Betina
Por que será que de repente minha amiga parecia outra pessoa? Os olhos amáveis estavam arqueados de maneira cruel e dura; os lábios formavam um sorriso cínico que eu não conhecia e o cheiro forte de vinho emanava dela.
— Como foi que…
— Com isso. — Mostrou o celular em sua mão. — Eu instalei um aplicativo espião no seu celular há muito tempo. Eu consigo acessar tudo do seu aparelho através do meu. Se você não tivesse jogado fora o seu celular quando fugiu, eu teria te encontrado antes do Cristian.
— Meu celular sempre teve senha!
— Pelo amor de Deus, Betina! Me formei em ciências da computação, saber espionar seu aparelho é tipo o básico do básico. — Riu. — Mas eu gosto da sua ingenuidade. Isso te deixa mais atraente, sabia?
— Foi você quem pediu para o Robert me encontrar no restaurante com o Cristian?
— Sim. — Confessou. — Sabia que você estava me escondendo que tinha dormido com o Cristian e percebi que você se importava demais com o caçula dos Servantes ao ponto de me ocultar isso. Se não fosse pela gravidez, talvez vocês estivessem brigados até hoje. Eu dei azar. — Contou. Depois pegou o meu aparelho telefônico e jogou no chão e pisando em cima dele com o sapato. — O idiota do seu noivo vai querer retornar e não quero que ele interrompa nossa conversa. Preciso de tempo para que entenda minhas razões...
— Está difícil para mim acreditar nisso. Não parece coisa sua.
— O desespero me fez assim. — Respondeu.
Então sua expressão mudou novamente, e começou a falar com a voz chorosa, tentando me comover
— Quando você estava com o Robert eu não tinha esperança nenhuma porque quando te conheci você já falava de se casar com ele, então me conformei em estar ao seu lado e receber as migalhas, mas aí você terminou com ele e ficamos ainda mais próximas…
— Você foi importante nessa parte. Uma amiga importante.
— No entanto, você foi “trepar” com o Cristian! — Rosnou. — Mas serviu para eu ver que esqueceu o Robert rápido e mais rápido ainda se apaixonou pelo outro. Isso me deu esperanças.
— Não foi bem assim. Eu já tinha sentimentos não compreendidos pelo Cris.
— Sim. E pode ter sentimentos não compreendidos por mim também.
Ana Clara estava perturbada, era a única explicação. Eu deveria ir embora, mas antes queria arrancar toda a verdade dela.
— Você ia fazer mal para o Tobias?
— Nunca! Ele é seu filho e eu vou cuidar dele como se fosse meu. Meu plano era apenas fingir que o salvei de um perigo para ter sua gratidão. Queria te mostrar que podia cuidar dos dois e você iria ser grata a mim para sempre.
— Você mandou matar o Cristian.
— Pois é. — Fez uma careta marota. — Estava difícil competir com Cristian; e tendo um filho juntos ele nunca nos deixaria em paz, mas eu devia ter pagado um profissional e não um bando de marginais. Foi um desastre. Era para parecer um latrocínio.
— Eu sinto muito, mas não fico nem um segundo mais ao seu lado. — Caminhei até a porta e girei a maçaneta, mas não abriu — Abra a porta, por favor.
— Por favor, me perdoe! — Ana Clara veio e tentou me abraçar. Ela era muito mais forte do que eu e por isso eu demorei para me desvencilhar — Meu maior erro foi te amar demais!
— Abre a porta, por favor.
Ana Clara ajoelhou-se diante de mim e começou a chorar compulsivamente. No passado eu sempre me comovia com os problemas dela, ainda mais sabendo das dificuldades financeiras que ela enfrentava, mas daquela eu não senti pena, pois a única coisa que conseguia pensar era no mal que ela poderia ter feito.
— Você precisa me perdoar e me dar uma chance. Eu sou a única pessoa que pode realmente te fazer feliz.
— Eu nunca vou conseguir gostar de você desse jeito, principalmente porque tentou fazer o mal contra as pessoas que eu amo.
— Eu sei que se você der uma chance para nós duas e ficar ao meu lado por tempo suficiente, o sentimento vai brotar e você vai esquecer do Cristian tão rápido quanto esqueceu do Robert. — Sorriu entre as lágrimas. — Então vai me amar, só que eu não serei uma patife, vou preservar nosso relacionamento como se fosse a jóia mais preciosa do mundo.
— Chega! — Bradei. — Eu não tenho nenhum problema com suas preferências... só que não é a minha. Agora nem sua amiga eu tenho condições de ser. Levanta daí e me deixa sair.
Ana Clara ainda estava se levantando quando ouvimos as batidas na porta.
— É da polícia. Estamos procurando a Srta. Betina Santoro! — O homem gritou do outro lado.
— Está tudo bem. Aqui é a Betina. Já vamos abrir a porta. — Eu falei, em alto e bom tom.
Vi Ana Clara caminhar até o aparador, mas ao invés de pegar as chaves, ela tirou uma pequena arma da gaveta. Era um modelo pequeno, que facilmente caberia numa bolsa de mão, mas apesar de diminuto, devia fazer um belo estrago se disparada bem perto do alvo.
— O que vai fazer com isso?
— Pelo jeito você não vai colaborar comigo...
— Seja lá o que estiver pensando, é uma péssima ideia.
— Não quero que fique com ele, eu não suportaria... — Ela chorava e suas mãos tremiam.
Eu estava apavorada por dentro, mas mantive a calma. Do jeito que ela tremia a mão, aquela arma ia disparar a qualquer momento.
— Não meta os pés pelas mãos. Você só está confusa e precisa de ajuda, ok?
— Serei presa? Minha mãe vai morrer de vergonha de mim…
— Não pense nisso agora, só abaixe essa arma e abra a porta. Eu não vou deixar que te machuquem. Deus não permitiu que você ferisse ninguém...
Eu caminhei lentamente até a mulher e ao perceber minha intenção ela posicionou a arma em minha direção. A polícia começou a nos chamar novamente.
— Estou armada— Ana Clara avisou. — Se arrombarem eu atiro nela!
Os burburinhos vinham de trás da porta. Agradeci a Deus por ter deixado Tobias na casa da minha mãe. Ana Clara estava evidentemente perturbada.
— Qual é o seu plano? Atirar em mim? E depois? Você é jovem e estudada, vai pegar uma pena enorme se fizer uma besteira dessas.
— Me deixa pensar. — Mordeu os lábios — Não estava esperando por tudo isso. Saiu totalmente do meu controle.
— Larga a arma, Ana.
— Acha que sou burra? Quando entrarem aqui vão me prender!
Eu dei mais um passo em sua direção e Ana Clara ficou em alerta.
— Já sei o que vou fazer: vou atirar em você e depois em mim mesma. Vou morrer bem ao seu lado e talvez sejamos enterradas juntas, já pensou?
Eu percebi que no desespero Ana Clara seria capaz de cumprir com sua promessa, foi por isso que quando ela desviou a atenção para o policial que falava na porta, eu pulei sobre ela.
No susto, ela perdeu o equilíbrio e fomos ambas para o chão. Agarrei sua mão tentando arrancar a arma.
Ana me deu uma joelhada forte na barriga, mas eu engoli a dor e não soltei. Ela tinha mais força, eu, porém tinha toda a determinação. Rolamos no chão, trocando chutes e cabeçadas até que a arma disparou.
Ambas paramos de lutar nesse momento.
VOCÊ ESTÁ LENDO
INABALAVEL: Me Rendendo ao Ex-cunhado
ChickLitQuando Betina descobre que engravidou de Cristian, o irmão caçula de seu ex-noivo, o mundo desmorona mais um pouco. Ainda abalada com o término desastroso de seu noivado e a vergonha pela gravidez indesejada, ela só vê uma solução: fugir... Betina a...