O dia inteiro, desde o minuto em que Aaron apareceu, tinha sido tenso e turbulento. Rick estava irritado o tempo todo, e do jeito como agia, parecia estar descontando em Aaron. Michonne parecia a única racional o bastante para analisar a situação, uma vez que foi a única corajosa o bastante para demonstrar isso se opondo a Rick cada vez em que ele fez um discurso pessimista que colocava as intenções do rapaz a julgamento.
Esme analisava tudo isso silenciosamente, condenando mentalmente falas e atitudes que ela própria nunca teria usado se estivesse tentando convencer um grupo de dezesseis pessoas a irem para um lugar desconhecido que supostamente era seguro e acolhedor. Fez notas mentais sobre a reação de cada um deles àquele tipo de situação, para ajudar a definir um perfil sobre a personalidade de cada um: se a situação se repetisse um dia, Esme saberia o que fazer, porque lembraria de como cada um era capaz de reagir. Em especial, registrou como Rick Grimes podia ser explosivo e agressivo de forma praticamente impulsiva, e pensou em sempre se lembrar de não provocá-lo.
Por fim, de alguma maneira, Rick acabou cedendo e todos estavam indo para a tal comunidade, com um plano teoricamente melhor e muito mais complicado para chegar até lá. Esme passou o caminho todo avaliando o comportamento de um a um dentre os membros do grupo. Era apenas seu segundo dia com eles, mas já pareciam ter esquecido que ela era nova. Esme percebeu isso quando Eugene, Noah e Tara a incluíram voluntariamente e repentinamente no jogo de cartas que eles tinham conseguido e que Eugene estava ensinando.
A preocupação com Aaron, suas intenções e essa comunidade era tamanha, que toda a tensão fez a maior parte deles se esquecerem de desconfiar também de Esme. Era como se eles definitivamente já tivessem a aprovado socialmente enfim, e isso era ótimo para ela. Mas, embora estivesse começando a se sentir a vontade entre eles, Esme ainda os estudava, não querendo estar despreparada para uma mudança em seus planos pessoais, caso tivesse que mudar o pensamento que já tinha sobre o grupo como um todo. Desejava que nunca acontecesse, mas se tivesse que acontecer...
Quando finalmente chegaram aos portões, desceram lentamente dos carros, olhando ao redor. Incrédulos, ou só temerosos, reuniram-se na frente do portão aos poucos, esperando por sua abertura e a possível recepção certamente feita por homens armados.
─ Mesmo quando você está errado, ainda está certo. ─ Ouviu Carol dizer à Rick ao passar por eles, pensando que isso claramente queria dizer que nem mesmo o grupo concordava com Rick sempre, embora aparentemente ele soubesse o que fazia. Isso era importante.
Uma lata de lixo foi derrubada, o barulho do metal chamando a atenção de alguns, Esme dentre esses. Um gambá tinha passado pela lixeira, a derrubando, e Daryl não hesitou em atravessar uma flecha no corpo do animal no mesmo segundo por tê-lo assustado. Não era como se ela não esperasse algo assim, especialmente vindo do caipira. Enquanto ele juntava o animal do chão, por um único motivo, Esme imaginava, o portão se abriu. Aaron e um soldado olhando para o grupo.
─ Trouxe o jantar. ─ Daryl disse com tranquilidade ao ver o homem que abrira o portão, segurando o gambá que havia acabado de matar pela cauda.
A expressão de julgamento de Esme se contorceu em uma careta de nojo, colocando a mão na frente do rosto, envergonhada por estar no grupo do homem que chegou oferecendo um gambá para o jantar. Uma nova nota mental foi feita: Daryl era um ogro.
...
Esme estava sentava na varanda com Daryl por acaso: ele já estava ali, e ela foi buscar os coturnos que tinha lavado e deixado secando na varanda. O silêncio pairava confortavelmente entre eles enquanto ela recolocava os cadarços em seu coturno e ele mexia em algo em sua besta. Esme havia lavado seus coturnos para causar uma impressão melhor nas pessoas dali. Tinha percebido como Carol vinha encenando sorrisos gentis para as pessoas desde o minuto em que tinha chegado, e estava seguindo o exemplo dela: parecer ingênua e inofensiva. Daryl grunhiu baixinho ao machucar o dedo na besta, encarando-o para analisar o pequeno corte e chupando-o em seguida. Esme riu genuinamente, porque no lugar dele, ela teria lavado o dedo e avaliado se seria necessário um curativo. Ele era bruto demais para isso, e ela já sabia disso a essa altura, mas se divertiu ao ver mais uma vez. Daryl a encarou carrancudo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Way Down We Go [TWD]
FanfictionEntre alianças frágeis, decisões impossíveis e cicatrizes que ninguém vê, Esme descobre que os verdadeiros inimigos nem sempre são os mortos. Com o passado a perseguindo pelos corredores do Santuário e o futuro a espera nos portões de Alexandria, Es...
![Way Down We Go [TWD]](https://img.wattpad.com/cover/358073249-64-k297066.jpg)