Capítulo 26

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— Meditação? Está falando sério que esse é o método mais eficaz de aumentar as defesas de minha mente? – Wanda realmente esperava mais.
— Creio que nunca meditou realmente, se fala dessa maneira – Wong quase puxava a orelha de Wanda que às vezes parecia mais uma criança do que o ser mais poderoso do universo.
— Natasha já tentou me ensinar, okay? Não deu muito certo.
— Tentar é uma boa palavra para descrever – a Viúva já estava em posição borboleta, com as costas eretas e as mãos em cima dos joelhos. Postura nada   menos que perfeita. —  Wanda tem uma mente muito hiperativa, nunca conseguiu ficar mais que três minutos em silêncio.
— Isso claramente tem que mudar – o Mago Supremo estendia duas xícaras de chá de pêssego para elas. — Meditação é treino. A prática de se concentrar no presente, silenciar a mente e descobrir seus segredos.
— Confesso que desde que recebi uma porção do poder de Wanda, não consegui mais meditar, aqui dentro é literalmente um caos -  Natasha confessou.
— Pelo menos me entende agora!
— O objetivo da meditação para esse propósito é criar labirintos mentais. Deixá-la deveras difícil de se acessar.
— Como resistir a tortura? – não foi surpresa isso ter saído da boca de uma Viúva  Negra.
— É uma forma de se ver o todo - Wong tomou as xícaras vazias de suas mãos. — Tentem achar seu lugar de paz em sua mente. Pode ser uma lembrança ou um sentimento. Agarrem-se a ele e mantenham-se fortes.
Os olhos de ambas se fecharam.
— Lembrem-se da respiração. Fluída e ampla. Usem todo o sistema respiratório, meninas.
Wanda começou a contagem de uma respiração, uma que usava para se acalmar em crises de ansiedade que geralmente resultavam em sua magia descontrolada.
Inspirou pelo nariz, segurou por poucos segundos o ar nos pulmões, mantendo-os cheios e soltou lentamente pela boca.
Sua mente era um fluxo de pensamentos distintos. Tinha sua preocupação consigo mesma, a preocupação de salvar do mundo, a possibilidade de rever uma variante de seu irmão, a ideia de guerra onde pessoas morreriam, a possível destruição do mundo.
O medo de perder novamente pessoas que aprendeu a amar.
— Controle a saída e entrada de ar, Wanda – a voz do Mago era quase longínqua. — Você está a salvo.
Por um momento pensou o porquê dessa frase, ela forçou a sentir seu corpo, cada pedaço dele, dos dedinhos do pé aos fios de cabelo de sua cabeça.
Foi então que percebeu que estava levitando. Não estava mais no tapete de yoga. Estava voando uns vinte centímetros do chão sem ao menos perceber.
Ela sentia uma áurea vermelha fluindo em seu corpo, era sua magia, linda e rubra, passando por suas veias como eletricidade.
Entendeu o comando do Mago.
Sua magia estava fluindo através dela em resposta as suas inseguranças. Mesmo com os olhos fechados, poderia sentir que em volta de si havia uma circunferência perfeita de seu poder rodeando ela. Reagindo. Tentando protegê-la de si mesma.
Estamos bem, não há perigo! - pensou e aquela eletricidade passou a ser como uma brisa quente a envolvendo
Respire, está tudo bem.
Ela tentou pensar em algo que deixaria sua mente calma, um lugar seguro para trazê-la sempre que necessário, algo forte e estável.
Não demorou muito para encontrar seu lugar feliz.
No mesmo instante, sentiu seu corpo voltar ao chão e ela abriu os olhos calmamente.
Natasha e Wong a encaravam perplexos.
— Encontrei meu lugar feliz - disse com um sorriso sereno. — Tem razão, Wong, isso pode ser relaxante.
— Que bom, menina, você nos assustou!
— Minha magia é ligada às minhas emoções. Então quando me pediu para me ouvir e sentir, minha magia reagiu como se tivesse em perigo.
— E você retomou o controle – Natasha sorria orgulhosa para ela. — Bom trabalho, Wands.
— E você, conseguiu?
— Fiquei muito distraída com você saindo do chão e sua magia a guardando como um receptáculo.
— Então vamos lá, agora contigo.
Natasha demorou um pouco mais que Wanda nesse processo, que tomava mais chá com Wong enquanto a ruiva trabalhava. Ela realmente amava chá.
Não houve flutuação da parte da Víúva, mas sua magia também se descontrolou. Os ventos ficaram fortes quase depenando completamente a árvore magnífica que ficava no pátio.
Dava para enxergar nas órbitas fechadas de Natasha a agitação de seus olhos. Até que a magia característica amarelada de Natasha entrou em ação. Ela não formou uma bola ao seu redor, mas círculos de chamas amarelas que voavam rapidamente a sua volta.
Wong mais uma vez se assustou, mas foi a voz de Wanda que trouxe paz à ruiva.
— Você está bem, Nat, eu estou aqui com você. É só um pouco de magia. Nada demais! – a voz guiava a Viúva para fora daquele tormento.
E lentamente as chamas foram se apagando e Natasha abriu os olhos com as íris douradas como ouro líquido.
— Eu tinha esquecido da sensação de usar magia – ela ergueu a mão e as mesmas chamas douradas passearam entre seus dedos graciosas. — Nunca lhe agradeci por esse presente, Wanda.
A outra apenas assentiu alegre.
— Fico feliz que tenha gostado do meu efeito colateral não desejado – ela se encolheu levemente, mas estava feliz.
— Isso foi um belo espetáculo – Agatha bateu palmas enquanto saía das sombras. — Meninas, preciso falar com vocês em particular.
— Eu tenho aulas para dar, fiquem a vontade – Wong disse e observou as duas aprendizes. — Vocês foram bem, mas precisam treinar todos os dias a meditação. Torná-la um hábito. A construção dos labirintos mentais falaremos em uma próxima vez!
— Vamos para um lugar realmente reservado. Eu não duvidaria que essas paredes possuam ouvidos – a bruxa mais velha virou a mão e um vórtice de Caos se ascendeu rodopiando. — Sentem falta de casa?
 
Wanda praticamente começou a dar pulinhos de alegria ao ver o castelo medieval e seu imenso pomar de maçãs. Natasha ria dela e Agatha balançava a cabeça em negação.
— Vamos para o mirante do castelo! – Wanda simplesmente se teletransportou para ele com excitação. —  Eu senti falta dessa vista – suspirou olhando para o céu e suas preciosas árvores que exalavam um cheiro maravilhoso de maçã.
— Isso é uma injustiça! – a ruiva apareceu subindo as escadas. — Eu ainda não sei me teletransportar!
— Iremos te ensinar, eventualmente, é claro – Agatha tinha acabado de aparecer naquele pequeno pedaço de paraíso. — Ainda não chegou nesse nível, criaturinha peçonhenta.
— Então, Agnes, por que estamos aqui? – Wanda nem ao menos se sentou, ficou apenas escorada no beiral.
— Morgana Pendragon entrou em contato comigo há dois dias – Agatha optou para um espreguiçadeira. — Desde o inicio ela se interessou pelo nosso pequeno Coven, apesar de nunca ter se ajustado em um.
— O que ela quer? - Natasha acompanhava Wanda vendo a vista, todavia bem atenta.
— Se juntar a nós.
— Isso seria uma boa coisa? – Wanda perguntou para o membro mais velho do grupo. — Você mesma disse que ela não era confiável.
— Morgana é uma bruxa muito poderosa e antiga. Uma lenda! Quase tão mito quanto você, Wanda – Agatha fez surgir um Martini em mãos. — Séculos de vida e experiência. Mais habilidosa nas Artes das Trevas do que eu. Se ela seria um bom adereço? Com certeza!
— Por que sinto um porém? – a Viúva olhou diretamente para Agatha.
— Ela definitivamente é alguém imprevisível. Odeia mentiras, mas possui suas próprias artimanhas. Não é boa e nem má. É alguém que segue seu próprio caminho e curiosamente ela quer cruzar o dela com o nosso. – bebericou alegremente sua taça. — Confesso que estou intrigada.
— Estamos em guerra, não estamos? – Wanda ainda permanecia com os olhos no horizonte.— Uma guerra onde magia é fundamental. Se ela quer entrar para nosso Coven, que pelo menos se apresente.
— Concordo, mas não me peça para confiar nela cegamente – a ruiva avisou.
— Seria uma tola se o fizesse, criaturinha peçonhenta – a morena deixou a taça de Martini de lado. — Enviarei uma mensagem a Morgana.
Agatha se levantou e adentrou o castelo, para mandar uma mensagem de fogo.
— Senti falta desse lugar, mesmo que tenha passado semanas fora.
— Semanas, é?
Natasha encostou os ombros nos de Wanda, abrindo um sorriso de lado.
— Semanas torturantes em que certa bruxinha me ignorava - acusou com certa tristeza.
— Tenho certeza que você mereceu o tratamento.
— Talvez, mas ela não me abandonou completamente. Acho que nunca o faria de verdade - suspirou a última parte e os olhos de Wanda se encontraram com os dela. Estavam verdes clarinhos por conta da luz. Lindos e intimidantes.
— Nisso você tem razão – Wanda pegou a mão da outra e começou a brincar com os dedos longos e delicados. — Eu poderia estar brava e triste, mas nunca negaria ajuda a você. Eu te mandei embora e todos os dias desejei que voltasse para casa – sua voz desceu alguns tons. — Voltasse para mim.
Natasha se virou de lado e puxou Wanda para seus braços. Abraçando sua cintura enquanto as mãos dela repousavam em seu pescoço.
— Eu quis voltar antes mesmo de ir embora - apertou sua cintura, provando para seu corpo que a bruxinha estava ali. — Eu pensei que me sentiria o mais próximo do que fui se estivesse longe de você. Eu achava que ansiava aquilo de volta.
— E o que descobriu? -  a voz de Wanda só era ouvida pela proximidade das duas. Era um fiapo de som.
— Que odiava me sentir daquela forma. Sentir a falta de sua presença física e mental me quebrou completamente, eu tentava te chamar, pensava em você, queria compartilhar coisas com você – ela subiu a mão até encaixar no rosto da mulher que mais desejava. — Mesmo estando cercada de pessoas que eu amava, a sua ausência era como um vazio permanente.
— Você vai saber por Agatha de qualquer forma, mas meu humor não ficou dos mais radiantes sem você – ela olhou em volta. — Meu humor modificou todo esse lugar. Perdeu a cor.
— Nunca mais me mande embora, Wanda – seus dedos faziam carinho no rosto dela. — Eu não iria suportar.
— Quem diria, Natasha Romanoff, melodramática. – Wanda tirou sarro rindo e a outra bufou.
— Cale a boca! – pediu rindo também e os olhos de Wanda emitiram malícia.
— Estou esperando você me calar - ergueu a sobrancelha e a mão de Natasha desceu para sua nuca, puxando levemente seu cabelos.
— Pensei que não ia pedir nunca! – falou e a beijou intensamente.
Com os lábios firmes e ágeis, Natasha tomou a dominância de Wanda. Reivindicando sua boca para si. Tomando-a sem deixar a outra reagir. Era exigente. Necessitava de cada pedacinho que pudesse tomar.
Wanda apenas se apertava à mulher que lhe possuía apenas usando os lábios e a língua. Estava a sua mercê. Entregue para a sua Víúva. Novamente e finalmente aqueles lábios estavam sob os seus.
Ofegando, as duas se separaram com os lábios inchados pela força exercida e bochechas coradas.
— Seu beijo... - Natasha sorria largo pegando o ar. — Foi a coisa que mais senti falta. Definitivamente!
Os olhos de Wanda brilharam divertidos.
— Se mantenha na linha e quem sabe consegue mais - o olhar de Natasha pegou fogo.
— Você sabe que sou uma menina má.
Wanda riu e a empurrou de seus braços.
— Ah, eu estou torcendo por isso! -sussurrou com malícia e desapareceu em fumaça vermelha.
Natasha xingou e colocou a mão no coração que parecia ter saído dos trilhos como um trem desgovernado.
 
— Yelena quer me matar por não saber exatamente onde estou – largou o celular de lado.
 Natasha estava em um dos cômodos feitos como sala de estar, sendo essa a mais privativa por conta de ser também onde guardavam os grimórios em meio a uma coleção gigantesca de livros pessoais das três pessoas moradoras do castelo. Era mais uma enorme biblioteca mágica com passagens secretas.
No momento estavam na seção reservada para o trio, a seção dos grimórios, em um cômodo oculto dentro da própria biblioteca.
Ali era o lugar mais provável de se encontrar certa bruxinha ruiva. Assim como a estufa era o de Agatha, o seu mudava bastante, mas a academia e o mirante do Castelo seriam bons lugares para se começar.
— Ela é sua irmã, é natural que se preocupe – Wanda estava em uma das mesas de mogno com pelo menos cinco livros abertos e algumas folhas para anotação. — O reencontro de vocês, como foi?
— Eu deixei ela me bater, ou quase isso - riu e os olhos de Wanda se ergueram dos livros. — Somos bastante físicas quando queremos demonstrar raiva, sabe disso.
— Isso não me surpreende - suspirou.
— O que está lendo?
Wanda por um momento não respondeu, então segurou a ponte de seu nariz com certa frustração.
Leis Multiversais, volume 1 – ela ia pegando os livros para lembrar-se dos títulos. — O que é o tempo?, de Ragnor Fell; Tipos de Magia, de Elisabeth Kelperman; Viagens Interdimensionais, de Howard Stand e Poções, de Agatha Harkness.
— Uau, leitura leve! Está lendo todos de uma vez? – a ruiva se impressionou. —  Eu estou te atrapalhando, não estou?
— Você não me atrapalha nunca, mas eu realmente preciso me concentrar aqui.  
— Certo, me indica algum livro para iniciantes?
Wanda se levantou e buscou com o dedo apontado para a estante, num momento um livro voou até sua mão.
— Conjuração para iniciantes, de Eleanor Black -  entregou para Natasha. — Não é tão simples quanto parece. Depois desse, tem mais sete volumes dessa mesma autora.
— Tudo bem então! -  Wanda voltou para a cadeira. — Só por curiosidade, quantos livros você já leu daqui?
— Pelo menos uns 150 da coleção particular de Agatha – colocou a mão no queixo. — Mas eu trapaceio com minha forma astral para ler  e praticar,  então não é uma surpresa tão grande. E eu precisei me dedicar muito para te trazer de volta – deu de ombros como se não fosse nada demais.
— Forma astral é legal, quando vou conseguir chegar a esse nível? Você não precisa estar inconsciente para que funcione a entrada para o Plano Astral?
— Para a grande maioria das pessoas, sim – ela tinha  um ar convencido. — Eu posso perambular pelas realidades sem essa necessidade. Quem sabe algum dia você também consiga. Afinal, você tem parte de meu poder. Mas agora: Conjuração para iniciantes, Natasha! – lhe apontou um dedo para a poltrona.
A Viúva bateu continência e marchou para a poltrona, fazendo Wanda quase sair do seu modo dominante e concentrado, quase. Ela amava sentir que tinha certo poder sobre a pessoa que tinha poder sobre todos que a conheciam.

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