Noite chuvosa

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Atena

Eu olhava as nossas fotos juntos, as primeiras que tiramos com os uniformes da Constance, um álbum inteiro somente nosso, Ryan gostava de bancar um homem de família tradicional, um pai exemplar que não perdia a oportunidade de capturar os momentos em família. Aos 12 anos Apolo foi mandado para um colégio interno na Suíça, aquele episódio foi marcado por tantas dores acumuladas, meu sempre foi mais sensível para lidar com a perda da nossa mãe. Ryan Hanson diante daqueles ataques frequentes do meu irmão o encarou como total disfuncional, o enviando para longe até que pudessem lhe enviar conforme o modelo de fábrica, anos e anos de tantas programações e pouco contato com o exterior, sua liberdade foi tomada, nos víamos apenas em feriados específicos. E cada encontro eu sentia que estava vendo uma versão nova do meu irmão. Ele não tinha aspectos de inseguranças ou quaisquer aparições de danos emocionais, suas tentativas suicidas já não eram parte da realidade. Um novo e reformulado Apolo! No auge dos seus 16 anos ele voltava para casa, juro que fiquei tão feliz com a notícia! Meu pai por outro lado parecia querer exibir o seu filho adestrado. Mais uma amostra por seus interesses na política. A imagem que nossa família passava sempre foi a sua grande e única preocupação.

Passo para outra página, vendo como Apolo fiava bem naqueles trajes marítimos, posando no barco à vela, suéter branco de lã, gola em V com bordar em azul, uma âncora azul bordada no seu peito esquerdo, short de linho branco, blusa social branca por baixo do suéter, alpargatas cremes, seu cabelo loiro exibindo um topete simplista. Ele olhava para o mar na proa do barco e eu segurava o timão. Seus olhos azuis brilhavam contra a luz, ele me olhava com tanto afeto, seu sorriso largo e leve acompanhando. Me pergunto como um conto de fadas pode se tornar uma história de terror, ele regrediu.. vai ver Ryan teria razão por motivações tortas, manter Apolo longe do nosso mundo talvez fosse a única solução. A corrupção, aquele antro vingativo, tudo simplesmente o levava até o hoje! Vítima dele mesmo, vítima da nossa criação, vítimas de todo o redor, afinal replicantes sempre fazem de tudo para serem aceitos. Apolo nunca se sentiu parte de algo, ele carregava muita culpa para se creditar como merecedor. Depositando todos esforços os seu esforços pra ser reconhecido pelo nosso pai, ele podia negar o quanto quisesse mas suas atitudes se tornavam cada vez mais parecidas, jogando sujo e se esforçando atrás de um reconhecimento deturpado. Eu vestia uma blusa social azul clara e um short branco com um cinto náutico de listras vermelhas e azuis marinhas. Pés descalços, sorrindo para ele não menos amistosa. Todas as fotos tinham aquele toque de editorial, espontâneos nas poses.

Lembro da primeira vez que ele me viu no auditório da Constance. Eu fazia meu teste para o musical de Crepúsculo. Cantando a música tema do Paramore numa versão ao piano de Decode. Vejo que ele estava sentado atrás dos demais. Meu irmão Apolo, mostrando que me apoiava, aquele foi o melhor teste! Um marco que duvido ser destronado. Com o final das avalieis dos professores e comitê do teatro escuto os aplausos do meu irmão, gritando pelo meu nome em êxtase, tão feliz por mim, assobiando quando o corpo docente me coloca no cargo de presidente do clube de teatro novamente, mas para Apolo tudo era novidade, ganhar tal cargo aos seus olhos, em primeira mão presenciando isso resultou numa volta para casa entre euforias.

Eu queria aqueles raros momentos com o meu irmão de volta, pensar em quem ele se tornou hoje é uma tortura, me afundando numa bolha carregada de dúvidas. Quem ele é? Será que não soube ler? Apolo, o meu irmão já não se parecia com quem sempre acreditava que fosse, enganando a mim mesma devido ao lado bom que Apolo ainda carregava. Ele sempre me defendia das agressões do Ryan, sempre se colocava em risco e comprava todas as minhas brigas, doce, gentil, muito prestativo, comprando para sua vida quem eu julgava serem meus amigos. Apolo se espelhava, associando com quem eu andava a algo positivo, fazendo parte do clube e julgando através do meu julgamento, iguais! Sua força para ganhar títulos veio na segunda semana de aulas, ele conseguiu o cargo de capitão do time de futebol! E assim como foi comemorativo comigo, lhe apresentei tamanha recepção, sua felicidade é a minha felicidade!

We're back, bitches! (Terceira parte de NYB) Onde histórias criam vida. Descubra agora