Capítulo 27

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O clima na sala de jantar nunca tinha sido tão tenso, como se uma faísca fosse o necessário para uma explosão catastrófica. Um olhar errado, uma expressão mal interpretada e BOOM!
Morgana Pendragon estava para chegar a qualquer momento com Agatha. E isso deixava Wanda ansiosa, tanto que batucava os dedos na mesa, como se dedilhasse um piano. O que por consequência, fazia Natasha contar números imaginários pelo som irritante que as unhas compridas da bruxinha faziam na bela mesa de madeira de cerejeira.
— Vai ficar tudo bem, Wands, é só um jantar!
A ruiva impaciente apenas rolou os olhos, enchendo bem os pulmões e soltando devagar. Ela pressentia que algo muito ruim ia acontecer.
Elas esperavam uma entrada dramática, com raios cortando os céus e lobos uivando, mas a porta da frente foi aberta normalmente e passos foram ouvidos no piso. E o barulho característico de salto alto.
A mulher que Agatha guiou pelo castelo não era nada parecida com a imagem de bruxa má dos contos de fadas medievais que Natasha pintara em sua mente.
A mulher parecia e se vestia como uma CEO de uma grande empresa multibilionária.
Vestia um terno vinho de alta alfaiataria, com pequenos detalhes em preto, o tecido caía perfeitamente no corpo esguio e alto. A mulher tinha uma pele clara, tão clara que com certeza mostrava sua ascendência europeia, os cabelos longos da cor de tinta preta estavam presos num rabo de cavalo alto e sofisticado, nos pés estavam saltos Scarpin.
Mas o rosto, era o rosto que mostrava que aquela mulher era não somente da realeza, mas uma rainha de fato. Gracioso e belo. Com sobrancelhas arqueadas, nariz fino e uma boca que lembrava o botão de uma rosa vermelha, porém eram os olhos que arrebatavam qualquer um que os ousasse encarar.
Verdes tão claros que pareciam vidro.
Hipnotizantes e intimidadores.
Foi impossível para as duas na mesa não se levantarem imediatamente quando avistaram aquela figura tão distinta. Não precisavam, é claro, mas ligeiramente parecia o certo a se fazer.
O silêncio foi quebrado por um sorriso pintado de vermelho de Morgana.
— Ora, não precisavam se levantar – fez um dispensar leve com a mão dominante que continha o famoso anel asiático que era símbolo de Imperatrizes, um anel que se estendia para fora do indicador como uma garra curvada de prata. A voz era agradável aos ouvidos e aquele sotaque era antigo, sensual e convidativo. — Eu sou a convidada nesse belo castelo.
— Wanda, Natasha, apresento a vocês Morgana Pendragon – Agatha dizia num tom jamais visto, era respeitoso e hesitante. Nada de sarcasmo ou ironias habituais. Parecia considerar se aquele encontro fora uma boa ideia.
Foi involuntário para Wanda sentir uma ansiedade crescente na morena. Emanava dela com se brilhasse em neon. Isso a deixou ainda mais intrigada e a fez prestar atenção em outro ser além de Morgana. Algo não parecia certo.
— Quanta seriedade, Agatha querida, não é necessária toda a etiqueta que provavelmente ensinou para as mais jovens desse belo Coven para agir em minha presença – Morgana puxou a cadeira da ponta da mesa. E mesmo com suas palavras, aquela cadeira passou a quase parecer um trono. — Já tive bajulações suficientes para vidas inteiras quando era integrante da Corte de Camelott. 
— Isso só me faz recordar que é uma rainha, Morgana – a voz da morena se tornou quase em seu tom costumeiro, mas a apreensão estava em seus ombros e costas, mesmo que seus olhos pareciam indicar que estava tudo bem, assim como sua expressão.
— Sempre lisonjeira, mas isso só indica o quão antiga eu sou – respondeu com educação, mas seus olhos estavam presos em Wanda. — Aí está, a famosa Feiticeira Escarlate – seus olhos estreitaram em uma expressão de deleite. —  Não sabe o grau da minha satisfação em conhecê-la, Wanda Maximoff.
Wanda abriu e fechou a boca sem saber o que dizer. Estava tão concentrada nas emoções borbulhantes de Agatha, que nem prestou atenção na conversa
— O prazer é nosso em conhecê-la – Natasha disse tentando esconder sua surpresa.
Natasha recebeu um olhar de avaliação. De cima a baixo.
— Você, é claro, que é o amor épico que fez nossa querida Wanda desafiar as leis divinas – um  menear de mãos e um taça de vinho apareceu na mão alva da rainha. — Consigo ver o porquê de tanto fascínio – um sorriso malicioso se repuxou dos lábios atrativos. Wanda ficou um tanto tensa na cadeira e Morgana completou suavemente. — Com todo o devido respeito, é claro.
— Agatha mencionou seu interesse em nós – Wanda finalmente conseguiu falar, quase fraquejando em sua voz. A beleza da outra era de se imaginar que os deuses possuíam seus favoritos. Seus traços pareciam atemporais. Surrealista demais para ser real. E ainda assim estava sentada na sua mesa de jantar.
— Como não ficar curiosa? – bebericou delicadamente sua taça. — Agatha Harkness desistindo de sua busca implacável por poder por uma bruxa que mal tinha saído das fraldas. É claro que tive que descobrir o quão especial você era por meus espiões. Sempre cuidadosa com seus negócios! – dirigiu um olhar a Agatha, que deu um sorriso amarelo.
— Ela deveria ser cuidadosa em sua presença? – Natasha perguntou afiada.
— Eu presumo que sim, é claro. Bruxas não tem a fama de serem  confiáveis - ela brincava com seu anel de garra. — Costumam ser arriscas e reservadas em seu clubinho, principalmente se o grande ritual ainda não foi realizado – deu de ombros.
— Ritual? – Natasha soltou olhando diretamente para Agatha, que parecia ter problemas com a respiração, ela via o ritmo desregular por sua jugular pulsando.
— Como assim? – Wanda mostrou confusão.
— Você não as ensinou como mandam as antigas tradições, Agatha? Ou teria algum interesse na ingenuidade dessas jovens bruxas? - seus dedos pararam quase como se tivesse pego um passo em falso de Agatha.
— Não tivemos muito tempo para discutirmos antigas tradições – a voz da morena explicava se atrapalhando. — Aconteceu t-tanta coisa...
— Uma meia verdade, para uma meia mentira - Morgana dominou o tom da conversa. — Você não contou porque isso abalaria o pequeno equilíbrio e confiança que conquistou com tanta dedicação – o sorriso da bruxa era cruel. — Acho que as pessoas não mudam, não é mesmo?
— Do que ela está falando, Agatha? – Natasha tinha uma expressão cuidadosa no rosto.
— São apenas bobagens matriarcais antigas... Idiotices - sua voz soava como um disco arranhado.  
— Bobas?
— Ora, cala a boca, Morgana!
— O que não nos contou? – os punhos de Wanda estavam fechados. Os olhos estavam nos de Agatha quando ouviu aquelas palavras.
— Que ela planejava conseguir o poder das duas no Ritual de Unificação Profana, é claro – Morgana respondeu e Agatha a olhou com fúria. — Pela sua expressão, eu acertei em cheio.
— Você é muito traiçoeira, Morgana, me fez trazê-la aqui para envenenar minhas meninas contra mim!
— Envenenar? Ah, eu não preciso disso, querida – a garra de ferro bateu na madeira. — Não preciso fingir afeto ou bajulação, apenas oferecer a verdade, seja ela nua e crua de preferência. E a grande verdade é que também precisava que elas a vissem de modo matriarcal para que o ritual funcionasse. Precisava que gostassem de você, que confiassem em você quase de forma cega. Você precisava do amor delas para seu plano funcionar!
— Fingir afeto? De que porra estão falando? -  Wanda bateu os punhos na mesa e o HEX estremeceu.
— Wanda, querida...
— O que é esse ritual? – a magia de Wanda reagia ao medo de Agatha. — Você mentiu esse tempo todo? Você cheira a traição!
Foi como se o fino véu da realidade das três se despedaçasse como uma película de vidro. Agatha se viu encurralada e sem saída para continuar mantendo seu personagem.
— É claro que você consegue sentir minhas emoções claramente agora, não é? Depois de tudo que lhe ensinei, estou desapontada que demorou tanto tempo! – Agatha ergueu as mãos e, como se fosse pela primeira vez, Wanda se assustou com as pontas dos dedos negros. — Você é tão carente de atenção, foi fácil se aproximar, foi ainda mais fácil fingir que me importava com você e seu projeto de caridade!
A mesa tão linda de cerejeira se partiu ao meio com um chicote de magia. Magia amarelada.
— Traidora - a palavra saiu da boca da Viúva como um tornado.
Agatha riu da expressão de dor de Natasha.
— Ah, me poupem do showzinho de crianças mimada – ela se virou para a integrante avulsa do jantar que a olhava sem um pingo de amor nos olhos. — Só não pensei que você, de todas as pessoas, fosse me trair, Morgana. Eu iria ser a Matriarca desse Coven por ser a mais velha. O poder de Wanda e de Natasha seriam meus quando nos unificássemos como um verdadeiro Coven nas antigas tradições - ela quase espumava  de raiva e da traição vinda daquela bruxa em particular.
— Achou que eu te devia lealdade, Agatha? Pelo nosso pequeno casinho de séculos atrás? – gargalhou. — Quem está fazendo showzinho agora?!
— Eu amei você! - gritou enquanto Natasha e Wanda estavam paralisadas absorvendo que tudo desde o primeiro momento com Agatha foi uma mentira muito bem calculada.
— Você amou o poder de estar comigo! Os benefícios que estar com Morgana Pendragon te traziam. Você sempre foi ambiciosa, Agatha Harkness, mas duvido que algum dia teve um coração que não pensasse só em si! – mergulhou as palavras em ácido meticuloso.
— Você não suportou a ideia de eu me tornar maior que você, sua maldita!
— Você sempre soube o que eu pensava da Feiticeira Escarlate e mesmo assim a escondeu de mim.
— É óbvio que sim! Você acredita que Wanda é a deusa suprema de todas as bruxas! – cuspiu e Wanda em seu lugar arregalou os olhos. — Você e seus asseclas se ajoelhariam para a Grande Feiticeira Escarlate assim que pusessem os olhos nela!
— Você está correta – mais uma vez começou a brincar com seu anel. — Todas as bruxas que seguem as antigas tradições entregariam seu poder a Wanda se ela assim desejasse. O que você não suporta, Agatha, é que eu me entregaria a Wanda, mas não a você!
O castelo começou a saculejar nos alicerces com a magia roxa que saía de Agatha enfurecida e possuída de inveja.
— Você vai me pagar! - gritou conjurando magia em suas mãos destinadas a destruir Morgana que apenas erguia uma sobrancelha, sem medo algum.
— Chega – uma voz se sobressaiu ao ar revolto e tremulante. Wanda tinha seus olhos ardendo em vermelho, a figura autoritária em pé, com os olhos furiosos e sua magia estalando a sua volta como fogo. — Eu estou cansada de mentiras e simulações, Agatha. Fez tudo isso por poder, sempre poder... - ela esticou um dedo e Agatha voou em direção ao pomar. Quebrando tudo com seu corpo até lá.
— Wanda – Natasha tinha conseguido mais autocontrole que a feiticeira.
— Não entre em meu caminho, Natasha! – disse voando até o pomar com tudo se curvando ao seu poder. Toda a construção se contorcia quando ela passava, como se quisesse a seguir.
Natasha tentou se mover, mas foi parada por uma mão alva.
— Ela precisa disso.
— Você nem a conhece! Ela vai matá-la!
— Conheço a dor da traição e se ela decidir colocar um fim em Agatha Harkness, isso seria um presente para o mundo.
— Você é louca!
Um sorriso foi a resposta.

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