Capítulo 16

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Wanda ergueu as cobertas grossas e quentes se deitando e convidando Natasha a acompanhar, ela o fez, quase tímida. Não era uma situação nova. Faziam isso sempre na casa de Clint, mas algo tinha mudado. Tudo, na verdade.
A cama era grande e do jeito que Natasha gostava, não era macia, mas nem era dura, apenas firme. Elas se viraram e ficaram de frente uma para a outra, com apenas a luz da Lua iluminando o quarto por frestas da cortina escura da varanda de Wanda.
— Eu sinto falta de Yelena – confessou Natasha depois de um tempo em silêncio só observando o rosto da feiticeira. O vinho fazendo seu efeito de deixá-la mais solta. — O pesade... O sonho... - se corrigiu. — Tinha a ver com meu passado.
Wanda suspirou fundo e fechou os olhos levemente antes de voltar a encarar o rosto da mulher a sua frente na penumbra na noite.
— Entendo...
— Quando vou estar pronta para sair do HEX? – perguntou algo que realmente se passava pela cabeça dela o tempo todo.
— Isso vai depender de você, Nat – a voz de Wanda continha cuidado e estava escolhendo o que dizer. — Mas entenda, o mundo não está preparado para a sua volta.
— Como assim?
— Existem tantas complicações... – se virou para encarar o teto. — Eles vão querer saber como você voltou a vida. Vão especular mil e uma teorias. E quando ligarem tudo a mim, a quem eles sempre temeram, as coisas vão ficar feias...
— Você não fez nada de errado ao me trazer de volta, Wanda! Não quebrou nenhuma regra estúpida – Natasha tentava entender a linha de raciocínio.  
— Eu sei disso, você sabe e Agatha também, mas só – seu olhar se voltou para a Viúva. — Kamar Taj espera somente um deslize meu para tentar me prender.
— Os magos? Por quê? – a testa de Natasha estava fincada.
— Existe uma profecia milenar que diz... Que a Feiticeira Escarlate irá governar ou aniquilar o Cosmos – disse o que tanto temia, mas ela precisava saber. — Agora não existe apenas uma vivendo nessa realidade, mas duas, mesmo que tenha se originado de mim. Nosso poder, Natasha, supera o do Mago Supremo, nós temos o poder da criação espontânea, de destruir moléculas átomo a átomo, um poder que vão querer controlar e ter para uso deles.
— Você não me trouxe a base de Necromancia, você dividiu sua essência comigo, uma parte insubstituível de si. Isso não devia ser visto como um crime! – contra-atacou defendendo as ações de Wanda e isso fez a mesma sorrir de leve. Pelo menos isso tinha mudado com o decorrer do tempo.
— Eles me temiam e queriam me trancar antes quando eu era uma simples menina assustada, quem dirá agora que provei que nem a morte é capaz de me deter, Natasha – continuou mantendo a calma. — A única coisa que impede Kamar Taj ou qualquer outro que tente me machucar de me achar é o HEX, ele é embebido em magia de proteção e nos deixa invisíveis a qualquer sinal de rastreamento. Muito diferente do imperfeito em Westview.
— Então isso não é uma prisão, é uma fortaleza – concluiu e Wanda riu.
— Se considerar que não podemos sair sem que nossa magia seja rastreada, a fortaleza se torna a prisão de quem protege – sua voz soou melancólica. — Você vai precisar treinar para que nada possa te machucar quando sair desses muros. Eles vão tentar te capturar, te estudar e te usar para chegar até mim.
— Eu nunca te trairia! – a voz de Natasha cortou a noite fria e Wanda ousou se aproximar dela. Enlaçando seu corpo e suas pernas. Era um toque agradável para a temperatura que fazia que lembrava muito o país de nascença de ambas.
— Eu sei que não, Nat – Wanda sussurrou. — Você nunca o faria voluntariamente, mas os magos podem dar um jeito de entrarem em sua mente. Strange não gosta de mim e eu tão pouco gosto dele. Tenho medo de suas intenções mudarem quando descobrir o que eu fiz, que use seus ideais distorcidos para fazer o que bem entende.
— Eu o mataria por isso! – rosnou a Viúva e Wanda teve um vislumbre de seu olhar assassino. — Eu não vou deixar ninguém nos machucar, Wanda!
Wanda teve que admitir que seu peito ficou quente com a ferocidade de Natasha, mas não era hora de conversas.
— Chega de conversa por agora – a voz de Wanda veio com um beijo depositado na testa de Natasha. — Eu vou estar aqui, o tempo todo. Pode descansar, Nat.
— Essa conversa ainda não acabou – Natasha estava sem jeito e Wanda meneou com a cabeça erguendo os braços para que a Viúva se encaixasse em seu peito para dormir.
<...>
Quando Natasha acordou na manhã seguinte, Wanda não estava mais no quarto, seu espaço na cama estava gelado, o que significava que fazia tempo desde seu despertar. A ruiva se levantou sem preguiça e foi até as grossas cortinas, se surpreendendo com o Sol já no alto. Ela dormira tanto assim? E sem nenhuma perturbação.
Depois de ir até seu próprio quarto que parecia tão frio visto ao da Feiticeira que exalava calor, fez suas higienes pessoais e colocou uma nova roupa. Desceu a cozinha e viu uma garrafa de café juntamente com aquelas bandejas chiques de hotéis cinco estrelas.
Ela sorriu, é claro que Wanda tinha preparado seu café, mesmo que não tenha usado a cozinha para isso. Comeu e foi a procura da mulher que era realmente encantadora quando estava cuidando de alguém, ela podia sentir o carinho em cada ação.
Pensou em sair pelo grande castelo, revistando cada cômodo, mas decidiu fazer diferente.
— Vamos, Natasha, você consegue! – sussurrou como um incentivo e visualizou o castelo em sua mente, ela já tinha decorado cada canto dele, agora era só procurar por Wanda em sua mente. Se conseguisse se concentrar o bastante e lembrar das palavras em latim que Agatha tinha lhe ensinado, não precisava dizer em voz alta, só entoar em sua mente. — E você continua me surpreendendo, Wanda – sorriu quando conseguiu executar o feitiço com perfeição.
A bruxinha estava no último lugar que esperava, na academia. Quando chegou ao cômodo, a viu de costas vestida apenas com um top preto, shorts curtos de academia da mesma cor e tênis apropriados. Cabelos presos num alto rabo de cavalo. Wanda não a percebeu de imediato, ou se percebeu não se virou, Natasha diria que ela estava num treinamento físico a um bom tempo.
Os músculos das costas que via agora estavam definidos, assim como os bíceps que se contraíam ao movimento dela de levar a garrafinha de água à boca. Desceu os olhos e quase corou, mas continuava com a malícia presente a ela. Aquelas pernas e quadris a perseguiriam em pensamentos, tinha certeza.
— Acho que vou precisar de mais água depois dessa secada, Natasha – ouviu a voz dela risonha e quando se virou, Natasha não se fez de rogada, continuou sua inspeção e amou o que viu — Não achou que eu treinava apenas feitiços, ou achou? – a sobrancelha arqueada de Wanda a desafiava a tirar os olhos fixados naquele abdômen definido na medida certa.
— Só estou arrasada que nunca vi você treinando antes – Natasha ergueu seus olhos para os da feiticeira. — Com certeza é um espetáculo hipnotizante! – fez biquinho e Wanda gargalhou.
  — Sempre tão encantadora, Srta. Romanoff – Wanda pegou uma toalha de rosto que estava em um dos equipamentos e passou pelo rosto suado. — Mas agora eu preciso de um banho.
— Ah, deixe essa pobre mortal ter essa visão por mais alguns minutos, Wanda – seu tom era provocante e baixo. — E você nem deu meu bom dia! – acusou de novo com os lábios proeminentes para fora.
— E como você quer o seu bom dia, Nat? – Wanda entrou naquele joguinho tão familiar entre elas depois de um tempo.
— Eu ainda não tomei meu banho matinal – comentou descaradamente e piscou um olho.
Wanda não pode evitar uma leve coloração nas bochechas, mas não deixou se abalar.
— Ninguém aqui está te impedindo, minha querida, mas você nem ao menos fez seu treinamento matinal – se aproximou alguns passos e parou bem ao seu lado. — Não seja preguiçosa, Natasha – disse e virou o rosto de sua antiga treinadora depositando um beijo bem próximo ao canto de seus lábios. — Bom dia para você – sussurrou no ouvido da Viúva e simplesmente sumiu da academia, se teletransportando.
— Filha de uma... Mãe muito boa! – Natasha resmungou quase xingando se direcionando à esteira.
<...>
 O treino de Natasha se baseou mais em cárdio e um pouco de levantamento de pesos, não queria admitir, mas sua cabeça estava em Wanda e isso a atrapalhava em seu foco. Não conseguiu fazer o treino completo e pela primeira vez não estava ligando para isso. Um treino só de duas horas era o suficiente por hoje, ela compensava depois.
Correu para seu quarto e banheiro para ir atrás da bruxinha que apanhava seus pensamentos.
Não pediu para entrar, a porta estava aberta e dava para ver Wanda de costas na varanda com um livro flutuando, era muita humilhação, pois ela estava com as pernas em borboleta flutuando juntamente. Parecia concentrada e distraída.
— Treino rápido o de hoje – óbvio que ela tinha conhecimento de Natasha a encarando fixamente pelas costas. Ela mexeu os dedos e o livro sumiu, reaparecendo na estante no quarto, a Viúva jurava que ela estava fazendo de propósito, seus movimentos pareciam em câmera lenta, descendo de seu exercício de voo que ela fazia parecer tão fácil.
Se aproximou com uma rapidez que jurou ser sobrenatural antes mesmo da feiticeira colocar os pés no chão por completo. Natasha estava puro instintos e grudou seu corpo no de Wanda colocando seu nariz naqueles cabelos que exalavam um perfume que fazia sua sanidade vacilar.
Wanda passou a sentir a energia emanada por Natasha e aquilo a fez arregalar os olhos levemente. Seu próprio corpo começou a dar sinais de resposta.
— Seu cheiro é inebriante – o sussurro dito a pé de seu ouvido fez um arrepio correr da espinha de Wanda até os dedos de seus pés. Num súbito circuito de adrenalina, Wanda se virou de frente, e por Deus, estavam muito perto! Viu o sorriso de Natasha se abrir sem mostrar os dentes, apenas um repuxar básico de lábios. — Você é extasiante, Wanda.
— Nat... - sua respiração estava irregular com aqueles lábios tão convidativos perto demais dos dela.
— Você pode me impedir se quiser – Natasha disse e deslocou sua mão até a base do pescoço da mais alta. — Quer que eu pare, Wanda? – perguntou analisando aqueles olhos dilatados.
A respiração de Wanda foi funda, ela fechou os olhos por meio segundo e tomou as rédeas, colando sua boca na de Natasha pela primeira vez. Foi como levar um choque elétrico, seu corpo inteiro sentiu o arrepiar que aqueles lábios macios sentidos pela primeira vez causaram.
Natasha gemeu ao sentir suas emoções borbulharem, estava fervilhando, eram suas emoções, a de Wanda, as duas juntas, era como entrar num estupor de prazer, pois sentiam exatamente o que a outra emanava. A reciprocidade e sincronicidade de seus movimentos eram como se já tivessem feito isso milhares de vezes, eram perfeitos.
Wanda sentia seu corpo inteiro esquentar e estremecer ao mesmo tempo, aquele frio em seu baixo ventre, nunca tinha sentido algo igual. Tudo era mais vivo, mais intenso, real. Quando suas línguas se encontraram, os gemidos foram guturais, Natasha sentia como se estivesse experimentando o beijo pela primeira vez, mas sabendo o que fazer. As sensações eram de um primeiro beijo, tão eufóricas!
Suas mãos agarravam a nuca da feiticeira que estava com as mãos em seus braços afundando suas unhas curtas por sua extensão. A pele de Natasha era firme, mas ao mesmo tempo tão macia de se tocar. Era uma delícia poder finalmente tocá-la da maneira como sempre quis.
Os corpos estavam querendo se fundir de tanto que se apertavam tentando sim quebrar as leis da Física e ocupar o mesmo espaço. Mas os pulmões resolveram ganir por ar e com rosnados ambas se afastaram buscando ar, os lábios completamente inchados pela força exercida no beijo.
Ambas se encaravam como se fosse a primeira vez que se vissem, era um olhar totalmente novo aquele que elas exibiam em seus olhos escuros. Os pulmões trabalhando e a consciência do que fizeram vindo se arrastando.
— Você me beijou, bruxinha – Natasha deu um sorriso torto para ela que rolou os olhos.
— Beijei – Wanda possuía o mesmo tom de malícia. — Você queria isso a muito tempo, era só admitir – piscou e o sorriso de Natasha continuava lá.
— Digamos que eu só tive a coragem de agir depois de ontem – confessou e puxou o ar com a boca.
— Eu já estava perdendo as esperanças com sua lentidão – provocou e Natasha se aproximou novamente com uma velocidade impressionante.
— Não seja por isso – disse e puxou o lábio inferior de Wanda para sua boca. — O primeiro passo foi dado – sussurrou olhando bem de perto nos olhos que eram sua perdição.
— Vamos analisar seus próximos movimentos – disse e deu um último selinho antes de se afastar. — Agatha chegou em casa finalmente – avisou rindo e se encaminhando para a porta de seu quarto. — Você vem? – parou se virando para encarar Natasha que não tirava o sorriso bobo dos lábios.

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