11. eenie... meenie... miney... moe...

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Foram cerca de dois meses convivendo com o grupo de Alexandria, o suficiente para se apegar a energia calorosa e a união que eles tinham entre si. Inspirada pela coragem dos outros, que diferente dela não tremiam, afirmou sua postura enquanto Negan se aproximava dela. Os olhos do mais velho brilhavam com curiosidade e aquela zombaria característica, e Esme, já esperando pelo golpe da madeira e o arame farpado cortando, ergueu o queixo como Abraham tinha feito na vez dele de encarar Negan. Ela não iria recuar agora.

Eugene e Aaron compartilhavam pavor e olhares arregalados, Michonne era uma das mais firmes, e tal como Abraham e Daryl, mesmo ferido, não demonstravam uma fração do medo dos demais. Carl também estava em um estado de espírito destemido, embora houvesse receio nos sentimentos por trás de sua postura. Rosita parecia um meio termo entre o autocontrole e o choro, enquanto Sasha estava em estado de alerta em razão do pânico. Quanto a Rick, ele parecia completamente perdido nos próprios pensamentos na maior parte do tempo, suava e até mesmo parecia disposto a chorar quando erguia o rosto e os olhos vermelhos ficavam a vista, ou então eram um sinal de ódio puro. Glenn e Maggie não faziam outra coisa se não olhar um ao outro chorosos, desesperados para manterem um ao outro seguros e sem saber como.

Um silêncio mortal havia caído sobre o grupo desde então, todos os olhos estavam fixos em Negan, esperando sua reação. O som dos passos firmes e lentos esmagando as pequenas pedras no chão era a única coisa audível naquele momento. Também havia um questionamento não feito por trás dos olhares cheios de pavor pela incerteza: Por que Esme tinha assobiado como um deles? Por um momento, Negan apenas a encarou, então, para surpresa de todos, ele começou a rir, aumentando a confusão não dita das pessoas ajoelhadas.

Quando Esme tomou aquela atitude, estava assumindo conscientemente a morte certa em nome do grupo que a acolheu. Mas a morte não veio. Ao invés disso, Negan repetiu o que fez com Carl, se abaixando dessa vez na frente de Esme, segurando o queixo da mais nova com o indicador e o polegar, o bastão que chamava de Lucille repousando em seu colo enquanto a avaliava. Assobiou esperando chamar a atenção dele, porque não sabia o que poderia dizer, nem o que poderia fazer para irritar ao ponto de ser a escolhida, sem ser apenas surrada como Glenn foi por muito menos. Esperava ser a única a sofrer o castigo em questão para que sua família estivesse livre, mas então, ele estava ali, não parecia disposto a matá-la e o corpo de Esme congelou de medo genuíno.

- Olha só... Você tem nome? - Ele sorriu, fazendo a coragem de Esme se esvair ainda mais profundamente quando as coisas não saíram tão simples quanto ela esperava. Embora não tivesse desviado o olhar do pesadelo em forma de gente diante dela, não soube como reunir coragem outra vez para organizar os pensamentos e responder.

- Ela é filha do Mason. - A voz de Simon veio do outro canto, mais rápido do que uma reação por parte de Esme. Então foi isso que o homem que a tinha golpeado havia sussurrado para Simon. Seu agressor tinha revelado o parentesco entre eles. - O nome dela é Esme.

- Nome de stripper. - Negan riu com desdenho. Esme sentia o peso de Lucille apontada para ela quando ele levantou. O medo irracional que tinha de Negan era sufocante, mas era o trauma deixado por Mason, seu pai, que a corroía por dentro. Com um sorriso debochado, um desafiou foi acrescentado a fala do líder dos Salvadores: - Por que você não vai lá e dá um abraço no papai, hein? Tenho certeza que ele sentiu sua falta.

Não estava claro quem era Mason para o resto do grupo de Alexandria, mas de alguma forma,todos compartilhavam de uma opinião: ninguém escolheria um grupo de pessoas que conheceu a dois meses ao invés da família biológica, ainda mais quando não sabiam exatamente o que Mason significava para Esme. Quem fizesse o oposto de se reunir com a própria família, o sangue do mesmo sangue, provavelmente seria considerado muito burro, ou ingrato, dentre uma infinidade de outras coisas. Esme, por sua vez, manteve-se firme, embora seu coração estivesse batendo tão forte que ela temia que ele pudesse ouvi-lo. Podia sentir os olhares de julgamento. Ela também sabia que qualquer movimento em direção a Mason seria visto como uma traição pelo grupo que a acolheu, mas a outra alternativa era assistir Negan aterrorizar aqueles que ela agora considerava sua verdadeira família. Não sentiu que tinha muita escolha, e temia que, se não fizesse aquilo, o castigo que seria imposto ao grupo pudesse ser transformado em algo pior.

Eles não podiam ver a perspectiva dela, não sabiam o quanto estava lutando para fazer algo bom, para salvar as pessoas com quem se importava, e do modo como a estavam assistindo ser colocada nessa situação, tudo parecia ao contrário: visto de fora, parecia um refúgio se juntar com seu pai no lado inimigo exatamente quando o conflito todo tinha chegado ao ápice e não era o lado atual que estava em vantagem.

Com um suspiro quase inaudível, Esme se colocou de pé e deu um passo à frente, cada músculo do seu corpo gritando em protesto.

Os membros de Alexandria observaram com mágoa e uma indignação que não poderia ser expressada ali, naquele momento. A revelação do parentesco de Esme com um dos Salvadores lançava uma sombra sobre a lealdade que eles pensavam que ela possuía, deixando uma grande incógnita substituir a imagem que tinham de Esme. As expressões de decepção e desgosto eram quase palpáveis, cortando mais fundo do que qualquer golpe físico poderia. Mas não era culpa deles.

Negan riu, satisfeito com o espetáculo de dor e lealdade dividida.

- Família é família, não é? - Ele zombou enquanto Esme passava por ele, cada passo um lembrete da escolha que sentiu não ter.

Enquanto Esme se aproximava de Mason com passos hesitantes, ela não podia deixar de se perguntar se havia alguma maneira de proteger seus amigos sem se perder no processo, sem que precisasse ser desse jeito. Mas uma coisa era clara: para o grupo de Alexandria, ela era agora uma estranha, e para Negan, um novo jogo divertido.

Foi recebida com um dos braços de Mason ao redor de seus ombros, o outro braço do progenitor segurando uma arma longa como a maioria dos demais Salvadores, a arma que tinha pego de Esme estava na presa ao cinto alheio. A origem de seu receio contra homens armados estava ali, armado até os dentes e abraçando-a agora.

Negan parou, então girou aquele maldito bastão com uma habilidade perturbadora, apontando-o para cada membro do grupo, escolhendo quem seria o primeiro a sentir a ira de sua vingança, exalando um suspiro frustrado pouco depois.

- É, tá difícil, né... - Mais uma vez, ele se virou, olhando de rosto em rosto. - Eu tive uma idéia. - Negan murmurou, quase para si mesmo, enquanto um sorriso torto se formava em seus lábios. - Uni... Duni... Tê... - Ele dizia, cantarolando.

O intervalo entre cada sílaba era quando ele apontava o taco para uma pessoa diferente, começando por Eugene, então Carl, e assim sucessivamente.

Esme não conseguia olhar para outro lugar se não o chão, evitando receber a rejeição e a aversão daqueles que tinha como amigos. O olhar de Daryl era o pior. Enrolado naquela coberta imunda e surrada para não sangrar por tudo, seu olhar sobre ela era frio e mais do que assustador. Daryl era leal como um cachorro, dava para entender porque estava julgando Esme até o fundo da alma, uma vez que tinham o sentimento de terem sido traídos por ela embora não fosse sua intenção. Ele a olhava como uma desconhecida, uma inimiga, ou pior: alguém que ele se arrependia de ter conhecido.

Isso aumentava o sentimento de culpa de Esme, que de olhos marejados, desviava o olhar regularmente. Se sentir odiada pela primeira pessoa que tinha conhecido, a pessoa que tinha lhe dado a chance de se juntar ao grupo e confiado minimamente nela, agora tinha certeza que esteve certo todas as vezes em que não confiou. A situação estava partindo o coração de todos igualmente.

Quando Negan ergueu o bastão emblemático diante de Abraham, com sua escolha feita, Esme fechou os olhos firmemente para evitar o registro visual da brutalidade em sua memória. Já tinha presenciado horror demais até ali, mas não poderia evitar os sons.

Way Down We Go [TWD]Onde histórias criam vida. Descubra agora