Betina
Naquela noite eu saí de casa para a festa de Tricia com os gritos da minha mãe a tiracolo.
— Você parece uma meretriz com essa roupa! — Estefânia esbravejava.
Mamãe sempre teve muito poder sobre a escolha das minhas roupas. Enquanto ela mesma transbordava volúpia com seus conjuntos decotados, os vestidos esvoaçantes e nada convencionais para uma senhora de cinquenta anos, mãe de uma filha já adulta, ela tentava me moldar na direção totalmente oposta: golas sempre altas, saias comportadas, uma vibe mais angelical.
Uma vez, minha amiga Ana Clara, disse que minha mãe não gostava que fossemos mais bonitas do que ela, como se fossemos rivais. Achei essa fala da Ana totalmente descabida na ocasião, mas agora eu começava a concordar. Minha mãe não gostava da minha fantasia porque era indecente, mas sim porque eu estava chamando mais atenção do que ela...
Meu pai apareceu na sequência e apenas me desejou uma boa festa. Ah, meu querido pai era um amor, queria que o motorista da família me levasse, mas eu não tinha horas para voltar e não queria me sentir presa a nada. Deixei meu carro na garagem e então entrei no táxi e recebi o olhar curioso do motorista.
— Para a Mansão Toledo? — O homem perguntou.
— Isso mesmo, como o senhor sabe?
— Acabei de levar um casal vestidos de formigas até lá. Mal cabiam sentados no banco — Explicou, divertido.
Cheguei animada na festa, já havia ido algumas vezes à casa da Tricia. A propriedade de sua família conseguia ser mais bonita que a dos Servantes, apesar de ser menor.
— Ah, você veio! — Tricia me abraçou, como se fossemos grandes amigas.
Na verdade, Tricia havia sido minha antagonista no colégio. Éramos amigas no início, mas quando me aproximei da Ana Clara ela ficou com ciúmes e praticamente me tirou da sua rodinha de amizades. Eu ainda não havia engolido a falta de consideração com a Ana, que provavelmente não foi convidada à festa por ser pobre, mas decidi que naquela noite não ia lutar pela causa de ninguém além da minha.
Eu precisava tirar as últimas decepções da minha cabeça e preencher com novas histórias. Ninguém poderia me tirar do fundo do poço além de mim mesma. Se eu continuasse escondida dentro de casa, como uma criminosa, ia cair em depressão e depois disso seria só ladeira abaixo.
Foi por tudo isso que retribui o cumprimento de Tricia com a mesma falsidade que me foi dirigida. Nos elogiamos mutuamente e planejei me divertir para valer.
Qual a perspectiva para aquela noite? Ah, beijar muito. E pretendentes não faltaram, fui interpelada por pelo menos três antigos colegas da época do ensino médio, houve o rapaz vestido de Júlio César e o mais bonitinho havia sido o Viking, no entanto todos pareciam moleques demais. Eles deviam ter aproximadamente minha idade, mas eu passei boa parte da vida adulta iludida com um relacionamento com Robert Servantes que era uns bons anos mais velho que eu.
E foi enquanto eu dançava sozinha, me deixando levar pela música e me sentindo muito bem naquela roupa apertada, que percebi que alguém me observava de longe.
Um vampiro para ser mais exata. Eu continuei dançando, sabendo que era observada, o tipo de coisa que jamais faria na vida. No entanto, aquele não era um dia comum. Eu me sentia mais livre do que em qualquer outro momento da minha história.
Enquanto a figura das trevas se aproximava de mim com aquele andar másculo e forte que o destacava dos demais homens, eu fui reconhecendo o rosto bonito: era Cristian.
Então ao entender que aquele Drácula era meu ex-cunhado eu deveria ter parado de dançar, de maneira tão audaciosa..., porém não o fiz. Eu tinha ligado o botão do "Foda-se" naquela noite. Só queria beijar alguém e até o momento meu ex-cunhado era o cara mais interessante que tinha aparecido naquela festa.
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INABALAVEL: Me Rendendo ao Ex-cunhado
ChickLitQuando Betina descobre que engravidou de Cristian, o irmão caçula de seu ex-noivo, o mundo desmorona mais um pouco. Ainda abalada com o término desastroso de seu noivado e a vergonha pela gravidez indesejada, ela só vê uma solução: fugir... Betina a...