Capítulo 12

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— O chá está servido... – a voz de Agatha cortou o silêncio sufocante entre as ruivas. Ela não iria fingir que não ouviu a briga e declaração ao mesmo tempo, o castelo novinho em folha estava sob risco de demolição novamente, e ela tinha amado essa nova moradia. Não poderia deixar isso acontecer, mesmo que tivesse que colocar runas nas paredes dele! Iria interromper, sim!
Observando as duas que não se moviam, ergueu a sobrancelha para Natasha que bufou antes de passar por Wanda como um trem-bala.
— Onde que é a cozinha?! – escutou Natasha gritar dentro do possível hall de entrada do castelo. Quis rir, ela mesma não tinha tido tempo de explorar as maravilhas da criação de Wanda. Era simplesmente imenso!
 — Primeiro andar, depois do hall de entrada, primeira porta do corredor a esquerda! – gritou de volta as informações divertida. Ambas ouviram passos pesados sob o piso de granito polido. Wanda suspirou pesado e o olhar de Agatha se voltou para ela. — Quantas emoções, hein, abelhinha?
— E você não tem nem a discrição de fingir que não ouviu nada – o murmuro da outra fez a bruxa rir. — Você é uma fofoqueira de mão cheia, Agatha!
Ouch! Assim você quase me ofende! – a outra nem ao menos prendeu o divertimento. — Não tenho culpa que uma das únicas atividades mais divertidas a se fazer nesse HEX é acompanhar a... Como chamam mesmo? Ah, sim! Novela mexicana que são vocês duas.
— Que bom que tem pelo menos uma pessoa se divertindo, mesmo que às minhas custas – o rolar de olhos da ruiva foi automático e depois ela se levantou para entrar na casa. Queria se isolar. Ficar um pouco sozinha com seus pensamentos, mas sentiu a mão da morena a segurando no pulso direito.
— Ela não controla suas emoções, não a culpe – Agatha disse séria dessa vez. — A memória e essência dela são da Natasha de antes, mas seu corpo não se submeteu aos horrores que a tornou uma Viúva Negra. É como se o corpo dela fosse um bebê processando tudo que está na mente dela que são o quê, quase 41 anos de vida? Ela não tem mais nenhum soro super potente em seu sistema, mas agora tem magia do caos. O que pode ser bem pior, convenhamos – ela deu um suspiro para continuar. — O que eu quero dizer é que ela não tem filtro. Como um verdadeiro bebê.
Wanda ficou em silêncio por alguns minutos absorvendo as informações.
— Ela disse que me ama – era a única coisa que passava na cabeça da bruxa em looping.
— Eu ouvi – Agatha tentava esconder a animação nisso. Sim, suas emoções sem o Darkhold a corrompendo eram muito intensas e para a infelicidade dela, era até que muito sensível. — Isso é bom, não é?
— Ela acha que está presa a mim e me culpa pelos efeitos indesejados que coloquei nela, Agatha. Ela me amar não a faz sentir menos ódio no momento – confessou com o olhar perdido.
— Ela não te odeia, criaturinha! Sem filtro de emoções, lembra? – a morena bufou e rolou os olhos.
— Tanto faz, eu vou pro meu quarto – disse e se teletransportou para seu próprio quarto no castelo medieval.
<...>
— E que dia lindo esse, hein, família? - Agatha disse irônica quando entrou na enorme cozinha toda trabalhada em um estilo bem americanizado, ela preferia o tipo europeu, mas tudo bem, nada poderia ser tão perfeito. Wanda se escorava no balcão de pedra fria que era parte da pia com um possível chá preto ou inglês em sua xícara fumegante. Já Natasha estava em um dos banquinhos que puxou da bancada onde seria um dos lugares a se compartilhar refeições, mas ela, no caso, se encontrava bem no centro do cômodo. Na ilha da cozinha. Com um prato de frutas a terminar, ovos e bacon a migalhas já devorados e um suco provavelmente muito saudável verde.
— Bom dia, Agatha – a única a responder foi incrivelmente Natasha.  
— O gato comeu sua língua, abelhinha? – seus olhos se estreitaram para Wanda que ergueu uma sobrancelha e se manteve em silêncio. Ótimo, ela estava de mau-humor.
— Eu fiz ovos mexidos e bacon. Tem suco verde na geladeira, mas fiz também um de laranja para caso não gostarem – Natasha disse desviando o climão presente na cozinha. Ela e Wanda não tinham trocado uma palavra desde a noite anterior.
— Oh, isso foi atencioso! – Agatha reconheceu. — Pelo menos uma para me ajudar na cozinha, já que uma bruxinha prefere conjurar refeições a aprender a fazer – provocou mostrando a língua para Wanda que nem se mexeu, continuando com o olhar perdido e soprando o vapor de sua xícara. — Ihh, ela tá chata hoje.
— Se eu fosse você, nem gastava seu tempo – Natasha falou. — Wanda quando entra em seu tratamento de silêncio é insuportável – disse e no mesmo momento escutou um ranger de dentes e um jogar bruto da xícara na pia. Instantes depois, Wanda sumia de sua própria criação. — Não disse?
— Vocês bem que poderiam aprender a conversar como duas mulheres adultas em vez de fazer birrinhas como crianças, depois não podem reclamar de meus apelidos! – Agatha comentou pegando um prato para tomar café da manhã preparado pela Viúva. — Está toda suada. Já fez sua corrida acompanhada do nascer do Sol?
— Sim, meu corpo está melhorando. Consigo correr sem ficar toda fadigada – disse confirmando as suspeitas da bruxa. — Mais tarde vou passar na academia que Wanda construiu para mim.
—  Temos uma academia? – perguntou surpresa.
— E uma sala para treino de tiros acústica, minhas armas e facas – completou. — Ela pensou mesmo em tudo. Até computadores de espionagem como os antigos que tinha, os rádios, walkie talkie, tudo.
— A abelhinha é extremamente perfeccionista em suas criações, como deve ter percebido – elogiou.
— Menos em mim, pelo jeito – reclamou e isso fez Agatha parar a concha no ar.
— Nem comece, Romanoff! – sua voz era irritadiça quando se virou. — Eu sei que está complicado lidar com esse corpo bebê que não corresponde a sua mente, mas Wanda fez tudo que podia por você! Ela não fez isso de propósito! Se ela soubesse dessa consequência, teria encontrado outro jeito. E para de pensar em você como uma criação de Wanda, você é uma pessoa normal como sempre foi, ou quase né, normalidade nunca foi seu forte.
— Eu tenho magia agora!
— Uau, que peninha de você! – Agatha rolou os olhos. — Poderia começar a agradecer por ter uma pessoa como Wanda em sua vida. Que se importa verdadeiramente com você! E sério, mesmo? Nunca pensei que você fosse do tipo que se vitimizava, Natasha.
— Você realmente está diferente da bruxa de Westview – ela murmurou envergonhada.
— Estou voltando a ser a bruxa patética e sentimental que era antes da magia negra e do Darkhold. Que legal! – disse sem animação na voz.
— Prefiro você assim – comentou a outra e Agatha se voltou novamente para os ovos e bacon que pareciam deliciosos.
— Você precisa treinar sua magia e não só seu corpo – disse com o prato já cheio dessa vez. — Magia é emoção, quanto maior a emoção sentida, maior seu potencial de poder. Precisa processar e controlar, canalizar o caos. E isso requer muito treino e prática, talvez sua antiga disciplina te ajude nisso.
— Eu quero esquecer que tenho magia! Você viu o que eu fiz! – quase gritou com Agatha.
— Medo também é uma emoção, criaturinha peçonhenta. Se você a prender dentro de si, vai ter um dos maiores catalizadores de magia como uma bomba-relógio prestes a explodir – garfou um bacon levando-o a boca. — Não se preocupe, se eu consigo treinar Wanda, você será ainda mais fácil.
— Agatha Harkness, professora de magia – Natasha zombou.
— Não foi ideia minha, mas até que eu tô gostando, tá? – a comida estava realmente boa. — Você vai ficar bem, Natasha.
<...>
— Isso não está funcionando! – exclamou Natasha frustrada por não conseguir fazer a tarefa dita por Agatha.
Elas estavam nos fundos da propriedade que agora era do domínio das três. Alvos em formato humano com pontuações diferentes nos órgãos vitais estavam espalhados entre as macieiras do enorme terreno. A tarefa era simples: atirar as facas, bem afiadas e conhecidas, no alvo e acertar a maior pontuação possível. Era para ser fácil!
Natasha sabia atirar facas desde seus quatro anos de idade, por Deus! Porém tinha um pequeno detalhe, os bonecos que Agatha preparou para ela treinar tinham encantamentos, eram criaturinhas tridimensionais que corriam e até revidavam ataques quando pegavam suas facas.
Tinha cerca de cinco deles numa área de trezentos metros.
O objetivo era matar os alvos quando atingissem a pontuação de número cem em cada um deles. Entretanto, não estavam treinando seu corpo que já reclamaria da nova forma de treinamento. Sua mente raciocinava perfeitamente os ângulos e a inclinação da faca, o peso dela em sua mão e até mesmo como o vento a ajudaria. Seu corpo e destreza, eram outra coisa. E nem era isso que sua nova professora estava pedindo, ela pedia que fizesse isso usando magia.
— Não é nada de outro mundo, Natasha! – Agatha estava flutuando acima da área que denominou de treinamento, pois facas voavam naquele espaço. — Você está pensando demais para fazer algo que precisa sentir!
— E como eu faço isso?! – se alterou observando os bonecos correndo pelas árvores.
— Oras... - Agatha voou até estar no chão e ergueu uma mão em direção a mesa disposta ao lado delas, onde as famosas facas conhecidas como os ferrões da Viúva Negra se dispunham, em tamanhos diversos, mas do mesmo modelo. Finas e feitas de liga de aço e titânio, letais e com um soco inglês em vez de um cabo. — Assim! – a magia púrpura dela envolveu o soco inglês com facilidade e o ergueu no ar, assim ela fez com todas as facas de uma vez, todas dançando assim como os bonecos que corriam e dificultavam o trabalho de apanhá-los.
No segundo seguinte, Natasha só piscou e todas as facas estavam sendo arremessadas numa velocidade impressionante até os bonecos, que correram tentando se defender, mas a magia de Agatha fez as facas os perseguirem insistentemente até todas elas estarem cravadas nas cabeças, corações, rins, fígados e pulmões. Todos os órgãos vitais de todos os bonecos estavam afundados com os ferrões da Viúva.
— Oookay, eu nunca vou conseguir fazer isso! – disse Natasha impressionada. Ela mal conseguia levitar algo a cinco metros de distância dela, muito menos fazer as facas perseguirem algo em movimento a quase trezentos metros.
— Um dia, você vai sim – Agatha ignorou o pessimismo dela. — Você é a Viúva Negra, mas agora uma coisa a mais e não digo somente por conta da magia de Wanda presente em você. Temos a joia da alma com seus efeitos desconhecidos para estudar!
— Eu era, não sou mais.
— Uma parte sua sempre vai ser, Natasha. Por isso estou ensinando você a usar magia com as armas que conhece. Facas são o primeiro passo do treinamento, depois pode passar para suas armas de choque, seus bastões e por último, algo que realmente faça estrago.
— Com que propósito isso? Se tenho magia, por que treinar com armas e lutar fisicamente?
— Porque essa é a sua identidade! – falou o óbvio. — Todas nós temos uma. Seu estilo sempre foi mais corporal e usando sua inteligência superdotada ou apenas sua beleza fora do comum para tirar vantagem.
— Essa é identidade de todas as Viúvas – disse sem emoção na voz.
— Então é aí que entra a Natasha Romanoff. Você vai criar algo único, um estilo que nem eu ou Wanda poderíamos copiar, utilizar tudo que você sabe e tem e amplificar com magia – Agatha surpreendentemente estava paciente nesse dia. — Imagine não se preocupar com munição nunca mais? Ou nunca mais perder armas? Invadir não somente softwares, mas mentes e não digo só de uma pessoa. Imagine que se não quiser usar sua magia e a esconder como vantagem, você poder amenizar qualquer ferida que sofrer ou apenas se curar instantaneamente. Esse corpo novo pode não ser tão condicionado quanto o antigo, criaturinha peçonhenta, mas não o julgaria como fraco tão cedo. Você e Wanda são um potencial ao impossível em almas vivas e corpos ambulantes.
— Falando assim até parece que está admirada e diria com um pouco de inveja, Agatha – Natasha sorriu mesmo a acusando.
— Eu já me consolei ao que diz respeito a chegar a esse nível de poder – não se deixou afetar. — Eu experimentei um pouco da magia de Wanda em nossa luta, era grandioso, mas exigia um preço terrível. É um fardo pesado ter o poder de criar e destruir. Me deixe com a velha magia negra, a do caos é realmente demais para mim – suspirou admitindo uma derrota sobre um assunto que sempre lhe despertou interesse. — Você tem alguém que entende o que está passando, por mais que sua raiva não a deixe ver. O que você acha que forja uma Feiticeira Escarlate e o porquê dos poderes de Wanda terem aceitado se ligarem ao seu novo corpo?
— Eu não faço ideia – não estava gostando do rumo da conversa. Ela ainda sentia muita coisa indefinível por Wanda e seus feitos.
— Dor, Natasha – Agatha olhava em seus olhos profundos ao falar. — É o sofrimento.

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