Capítulo 25

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— O que você viu quando entrou na Dimensão Espelhada? – Natasha estava sentada na ponta da pequena cama de solteiro no quarto de Wanda. Para o inferno que iriam interrogá-la nesse estado.
A mesma estava abraçando os joelhos, como se abraçasse a si mesma. Ela não conseguia falar, não queria nunca mais relembrar daquele lugar, mas esticou uma mão, a palma virada para cima e com magia dançando entre seus dedos.
Não foi preciso mais para um entendimento, a Viúva levou seu rosto a palma, encaixando seu rosto naqueles dedos trêmulos. E assim Wanda lhe mostrou em sua mente o que ocorrera.
Natasha se arfou diante do que foi visto e não se segurou ao agarrar a pequena bruxa para um abraço apertado. Wanda recomeçou a chorar silenciosamente naqueles braços que lhe transmitiam tanto calor.
Era segurança que Wanda precisava e ela não lhe negaria nada a ela. Ela inclinou os corpos delas para o colchão e abraçou em conchinha. Lhe apertando forte, deixando que seu corpo mostrasse a ela que não estava sozinha.
— Você não é ela, meu amor - falava-lhe perto de sua orelha. — Você é poderosa e extraordinária. E boa. Você é gentil e cuidadosa. Carinhosa e capaz de iluminar os céus com a pureza de seu coração.
Um soluço mais forte fez o corpo dela tremer.
— Você é boa e bela – continuava a sussurrar palavras que eram carícias. — E eu estou aqui com você. Eu sempre estarei com você, minha querida. Você não está sozinha, me ouviu? Enquanto eu viver, de corpo e alma estarei ao seu lado. Segurando sua mão.
Os tremores foram cessando e Wanda virou-se de frente para sua ruiva.
Trilhas de lágrimas escorridas faziam seu rosto brilhar, mas seus olhos estavam mais suaves. Marcados pelo choro, mas o verde estava novamente brilhando em meio a névoa do choro recente.
Seus lábios se esticaram em um sorriso e ela aproximou sua testa colando com a de Natasha. A ruiva sorriu com o ato e não se conteve a dar um leve selar de bocas em Wanda. Uma carícia física necessária para ambas. Um selar singelo que dizia muito mais que as palavras poderiam naquele momento.
— Obrigada, Nat.
— Sempre que precisar, minha bruxinha.
 
— Andem logo! Não temos muito tempo! – Mística tentava guiar os prisioneiros mutantes para longe daquela fortaleza.
Ela forçou sua digital apressadamente no leitor e empurrou aqueles adolescentes que mal tinham saído das fraldas. Correram pelos labirintos de corredores, ela com muito esforço e mentiras tinha conseguido tirá-los de suas celas.
—  Por que está fazendo isso? Você está do lado dela! - Polaris tentava se equilibrar com aquelas correntes especiais feitas sob encomenda para que seus poderes não pudessem ser usados. Além de, claro, aquela coleira elétrica no pescoço.
— Cale a boca e ande! – chegaram em uma parede fétida que tinha um alçapão onde jogavam lixo e corpos mutilados dos laboratórios. — Entrem aí, se mantenham no escuro e encontrem América Chávez.
— Isso não muda nada entre nós, traidora – Mercúrio grunhiu enquanto Mística desarmava a coleira de seus pescoços e tirava as algemas.
A mutante não se afetou com o tom agressivo de Pietro.
— Era o único jeito – disse sem expressar emoções e abriu o alçapão de cheiro pútrido. — Espero que consigam.
— Ela te matará se descobrir que nos ajudou a fugir – o tom de Polaris era frio.
— Eu sei – Mística empurrou os dois no alçapão e o fechou desejando que eles tivessem realmente uma chance de escapar. Fugir daquele planeta amaldiçoado governado pela irmã deles.
Eles tinham razão, a Feiticeira Escarlate a mataria por muito menos, mas faria durar infinitamente mais por ter ajudando aqueles em especial a fugir.
Afinal, mesmo os monstros tinham família.
 
Wanda acordou abruptamente com aquele sonho tão real, se sentou na cama sozinha. Era madrugada ainda.
As imagens de Pietro e aquela mulher morena que parecia tão familiar fugindo do que parecia uma prisão, passavam em replay em sua mente.
Seu coração estava atropelado em seu peito.
— Não foi um sonho! – se deu conta.
Seus poderes estavam se ampliando e ela tinha total certeza de que acessou sem querer as janelas para outros mundos, mas não um qualquer. Ela acessou a Terra que sua versão maligna dominava.
O suor embalava seu corpo como uma segunda pele. Quem era América Chávez? O que estava acontecendo?
Precisava dar um jeito de acessar aquele mundo. De alguma forma, tinha que falar com aqueles dois. Pietro estava em perigo, assim como a menina de cabelos curtos ondulados que se assemelhava assustadoramente a Pietro. Quem seria ela?
O DarkHold com certeza teria a resposta que ela procurava, mas tinha jurado não usar aquele poder tentador. Prometido a Natasha e entregado o livro para os magos daquele lugar.
Tinha uma alternativa complicada que poderia tentar. Contatar os protetores do próprio tempo e multiverso. A Agência de Variância Temporal: a AVT.
Mas contatá-los era uma tarefa quase impossível, a menos que infrinja alguma de suas leis. Então o que restava seria o livro maldito que tinha um capítulo inteiro sobre ela.
Ela estava elétrica com a novidade e antes que pudesse fazer uma coisa permanentemente estúpida, se levantou e bateu na porta de Natasha. Para sua sorte, ela tinha passado um bom tempo matutando em seus pensamentos e o Sol estava nascendo lentamente no horizonte.
E como um ser que acorda no primeiro raio de Sol, Natasha estava acordada. Ainda com os cabelos amassados e com cara de sono, mas tinha seus itens de banho em mãos.
— Por que eu não me surpreendo de você já estar acordada?
— É costume – deu de ombros e deu espaço para Wanda entrar. Deixou sua nécessaire na pequena mesinha e foi a procura de um pente. Deveria estar horrível.
— Isso é impossível – Wanda respondeu lendo seus pensamentos, ela estava ainda tão sonolenta que só estreitou os olhos em uma careta para ela.
— O que você faz acordada a essa hora? Você definitivamente não é uma pessoa matutina – Passava o pente no ninho de ratos em sua cabeça. — O que houve? Parece que não dormiu quase nada!
— Tecnicamente, não dormi muito – Wanda deu de ombros não deixando escapar um bocejo. — Lembra-se do que disse sobre os sonhos às vezes serem portais para outros mundos?
Um murmúrio de concordância foi o que obteve.
— Acidentalmente acessei um essa noite – disse enrolando uma mecha de seu cabelo no dedo. — O mundo dela.
Os olhos da Viúva piscaram algumas vezes.
— Eu vou precisar de cafeína para essa conversa.
 
— Okay... – a Viúva já estava na sua segunda xícara de café. — Você teve um sonho esquisito e agora quer contatar dois estranhos de outro universo? Deuses, não tenho como me entediar com você.
— Não são estranhos – replicou. — Um deles é o Pietro!
— Sim, eu tinha ouvido da primeira vez, Wands – ela passou as mãos sobre o rosto. — Mas é como você disse,  eles são de outro universo. Que pode significar qualquer possibilidade em um número infinito. Eles podem nem estar do nosso lado! Afinal, a Feiticeira Escarlate continua sendo irmã dele!
— Eles estavam acorrentados como animais, Natasha!
A ruiva olhou para a determinação de Wanda e suspirou.
— Eu não vou gostar do que sua mente maquiavelicamente brilhante está planejando, né?
Wanda apenas abriu um sorriso travesso.
— Okay. Eu topo!
— Eu nem ao menos disse o que era ainda.
— E precisa? Você não vai fazer o que for sozinha, Maximoff.
— Já disse que te adoro? – a bruxinha se inclinou e beijou a bochecha de uma ruiva estática.
 
— Você só pode estar louca! - Stephen quase sibilou como uma cobra. — Você e o DarkHold juntos novamente é praticamente já declarar o apocalipse!
— Oh, homem de pouca fé! – zombou Wanda revirando os olhos. — Eu o entreguei a vocês como prova de que podem confiar em mim. Entretanto, eu fiquei meses em posse do livro dos condenados. Eu já disse a você que tenho uma memória invejável?
— O livro é poderoso demais, Wanda. Ele corrompe todos aqueles que o tocam. Invade seus desejos mais puros e o deturpam!
— Eu agradeço a preocupação, Wong, mas não estou pedindo permissão – ela sentou-se em uma das poltronas no escritório do Mago Supremo. — Precisamos de ajuda e de conhecimento. Conhecimento sobre nossa inimiga. Você conhece alguma maneira de consegui-lo além da que estou oferecendo?
O silêncio se fez presente.
— Além do mais.... – fez um leve indicar de dedos para a porta que se abriu e Agatha Harkness passou por ela vindo de um portal. — Não estou sozinha. Acho que vocês conhecem uma das integrantes do meu coven.
— A Feiticeira Escarlate não necessita de um coven! - Stephen disse com desprezo.
— Não precisar e ter um, são coisas completamente distintas, caro doutor – Agatha sorria como um gato.
— Você estava em Westview! – continuava tentando achar argumentos. — Você queria o poder de Wanda! Vocês lutaram uma contra a outra, por Deus! Como pode confiar nela?
— Isso são águas passadas. Além do mais, eu e minha abelhinha já nos perdoamos por tentarmos eliminar uma a outra, não é mesmo, querida? – Agatha tinha uma expressão de alegria genuína ao se juntar a Wanda para desestabilizar o mago arrogante.
— Mas é claro que sim, Agnes – Wanda sorriu carinhosamente. — Eu confio em Agatha e ela tem mais experiência com magia do Caos que todos nós juntos, então não seria apropriado desagradá-la com insultos, não concorda, Mago Supremo?
— O que pretende fazer, Wanda?
— Para derrotar minha inimiga, preciso pensar como ela, o irônico é que somos a mesma pessoa. A arte da guerra nunca foi tão literal, não acham? – riu com ironia.
— Isso não é algo engraçado – Stephen dizia entre dentes.
— Você precisa de mais graça em sua vida, Doutor Arrogante, como consegue conviver consigo mesmo? – Agatha se juntava a uma poltrona no lado de Wanda. — Tão sério e tão entediante.
— Ele não tem conserto, Agatha, apenas o ignore.
— Onde está minha criaturinha peçonhenta? – mudou de assunto ignorando os dois magos da sala.
— Natasha está fazendo algumas ligações, ela já chega, não se preocupe.
— Desculpe a intromissão, mas ainda não me disse o que planeja – Wong tentava manter a serenidade.
— Tudo a seu tempo, é claro – Agatha notou um pouco da Wanda que a tirou de Westview. Determinada e misteriosa. — A parte de vocês é me ajudar a ter o máximo de controle e não me deixar ser consumida pelo Caos. Afinal, esse sempre foi o propósito de minha estadia aqui.
— Essa é uma guerra de bruxas, senhores – Agatha declarou com um tom sério. — Não será vencida por truques e magia retirada de livros sobre levitação. Estamos falando de uma guerra contra seres que podem destruir o Cosmos.
— Sendo assim, não posso fugir de meu destino - os olhos de Wanda estavam escuros. — Vou vencer essa guerra como uma Feiticeira Escarlate e nada mais.
— O DarkHold está em um lugar que nem mesmo você poderá pegar – Stephen falou convencido. — Está protegido com os melhores feitiços e proteções feitos pelos maiores Magos já existentes.
Agatha compartilhou um sorriso zombeteiro com Wanda.
— Bobinho, aquele era apenas uma cópia. Podem ficar com aquela velharia. Magos gostam de relíquias velhas, pelo que sei – Agatha disse de maneira calma como se falasse com uma criança.
A cabeça de Strange ficou tão vermelha que Wanda achou que ia entrar em combustão.
Nessa hora Natasha chega olhando minuciosamente para cada um com uma sobrancelha levantada.
— Mandei uma mensagem para Fury, ele tentará contatar a Capitã Marvel, Thor e Hulk que estão fora do planeta – disse totalmente profissional. — Também mandei uma mensagem para a atual Rainha de Wakanda. Marquei uma audiência daqui dois dias.
— Me diga, criaturinha peçonhenta, eles surtaram ao saber de sua volta?
— Você não tem ideia, Agnes – Natasha sorriu abertamente para a bruxa.
— Ao que me parece, vocês têm tudo planejado – Wong estava claramente desconfortável. — Por que vieram a Kamar Taj afinal?
— Porque precisávamos que confiasse em nós – Natasha se adiantou. — Vocês ainda são os guardiões desta realidade e tê-los como aliados é fundamental nessa guerra.
— Dá-los o Livro dos Condenados foi nossa oferta de paz – Wanda falou séria. — Sua oferta de ajuda não foi menosprezada, Wong. Foi apenas uma surpresa agradável.
— O que você viu na Dimensão Espelhada?
— Vi o que não quero me tornar – ela se inclinou para pegar  na mesinha de centro um copo de whisky, precisava de algo forte. — Um monstro que nem minha variante.
— Descreva com o máximo de detalhes possíveis, se puder.
— Não será preciso – com um movimento de dedos e magia, a visão foi compartilhada com todos. — Eu não quero me tornar uma conquistadora, quero ser o apogeu de uma.
Wong e Stephen se olharam.
— A mistura que tomou tinha uma particularidade, revela-se o que deve ser combatido e às vezes tem propriedades premonitórias – o Mago Supremo revelou. — Pelo que me revelou com nossas conversas, a Feiticeira Escarlate já fez contato com esse universo, através de você e Natasha por meio de sonhos.
— Exatamente – Natasha concordou. — Ela agia como nossas piores inseguranças, incitando desconfianças e medo.
— Não há feitiço onírico tão poderoso que seja capaz de ultrapassar dimensões, não um que tenha sido criado ainda —  Strange parecia petrificado. — Ela não usou a Dominação Onírica, não tentou controlar seu corpo, por quê?
— Porque se tivesse feito isso... - Agatha concluiu. — Teria aberto uma janela para que Wanda fizesse o mesmo com ela.
— Ela não me quer bisbilhotando sua mente, mas ao fazer isso, ao entrar na minha mente seja com qual magia tenha usado, ela deixou uma trilha para que eu chegasse até seu mundo, mesmo que através dos sonhos – Wanda precisou tomar um gole duplo do líquido âmbar. — Foi descuidada.
— Precisamos reforçar as defesas de sua mente – Wong disse firme. — Se ela pode entrar em seus sonhos e perceber que possivelmente pode fazer o mesmo com ela, isso não a deixará feliz e ela poderá tentar incapacitá-la.
— Quando a vi, ela não me parecia perturbada ou corrompida por Chthon. Maligna sim, mas parecia no total controle de si mesma – Wanda apresentou sua ideia. — Me digam: Há alguma forma dessa variante ter derrotado Chthon e absorvido seu poder?
Foi a vez do Mago Supremo ficar pálido.
— Se ela tiver conseguido fazer esse tipo de Magia Negra... - ele parou horrorizado com a ideia. — Que Deus tenha piedade de nós.

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