Capítulo 15

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— Natasha! – ouviu seu nome, mas mesmo sentada na cama toda molhada, ela se sentia ainda presa em sua própria cabeça, seus olhos abertos estavam desfocados pela quantidade de lágrimas. Seu peito subia e descia desenfreado e soluços doloridos ecoavam pelo quarto. — Natasha, por favor, volta para mim! – a voz tornou a falar mais alta, a chacoalhando pelos ombros com força.
De alguma forma aquilo a fez voltar para si e focar na mulher com os olhos desesperados a sua frente. Era Wanda, é claro. Ao olhar para ela, uma parte antiga quis reprimir tudo, guardar para si, mas os olhos verdes da feiticeira a fizeram desmoronar. Ela... Amava aquela mulher e estava cansada de esconder, fingir que era impenetrável e insensível.
Ela iria se jogar em Wanda a procura de abrigo e proteção, mas não precisou. A maior fez isso primeiro, a acolhendo em seus braços protetores, firmando o corpo trêmulo de Natasha no calor de seu próprio corpo. A ruiva suava, mas estava gelada. Isso fazia a bruxa passar as mãos por suas costas tentando a acalmar e a esquentar com a fricção.
— Está tudo bem, Nat. Já passou... - sussurrava a pé de seu ouvido baixinho nem ligando para a magia dourada espalhada pelo quarto que lentamente sumia a medida que sua portadora se acalmava. Wanda tinha sentido o desespero de Natasha, muito antes de sentir os tremores no próprio castelo causado pela liberação desenfreada de magia de forma inconsciente.
Era realmente muito parecido com as crises que tinha no passado. Ela correu até o quarto com a sensação de que a mulher estava em grande perigo, mas não entrou em sua mente. Quando conseguiu abrir a porta que parecia estar pregada na parede, apesar delas sempre dormirem de portas abertas, o que Wanda viu foi assustador.
O corpo de Natasha paralisado em sua cama, a cama toda molhada do suor e a expressão de pura dor no rosto adormecido da Viúva. Nem precisava dizer que de seu peito saía magia dourada e o quarto estava estremecendo, o ar estava ficando rarefeito ao mesmo tempo que tinha grandes rajadas de magia que destruía tudo que tocava. A situação estava crítica e Wanda iria intervir, entrando em seu pesadelo, mas quando ia quebrar sua privacidade, Natasha acordou gritando e se sentado de uma vez na cama totalmente atordoada.
Ela sentia Natasha se apertar em seu enlaço, seu peito estava subindo mais devagar e a magia estava quase nula. Tinha certeza que ela nem tinha visto o estrago causado naquele cômodo, mas Wanda arrumaria depois. O mais importante para ela estava ali em seus braços, se permitindo ser vulnerável.
<...>
Wanda guiou Natasha ao banheiro e colocou a água da banheira para encher. Adicionou sais de banho para fazer alguma espuma. Estava tão concentrada em sua tarefa que não viu que  a própria Natasha não se importou nem um pouco de tirar a roupa na frente dela, Wanda quando se virou para trás quase teve um mini ataque cardíaco, mas se controlou pelas circunstâncias.
Ela estava se mostrando completamente desnuda àquela situação e não, a representação física disso não era nada comparado ao que Natasha estava permitindo Wanda ver. Ela sabia que a nudez nunca foi um incômodo a Viúva, seu corpo era parte de um conjunto de habilidades, uma ferramenta na visão dela, então era mais uma coisa do que um corpo. Isso chateava Wanda de um nível que Natasha nem poderia imaginar.
Natasha foi usada de tantas formas no passado, que esse corpo novo, apesar de nenhuma marca física, carregava memórias e uma alma calejada de cicatrizes que nem Wanda seria capaz de curar com todo o seu poder.
A mais velha entrou quando a água estava num nível adequado e Wanda fechou a torneira, já se virando para ir embora, quando foi parada, a mão de Natasha a segurava. Seus olhos seguiram para os dela, o corpo tão belo tampado pela espuma e o banheiro já tomado por uma névoa quente.
— Fique – a voz baixa de Natasha era quase inaudível e como poderia recusar àqueles olhos perdidos e doloridos? Então se sentou na beirada da banheira. A mão de Natasha soltou seu pulso, mas segurou sua mão, como se necessitasse do contato. Wanda não reclamou.
O silêncio era um pouco agitado, a Viúva parecia tão pequena dentro daquela banheira, mas a mais nova iria respeitar suas vontades.
— Me deixe lavar seu cabelo – pediu e a outra sinalizou com a cabeça.
Wanda passou para a parte de trás, procurou os produtos de higiene de Natasha e se colocou a fazer o que tinha se prestado. Colocou o shampoo cheiroso que deixava as madeixas da mulher tão vistosas e exalando perfume na mão e passou a esfregar delicadamente o couro cabeludo de Natasha. Era gostoso o contato e os dedos de Wanda eram relaxantes para Natasha.
Ela nunca tinha se permitido estar assim com ninguém. Isso era extremamente novo, ela sentiu quando Wanda pegou água da banheira e levou em conchas a sua cabeça retirando o produto. Wanda tinha uma delicadeza impressionante ao mesmo tempo que era firme em seus movimentos. Depois sentiu o cheiro de seu condicionador pelo ambiente antes do massagear lento no comprimento de seu cabelo.
Natasha esperou Wanda terminar aquele carinho e iria agradecer, quando sentiu suas mãos descerem pelo seu pescoço e ombros. Foi inevitável o arrepio que sentiu até a ponta de seus pés.
— Está tensa, incline-se, por favor. Vamos dar um jeito nisso – os cuidados de Wanda não paravam e Natasha o fez, abaixando o pescoço para sentir a melhor massagem que um dia recebera.
Naquele momento tão envolta de cuidado e carinho que não era acostumada, Natasha se sentiu importante e amada. E esse pensamento fez com que ela despertasse do estado de estupor que se encontrava. Será que algum dia seria correspondida por Wanda?
— Obrigada, Wanda – conseguiu dizer com o relaxar dos caroços que tinham se formado em seu pescoço e ombros. — Posso me cuidar daqui em diante – falou e as mãos de Wanda pararam de se movimentar, mas continuaram na curvatura de seus ombros.
— Fique mais um pouco e relaxe – Wanda disse. — Vou preparar um chá de camomila para você, pelo menos nisso eu não sou um desastre – sussurrou em seu ouvido quase risonha e Natasha sorriu levemente concordando.
Wanda queria mesmo é reparar todo o quarto de Natasha antes que ela saísse do banheiro, depois ela faria o chá. A Viúva não precisava se preocupar com aquele estrago agora. Seja lá qual fosse o pesadelo que a deixou assim, já era experiência bastante para uma noite.
<...>
Quando Natasha saiu do banheiro de roupão, seu quarto estava com cheiro de limpeza, sua roupa de cama estava trocada e limpa, um conjunto de preto com branco bem bonito em listras finas. Wanda com certeza a conhecia. Combinava com a decoração quase minimalista do quarto dela, não estava acostumada a acumular objetos, não foi ensinada a isso. Tinha o necessário que pudesse carregar consigo a qualquer lugar que fosse e geralmente nunca parava tanto tempo no mesmo lugar. Sempre em movimento.
Talvez esse castelo fosse a primeira vez tirando o Complexo que via como trabalho, que ela estivesse realmente a criar raízes.
Colocou uma camiseta preta comprida e uma calcinha, alçando o roupão cinza felpudo na cintura novamente. Aquele lugar poderia ser bastante frio, estava para descer as escadas, quando ouviu um bater na porta antes dela ser aberta.
— Servida? – Wanda trazia uma bandeja de prata com um bule e duas xícaras de porcelana pintada. Sim, aquele lugar era extremamente luxuoso e pensado em cada detalhe. Ao mesmo tempo que combinava o gosto de três pessoas distintas. — A noite está bem agradável hoje. Gostaria de tomar o chá na minha varanda?
— Claro – respondeu sorrindo com o quanto Wanda mantinha uma conversa amena mesmo que a própria Natasha sentisse sua curiosidade pulsar através dela. A bruxinha a respeitava, mesmo que tivessem se aproximado bastante e a relação delas saído de mero professor e aluno.
O quarto de Wanda era imponente, a cama tinha um dossel de carvalho escuro e a roupa de cama bagunçada era de um vermelho-sangue. As paredes decoradas com quadros de paisagens bem colocados. Uma pequena prateleira com que imaginou ser os grimórios mais recentes que ela estava estudando no canto com uma poltrona confortável. O quarto era a cara dela.
— Venha – escutou ela lhe chamando à varanda e quando a seguiu passando pelas portas de vidro envoltas por uma cortina grossa e escura. Natasha perdeu o fôlego, ela sabia que Wanda tinha muito controle do que acontecia no HEX, isso incluía o céu. Hoje ela tinha se superado. Era como estar no deserto, conseguia ver tudo claramente, até mesmo a Via Láctea.
—  Noite agradável? – Natasha conseguiu rir. — Wanda, isso é incrivelmente lindo!
— Achei que iria gostar – deu de ombros. — Sente-se – apontou para as cadeiras dispostas na varanda. A beirada dela estava exalando um perfume gostoso por conta das violetas que cresciam junto às heras do castelo. Ali era um lugar muito aconchegante.  
 Natasha se sentou e a outra serviu o chá. Ela pegou a xícara morna e viu o vapor saindo dela. Ela era mais da cafeína a chá, porém aquele momento combinava com a bebida. Somente perderia para um bom vinho.
— Se quiser podemos mudar a bebida, Natasha – escutou Wanda e ela virou o rosto rapidamente para ela. — Pensamentos altos, lembra? Eu tenho que me controlar demais quando estamos perto assim e você tem esse tipo de pensamento que é junto com um desejo. Isso faz o meu trabalho quase impossível.
— Não se preocupe, Wanda, daqui a pouco serei eu a ler seus pensamentos – disse brincando, mas realmente não se importando com esses deslizes, Wanda não era de invadir mentes por diversão. Pelo menos não a sua.
— Vinho, então? – perguntou e Natasha sorriu, fazendo a outra balançar a cabeça e menear com a mão envolta em magia, logo o bule e as xícaras sumiram dando lugar a um vinho português e duas taças, sendo que uma já estava na mão da Viúva servida.
— Você tem um apreço muito grande por astronomia – observou Natasha levando a taça a boca e erguendo seus olhos ao céu esplêndido e particular a elas duas.
— Pietro costumava me ensinar as constelações e contar suas histórias – confessou baixinho. — Dormíamos na rua e o céu era uma consolação a noite fria e aos estômagos vazios.
— Fazia tempo que não mencionava seu irmão – disse com cautela. — Ele deveria ser um cara incrível.
— Ele era sim... – a voz dela ficou baixa, mas seus olhos continuavam no céu. — Olhando o céu eu posso imaginar ele ao meu lado, ouvir sua voz distante e baixa, contando sobre as estrelas. Observando-as me sinto próxima a ele.
— Eu e Yelena costumávamos caçar vagalumes pelo mato – Natasha resolveu se abrir. — Ela era fascinada por aqueles bichinhos luminosos. Sempre que vejo um ou ouço o cantarolar de um pássaro, me sinto próxima a ela.
— O assobio de vocês – lembrou Wanda sorrindo por detrás da taça.
— Foi criado por gostarmos muito de ouvi-los cantar.
A conversa que tiveram naquela noite continuou nesse nível, com lembranças regadas a vinho e um contemplar divino daquele céu.
Se fosse um encontro, Natasha diria que Wanda elevou qualquer nível dos que tivera. Estava perfeito. A noite, a conversa, as garrafas de vinho que apareciam magicamente e possivelmente eram infinitas.
Ela quase não lembrava do que as levou àquela varanda, quase, quando o bocejar pela quantidade de vinho tomado foi inevitável, Natasha começou a ficar tencionada e tudo iria começar a desmoronar na frente dela se Wanda não tivesse entrado em seu campo de visão, tomado a taça vazia de sua mão e a erguido.
— Venha, precisamos descansar e hoje você dormirá aqui comigo – avisou e Natasha não se surpreendeu.
É claro que Wanda saberia que ela estava com receios de mais pesadelos e não a deixaria sozinha. É, se fosse um encontro, Wanda estaria sendo a companhia perfeita.

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