❤️ capítulo 26💛

149 34 8
                                    

Xichen ocupara o quarto pequeno junto à escada. Lingjiao e A-yuan instalaram-se num cômodo com duas camas. Restava um aposento com camas geminadas, e Lan zhan estava apreensivo com a perspectiva de dividir o mesmo espaço com Wei wuxian Após o incidente no apartamento em Londres, tinha certeza de que ele não se insinuaria, já deixara clara sua falta de interesse, mas isso não diminuía o constrangimento.

Ainda estava apreensivo ao se recolher, um tanto cedo, deixando os demais assistindo a um programa de televisão.

Tomou um banho rapidamente, vestiu uma das camisetas velhas e largas que usava como pijama, aninhou-se entre os lençóis e, quando ia apagar o abajur, Wei wuxian entrou.

- Vim ver se está bem. Estava pálido durante o jantar.

- Estou bem. - Ele se cobriu até o queixo. - Quanta preocupação!

Não precisa fingir, ninguém está vendo. Wei wuxian estreitou o olhar e então, deu de ombros. - Se é assim que deseja...

Ele já ia se retirar, e ele sentiu um nó na garganta de remorso.

- Wei wuxian... posso lhe fazer uma pergunta? Ele deu meia-volta.

- Acho que tem o direito.

- Sobre A-yuan... - Lan zhan sabia que se arriscava a enfurecê-lo. - É diferente para mim. Eu  dei à luz, amei-o durante toda a sua curta existência. Você não sabia dele até poucas semanas atrás. Mesmo assim, sua necessidade de tê-lo permanentemente em sua vida foi forte o bastante para assumir minhas dívidas e se casar comigo, embora me despreze.

- Acha isso estranho? - Wei wuxian parecia mais relaxado. Voltou para o centro do quarto fracamente iluminado pelo abajur.

- Não imaginava, claro, que você daria as costas a A-yuan- explicou ele - Entenderia se você quisesse vê-lo de vez em quando... mas comprometer-se...

- Com uma montanha de dívidas que não eram minhas e um esposo que desprezo? - Wei wuxian sentou-se na beirada da cama. - Eu realmente o desprezava. Quando soube que tinha um filho de cinco anos, achei-o desprezível. Isso foi antes de entender o que aconteceu, por que agiu como agiu. Não perdôo, mas não posso condená-lo.

Isso significava que ele não o desprezava mais? Ele queria perguntar, mas não se atreveu. Sob a luz fraca, os olhos dele pareciam carvões, a boca macia. Desejava tanto beijá-lo...

- Talvez, se eu explicar por que me sinto assim com relação a A-yuan, pare de me ver como um tirano arrogante - considerou Wei Wuxian. - Isso seria possível? O que acha?

- Tente! - incentivou Lan zhan. Amava-o, sempre amou e sempre amaria. Admitindo o fato, aprenderia a lidar com ele.

- Ambos viemos de famílias incompletas, contando só com um dos genitores, mas as semelhanças param aí. Você perdeu sua mãe aos dez anos e foi o pior que lhe aconteceu, Lan zhan...

Ele sentiu um aperto no coração com o tom carinhoso dele ao pronunciar seu nome, embora sem testemunhas por perto, mas ocultou o prazer.

Wei wuxian prosseguia:

- Você tinha lembranças de uma vida familiar feliz, um pai que o amava muito... e a querida Lingjiao claro. Sabia por que sua mãe não estava a seu lado. Meu pai nos deixou quando eu tinha cinco anos e eu nunca soube por quê. Depois que ele se foi, minha mãe não parava de chorar e me afastou dela. Concluí que era culpa minha o fato de meu pai nos ter abandonado. Sentia muito a falta dele e ficava perguntando quando ele voltaria, o que só piorava tudo. Ela continuou amargurada até a morte.

Lan zhan tinha lágrimas nos olhos.

- Wei wuxian... eu não sabia. Que tristeza! Wei wuxian retomou a narrativa:

- Devia ter quase sete anos quando tio Fengmian assumiu o controle. Era irmão de minha mãe, solteiro, dono do bem-sucedido Grupo lótus. Mais tarde, ele me contou que nunca se casou porque tinha juízo. Não se ligaria a uma mulher para ser desfalcado da fortuna quando essa mulher pedisse o divórcio. Pode imaginar o homem frio, rude e calculista que ele era.

- Tio Fengmian achava que minha mãe não estava me educando direito. Decidiu me levar para a casa dele e tratar da minha formação, preparando-me para sucedê-lo quando chegasse a hora. Passaria alguns anos estudando em internato, claro. Eu não queria nada disso. Só queria meu pai.

- Lembro-me de quando disse isso a ele... que detestava o internato e queria meu pai de volta. Ele disse que eu nunca mais o veria. E não vi. A última notícia foi de que ele estava na América do Sul, e já faz mais de vinte anos. Então, meu tio revelou que meu pai só tinha se casado com minha mãe por aquilo que poderia obter dela. Vinham de uma família rica, independente da situação do Grupo lótus Meu pai queria uma vida fácil... carrões, bons ternos, dinheiro para gastar. Quando ele percebeu que tio Fengmian... curador da parte de minha mãe na fortuna da família... não ia facilitar, simplesmente foi embora

- Que coisa terrível para se dizer a uma criança! - lamentou Lan zhan.

Wei wuxian deu de ombros.

- Superei o golpe. Conformei-me com a escola, fiz amigos. Este é o ponto a que eu queria chegar. Meus amigos sempre me convidavam para passar as férias em suas casas, e por isso sei como uma família unida e amorosa deve ser: com pai e mãe, ambos com perspectivas diferentes e experiência de vida... Alfa  e ômega... para dar aos filhos. E isso que quero para meu filho, para A-yuan. Pais que o amem, que estejam presentes enquanto ele precisar. Estabilidade, segurança emocional.

- Oh, Wei wuxian! - Instintivamente, ele pousou a mão sobre a dele. Entendia seus motivos agora, sabendo de sua criação, a falta de amor, a amargura, a perda do pai que não o amava o bastante para ficar:

Ele o privará dos primeiros cinco anos da vida do filho, tornara-o... sem seu conhecimento e contra tudo o que acreditava... um pai ausente.

- Sinto tanto! - O remorso era grande, as lágrimas corriam soltas. Sentiu a pressão da mão dele.

- Não chore, Lan zhan...

O apelo só fez se sentir pior. Os soluços vieram fortes, e ele não conseguia mais se controlar. Wei wuxian suspirou, achegou-se e abraçou-o. Embalou-o até os soluços diminuírem.

Era tão maravilhoso estar ali, como se finalmente chegasse em casa após muito tempo de solidão e saudade.

A sensação era maravilhosa, e Lan zhan não se conteve, introduzindo as mãos por sob a jaqueta de couro. Deliciou-se com a maciez do suéter de cashmere.

- Acho. que não é uma boa idéia, Lan zhan...

Ele espalmou as mãos nas costas largas e o apertou contra si.

Lan zhan se emocionara com a história da infância dele, e o remorso pelo que lhe infligira inadvertidamente o esmagava. A única emoção discernível era o amor que sentia por ele. O passado, o que ele lhe fizera, não importava mais.

Ofereceu o rosto banhado de lágrimas e percebeu quando Wei wuxian reteve o fôlego e inclinou a cabeça para beijá-lo.

Sem revisão

Uma paixão do passado Onde histórias criam vida. Descubra agora