davam entrevistas mostrando o descontentamento óbvio por aquele circuito. Inclusive os americanos do grid não estavam animados, fosse pelo trajeto estranho da pista ou porque ninguém mais estava tão emocionado para correr naquele final de temporada sem graça.

O estresse me cansou mais do que o trabalho em si. Embora houvesse diversão – claro, lidar com quinhentos homens vestidos de Elvis Presley durante o dia tinha seu lado bom –, eu mal podia esperar para que tirassem Las Vegas da agenda de corridas da Fórmula 1. Ouso dizer que, pelo que ouvi de comentários perdidos nos corredores do hotel, nem os locais estavam concordando muito. Ou seja, 'circo' era a palavra perfeita para definir aquela zona.

Até os horários não faziam sentido. Tudo bem, estávamos no meio de um deserto, mas havia chuva e temperaturas bem amenas porque estávamos no final do outono, com o inverno norteamericano à espreita. Quando a quinta-feira chegou com os treinos livres noturnos – para quê, não sei –, acho que não havia um ser vivo no paddock que queria mesmo continuar com o fim de semana que mal começara.

Jet lag em dia, eu atendi aos primeiros eventos oficiais ligados à corrida com os olhos pesados. Cada pausa era um motivo mais que justo para tirar um cochilo. Vantagens que eu já tinha antes de engravidar: para dormir, eu só precisava respirar fundo e encostar a cabeça em algum lugar. Então eu aproveitei bem essas oportunidades enquanto os pilotos se preparavam para colocar os carros naquela pista sem-vergonha pela primeira vez.

O primeiro treino livre durou vinte minutos. A Ferrari estava precisando de uma benzendeira com urgência, porque meu irmão foi o azarado da vez. Tinha uma tampa de bueiro solta na pista. Isso mesmo, você não leu errado. A maior categoria do automobilismo mundial foi submetida a algo que talvez nem amadores deixariam acontecer. Carlos estava perto da velocidade máxima da pista quando o objeto nada delicado entrou no seu caminho e destruiu o assoalho do seu carro.

Levamos uns minutos para entender, o que a bandeira vermelha deu de sobra até, finalmente, suspenderem logo a primeira sessão de treino livre. A classificação final ficou com Charles à frente. Não me surpreendia, se eu fosse sincera. Parcialidade de lado, ele era um piloto incrível e estaria dando trabalho se a equipe não estivesse falhando tanto em todos os quesitos. Leclerc foi seguido no melhor tempo pelo Hülkenberg e o Magnussen.

George e Lewis ficaram com o sexto e o décimo segundo melhor tempo, mas não dava para julgar, visto que a duração da sessão foi excepcionalmente curta. Mesmo assim, os engenheiros e estrategistas já tinham um plano para executar até a próxima sessão. Como não me dizia respeito, e amém por isso, eu e meu cansaço extraordinário achamos um cantinho na sala de Toto para tirar um cochilo.

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