Lan zhan piscou e voltou ao presente. Wei wuxian agia como se não houvesse acontecido nada entre eles no passado, ou como se o que acontecera não valesse a pena ser lembrado, pensou, magoado, sentindo a raiva crescer aos poucos. Talvez a única maneira de conviver com as lembranças do próprio comportamento desprezível era ignorando-as, proeza de que Wei Wuxian parecia mais do que capaz.
Lan zhan levantou-se e devolveu a xícara e o pires à bandeja. Mantinha a expressão calma, controlado, ocultando a perturbação que sentia. Já ia repetir que não pretendia fazer negócio com ele, mas, antes que se manifestasse, ele constatou:
- Você se casou?
Devia ser óbvio, claro, pela mudança no sobrenome. Wei wuxian parecia bastante indiferente ao fato. Por que deveria reagir de outra forma? Nunca sentira nada por ele, só ganância.
- E você? - Ele mordiscou o lábio para controlar o tremor involuntário. - Está casado?
- Não, mas isso não vem ao caso. É casado em comunhão de bens? - Os olhos dele eram puro aço, gélidos, os lábios apresentavam uma curva irônica. - Não precisa ficar tão defensivo, sr Wen lan Meu interesse em você e seu marido não é pessoal. Antes de assinar qualquer documento, preciso saber exatamente em que terreno estou pisando.
Ele era esperto, admitiu Lan zhan. Sabia que ele se sentia ameaçado... devia estar evidente, por sua linguagem corporal. E, verdade fosse dita, ele se sentia assim desde que entrara na horta, seis anos antes, e pousara os olhos nele.
Wei wuxian comprometera sua felicidade, sua inocência, sua crença inabalável na bondade intrínseca da natureza humana. Quase a destruíu. Portanto, tinha todo o direito de ficar na defensiva.
- Sou o único proprietário. - Não via motivo para revelar a morte recente de Ning - Embora isso não venha ao caso. Talvez não tenha ouvido, mas lembro-me claramente de ter dito que decidi não fazer negócio com a sua empresa.
Voltou-se para a lareira, esquivando-se ao olhar penetrante.
- E eu disse que você cuspe para cima - rebateu Wei Wuxian. - Entretanto, se prefere tentar o mercado livre, cruzando os dedos para que o comprador tenha o dinheiro necessário para pagar o preço pedido, em vez de considerar as vantagens óbvias de negociar em particular com uma empresa de sucesso como o Grupo Jiang... então, claro, é prerrogativa sua.
Wei wuxian aproximou-se. Lan zhan sentia o refrescante aroma cítrico de sua loção pós-barba, a vibração de sua voz grave... E sentia-se confuso. Desprezava-o, porém compreendia por que se apaixonou por ele na adolescência, entregando-se de bom grado. Teria dado a própria vida, se ele pedisse...
Lan zhan engoliu em seco. Desajeitadamente, afastou-se. Detestava admitir, mas ele tinha razão. Se vendesse logo para o Grupo Jiang, pouparia muita dor de cabeça. Uma empresa segura como a dele não regatearia um preço justo. Precisava fazer o melhor negócio possível, para honrar as dívidas vultosas.
Uma venda rápida pouparia seu pai, também. Ele não sofreria com a especulação que costumava preceder os leilões públicos. Já estaria perturbado por ter de vender o recanto das nuvens... poderia ser poupado de explicar os motivos àqueles que indagassem.
Sobre a mesa lateral, encontrava-se o livro que Lan zhan estava lendo. Considerando que a trama não agradava, recolheu-o, pois era algo a fazer e, com sorte, induziria a pensar que ele estava perfeitamente composto, indiferente em estar na mesma sala com ele.
Só que tremia desajeitado ao tentar recolocar o volume no espaço vago da estante. Deixou o livro cair, e uma fotografia em que aparecia com o filho voou sobre o tapete persa.
Rápido, Wei wuxian pegou o livro e a foto. Lan zhan enrubesceu e levou a mão à boca, apreensivo.
- Tem um filho? - indagou Wei Wuxian. Olhou de novo o instantâneo e o encarou, exigindo resposta.
Lan zhan assentiu.
- Ouça... pensando bem, vamos almoçar. Trata-se melhor de negócios em campo neutro. Estou disposto a ouvir a sua oferta. - Teria dito qualquer coisa... qualquer coisa... para mudar de assunto, para fazer Wei wuxian se esquecer da foto. Tirou-a das mãos dele ao passar em direção à porta. - Sentia o calor do olhar dele nas costas. - Vou avisar lingjiao que vou sair. Serão só dois minutos.
No quarto, Lan zhan pressionou a mão na têmpora latejante. Se as seis últimas semanas tinham sido um pesadelo, o retorno de Wei wuxian era a coroação! Após a conversa com o gerente do banco, imaginou ingenuamente que nada pior poderia acontecer.
Como estava enganado!
Suprimiu um gemido e se mirou no espelho sobre a cômoda. Parecia cansado, velho, abatido, deu de ombros, pegou a bolsa e guardou a foto com cuidado.
Que importava se parecia um morto-vivo? Wei wuxian não estava interessado em sua pessoa, em sua aparência. Nunca estivera. Ele sempre pensara só em sua herança.
Nem ele desejava tá despertar o interesse dele. Claro que não. Não era mais um adolescente idiota que achava o mundo um lugar maravilhoso e as pessoas, anjos encarnados. Era um ômega experiente agora. E podia controlar a situação, podia até almoçar com a serpente. Pelo pai e pelo filho, suportaria a provação e, com determinação, faria Wei wuxian pagar muito caro para pôr as mãos no recanto das nuvens
Mas os negócios, aparentemente, não estavam nos planos de Wei Wuxian. Lan zhan também se esqueceu do que tinham ido tratar ao perceber onde estavam.
O unicórnio Uma criatura mística. Nada mais adequado, porque fora ali que ele lhe declarou seu amor anos antes, recordou, amargamente, diante do bar-restaurante antigo.
- Lembra-se daqui? - indagou ele, desligando o motor de seu automóvel de altíssimo luxo.
Lan zhan encarou-o indiferente.
- Deveria? - Saltou sem esperar que ele lhe abrisse a porta.
Claro que se lembrava. O pequeno bar-restaurante afastado da trilha do vale estreito e arborizado. Nunca mais voltara ali, em todos aqueles anos, mas não confessaria a Wei Wuxian que sempre recordava os momentos que tinham vivido ali.
Certa tarde, seis anos antes, chegaram na motocicleta dele. Tinham dinheiro apenas para comprar uma taça de sidra e um enorme pastelão de carne da Cornualha, que dividiram.
Após a refeição, ocuparam uma das mesas externas de piquenique e sorveram a sidra devagar. A certa altura, Wei wuxian limpara uma migalha do canto de seus lábios.
- Eu te amo, Lan zhan
- declarou Wei wuxian- E te quero pra Sempre Agora, você sabe. - Concentrou-se na boca, e ele sabia que ele iria beijá-lo - Você tem o resto do verão para se acostumar com a idéia de me ter por perto, amando-o e desejando-o...Ele não precisou do resto do verão para se acostumar com aquela ideia. Adorou saber que Wei Wuxian o amava e desejava, porque sentia o mesmo por ele.
Ele já o tocara antes, claro, roçara a mão em seu quadril, beijara de leve... acariciara os seus mamilos delicadamente, como se não estivesse seguro de si mesmo, ou dele. Ele retinha o fôlego à mercê das sensações maravilhosas, com a reação de seu corpo. Após a declaração de amor, sabia que haveria mais, sabia que nenhum dos dois queria ou seria capaz de se conter.
Voltaram para o Recanto das nuvens agarrado à cintura de Wei Wuxian na motocicleta. A lua subia no céu. Após estacionar a motocicleta ele o conduziu para além do carroção. Normalmente, Lan zhan entrava para preparar café, após cada passeio.
Ele não perguntou para onde estavam indo. Não precisava. De algum modo, sabia que a enseada banhada ao luar seria o local onde se entregaria pela primeira vez ao alfa que amaria para sempre...
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Uma paixão do passado
FanficUm preço a pagar... Lan Zhan acreditava ter sido traído por seu grande amor, Wei wuxian, seis anos atrás. Na época não pensou duas vezes e terminou seu relacionamento antes mesmo de saber que esperava um filho dele. Agora, Lan Zhan está perto da fa...