Capítulo 07

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Confesso que estava nervosa ao embarcar para Mônaco. Os dias na Inglaterra haviam sido corridos demais, então eu não tive tempo para pensar em tudo o que aquela viagem poderia querer dizer. George ainda tinha me encurralado com uma suposta promessa de sair para beber que eu não lembrava de ter feito. Tempo sozinha foi o que eu menos tive, com exceção da hora de dormir.

A temperatura em Londres girava por volta dos 14ºC quando saí de lá. Em Mônaco, passava um pouco dos 20ºC. Ainda confortável, mas nem tanto, o que me levou a tirar o suéter no momento em que coloquei os pés para fora do avião da British Airways. O celular indicava uma mensagem, Charles avisando que estava indo me pegar no aeroporto, mesmo que eu já tivesse insistido que não precisava, que eu poderia pegar um táxi sem maiores dificuldades.

Eu já havia estado em Mônaco a trabalho, nunca a lazer. Sinceramente, não havia o que tanto fazer por lá que eu não pudesse fazer em outro lugar que me desse ainda mais opções. Mônaco também era evitável porque a maioria dos pilotos do grid moravam lá. O principado respirava automobilismo, sobretudo a Fórmula 1. Só estava pisando lá porque tinha um motivo maior para isso.

Leclerc estava na ponta da escada na saída do avião. Eu devia adivinhar, depois da pequena guerra que foi para eu comprar minha própria passagem enquanto ele insistia que ia enviar um jato a Londres apenas para me buscar. Ele tinha um boné da Ferrari, bem fanboy, e óculos escuros no rosto. Ao seu lado, uma mulher uniformizada abrigava um sorriso claramente forçado no mesmo tanto que era educado, e segurava uma placa com o meu nome. Meus olhos reviraram no exato instante que ele sorriu para mim.

– Você não deveria. – Eu disse quando nos aproximamos ao fim dos degraus e cheguei para o lado, a fim de não bloquear a saída do restante dos passageiros.

Charles deu um passo na minha direção. Foi rápido, mas o beijo estava ali. Eu fiquei surpresa. No bom ou mau sentido? Ainda estava decidindo.

– Parece que a gente não se vê a meses. – Leclerc sorriu para mim.

– Senhorita Sainz, esperamos que a senhora tenha feito uma boa viagem. – A funcionária do aeroporto me cumprimentou. – Quer me acompanhar até o nosso estacionamento privado, por gentileza?

Eu sussurrei as palavras exagero e desnecessário para Charles no nosso caminho até o estacionamento em um carrinho de golf. Para a minha irritação mas, infelizmente, nenhuma surpresa, ele usava a sua clássica Ferrari 488. Ele notou quando eu torci o nariz, rindo da situação.

– Não é possível que você se recuse a entrar em uma Ferrari.

– Vou precisar ser bem recompensada por isso. – Brinquei.

– Pelo menos, não sou eu quem mandou adesivar Smooth Operator na traseira do carro.

Não dava para discordar que, nesse ponto, meu irmão ultrapassara todas as breguices possíveis. Havia uma pequena comoção na saída do aeroporto, provavelmente não por sua causa, mas algumas das pessoas notaram a inconfundível Ferrari deixando o terminal. Até seu apartamento, não trocamos palavras além do cotidiano e de algumas atualizações sobre como haviam sido nossos dias desde a partida do Japão.

O apartamento estava limpo. Limpo demais. Suspeito até, eu diria. Não havia luxo ali, o que eu gostei de identificar. Tudo era bem simples. Sua sala de estar era pequena mas confortável, foi onde eu deixei minha bolsa de mão. Charles levou minhas malas corredor adentro enquanto eu observava o piano de armário bem no hall de entrada. Ele tinha um total de três músicas disponíveis no Spotify. Não eram do meu estilo favorito, mas eu até tinha gostado. Meu sorriso foi involuntário só de imaginá-lo tocando ali em seus dias de folga.

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