12. The Sanctuary.

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O dia tinha amanhecido ensolarado e lindo.

Um grande desrespeito para com o luto e os horrores da noite anterior, quando Abraham e então Glenn tinham sido golpeados na cabeça com aquele bastão até a morte. O estômago de Esme ainda estava embrulhado lembrando do som de ossos e carne sendo esmagados brutalmente, e em seguida, as piadas de Negan enquanto os dois amigos tentavam atrasar a morte.

A última coisa que lembrava de ter de fato visto, antes de esconder o rosto olhando para os próprios pés, foi Abraham fazendo o sinal de paz com seus dedos indicador e médio para Sasha, e então foi assassinado, depois de mandar Negan chupar suas bolas. Aquilo doeu. Abraham foi ele mesmo até o último minuto e por mais que as vezes fosse um completo babaca, como tinha sido com Rosita, ele faria muita falta de qualquer jeito.

Também se negou a assistir a morte de Glenn, mas ouvi-lo prometer a Maggie que a encontraria, e então os gritos dela enquanto o conjunto de sons de esmagamento se repetia... isso foi destruidor. Assistir um dos casais mais saudáveis que já tinha visto, e que estavam se tornando mais felizes aos poucos, conseguindo se estabilizar em um mundo acabado como aquele, de repente sendo separados de uma forma tão traumática. Era demais. Não queria olhar para Maggie, envergonhada como se pudesse ter evitado alguma coisa, mas também desejou de todo coração se ajoelhar ao lado dela e abraçá-la, para poder fazer a viúva parar de olhar para o que sobrou do coreano. Não era assim que Glenn merecia ser lembrado, não era como ela merecia lembrar do amor da vida dela.

Quando tudo acabou, percebeu que Mason olhava tudo como um aluno dedicado, quase com a mesma devoção de Simon. Os dois tinham uma calma perturbadora, mas era compreensível desde que nada daquilo significava para eles como para ela. Entendeu que os dois eram igualmente problemáticos. Já sua observação inicial sobre Negan, se mantinha e não estava errada: ele era sádico e doentio, se divertia com o sofrimento que infligia. E embora no mínimo de Salvadores não o fizesse também, Simon e Mason tinham prestígio com Negan por serem tão cruéis quanto ele. Eles eram um perigo a ser evitado.

A primeira coisa a ser vista ao chegar nos portões do verdadeiro inimigo, foi uma estátua supostamente decorativa, retratando a imagem de um anjo, adornada por um cordão que atava braços decepados como enfeites em uma árvore de Natal. Desconfiava que os braços não fossem todos de zumbis. Aquilo lhe causava uma impressão forte de brutalidade, que remetia perfeitamente a época do acampamento, de novo. A cerca de tela de arame na entrada - e provavelmente ao redor do restante do terreno, se tirasse um tempo para conferir, tinha zumbis prontos para arrancar um pedaço de alguém, presos de corpo inteiro ou acorrentados por um dos pés. Estremeceu quando deu seu primeiro passo dentro do território inimigo - ou agora deveria dizer "aliado"?

Esme conseguia sentir seus pulmões pesarem, uma sensação semelhante a sair do ar puro de uma fazenda para respirar o ar de uma capital populosa. Mas não acreditava que era necessariamente o ar que estivesse de fato poluído, embora fosse pesado demais para passar pelos pulmões, não era sobre o ar. Era como se o lugar todo fosse envolto de forma definitiva na atmosfera que Negan criava por onde passava. E, já que Negan vivia ali, até fazia sentido.

Perdeu Daryl de vista quando ele foi arrastado para dentro do Santuário por Dwight, enquanto estava presa a companhia de Mason, que conseguiu com Simon permissão para se ausentar por algumas horas, afim de oferecer um tour pelo lugar e orientações básicas sobre as regras locais para Esme. Ele era um lixo como pai, entretanto, somente ele e ela sabiam disso, então Mason se importava em fingir que não gostaria que a filha sofresse as consequências se quebrasse as leis do Santuário. E ele não gostaria, mas desde que isso não lhe afetasse, não dava a mínima, na verdade.

A primeira coisa que explicou foi que Negan esperava que todos se ajoelhassem quando ele passasse. "Um ato de respeito", Mason justificou, tarde demais para ludibriar Esme, porque já sabia que se tratava de submissão, e não respeito. Negan não trabalhava com respeito, ele usava o medo, e consequentemente a submissão era a garantia para não ser ameaçado ou sofrer em vão. Também havia uma espécie de bordão entre os Salvadores, uma resposta automática se perguntassem quem eram. "Eu sou o Negan" era a única resposta correta naquele lugar, e Esme lembrou de já ter escutado isso de um Salvador. Agora entendia porquê. A idéia era pregar uma falsa sensação de igualdade com isso, simulando que apesar das tarefas divergirem, todos eram importantes porque "todos eram o Negan".

Way Down We Go [TWD]Onde histórias criam vida. Descubra agora