21. a double-edged sword.

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Esme engoliu em seco, fingindo que seu coração não estava prestes a pular pela garganta enquanto era questionada sobre os três Salvadores mortos e dois prisioneiros desaparecidos - embora só ela parecesse pensar em Sherry como uma prisioneira, considerando sua posição como "esposa" de Negan.

O problema era que não podia inventar uma história dessa vez porque Dwight a tinha visto no estacionamento ao entardecer, ajudando-os a fugir.

— Me diz, por que eu não devia te entregar pro Negan, hein? — o tom perigoso na voz de Dwight a fez se mexer desconfortável entre os braços que ele apoiava na parede em ambos os lados da cabeça dela em uma tentativa de intimidá-la.

— É uma faca de dois gumes. — ela alertou, controlando a respiração. — Se disser que eu ajudei os dois a fugirem, vai ter que provar. Pra isso, precisa dizer que me viu, e se disser que me viu e não fez nada para interferir — o indicador de Esme bateu no peito de Dwight —, você vai se dar mal junto comigo. — a voz da morena foi baixando, embora tomasse um tom mais afiado quando ergueu o queixo, mantendo a expressão impassível que acobertava seu medo. — Me diz você, Dwight: eu valho o outro lado do seu rosto?

Com isso, o olhar dele se desviou, pego de surpresa. O maxilar de Dwight endureceu de modo sutil e ele lentamente recuou, ainda atônito pela ousadia daquela escolha de palavras, sua tentativa de intimidá-la ou chantagea-la caindo por terra. Não que fosse algo fora da realidade: Negan o queimaria, sim, com um ferro em brasa de novo, talvez até fizesse pior se realmente parecesse que o tinha traído de novo.

Além disso, em seu ponto de vista, ela não tinha como saber daquilo — e ela nem deveria. Tinha descoberto a história invadindo privacidades e escutando conversa através das portas. Mas o deixaria pensar o que quisesse. Dwight escolheu acreditar que as pessoas do Santuário falavam demais, totalmente alheio as tramas de Esme.

Mais tarde ainda no mesmo dia, assistiram Negan passar a mão no cabo de Lucille, os nós dos dedos brancos de tamanha força que dedicava ao aperto no taco de basebol, a raiva borbulhando em suas veias enquanto ouvia as más notícias que Simon trazia.

Armas desaparecidas. Uma esposa e um prisioneiro em fuga.

Ele bufou, um riso sombrio escapando de seus lábios e tornando a atmosfera da sala aterrorizante — no fundo, todos sabiam que Negan tinha um senso de julgamento perturbado, e quando se tratava de acertar contas não era nenhum pouco mais razoável.

Dwight mudou o peso do corpo de modo desconfortável com o som do riso do líder e havia uma certa preocupação nos olhos de Simon, uma hesitação inédita para Esme. Era como se os três soubessem que aquele que tivesse a próxima palavra poderia se tornar o bode expiatório para todos aqueles problemas, seria aquele em quem a fúria dele seria de descontada e esse não era o desejo de nenhuma pessoa sã.

As preciosas regras de Negan estavam sendo quebradas constantemente e alguém precisava servir de exemplo. Eles estavam esquecendo quem estava no comando e o que acontecia aos amotinados.

Era como se alguém tivesse puxado o tapete sob seus pés e a frustração vinha com um ódio palpável. Aquilo não devia estar acontecendo em hipótese alguma.

Esme sentiu o olhar cortante de Negan sobre ela, cada músculo do seu corpo tensionando, se antecipando para o pior. O relatório de Simon tinha sido devastador e ela podia sentir o peso da curiosidade de Negan, o olhar dele por si só parecendo querer cavar dentro da alma de Esme — em outra ocasião, tinha se apresentado como um cão fiel e agora ele iria testar aquela lealdade.

— Quem devia estar cuidando das celas? — o olhar não se desviou de Esme, os dedos deslizando pela madeira do taco de basebol de modo cauteloso.

— A troca de turno é nosso ponto cego, temos problemas de comunicação interna. — desconversou, vendo uma veia na testa de Negan estremecer sob a pele, um sinal claro do ódio se intensificando ao ouvir sobre mais problemas. Por menor que fosse, era o que bastava, afinal, foi o que permitiu a fuga de Daryl e Sherry. Ela se apressou em tentar esclarecer: — Todo o Santuário tem pelo menos cinco minutos sem vigilância em algum momento do dia, até que chegue outro Salvador para cobrir a área.

Dwight estava quase perplexo assistindo Esme mentir com tanta naturalidade, Simon no canto da mesa de metal ponderava com uma mão no queixo. Não era de todo mentira — não podia mentir esse tipo de coisa com Simon ali para desmascará-la. Anda assim, era um movimento arriscado deixar Negan cego de ódio.

Ou, talvez fosse o que ela queria. Não conseguia imaginar o que se passava na cabeça daquela mulher. Embora Negan ainda parecesse bastante racional enquanto tentava desvendar a conspiração contra ele.

— Onde você estava, Dwight? — continuou ele, em um tom acusador enquanto balançava Lucille na direção do loiro. — Foi a Sherry que fugiu, imagino que se alguém saiba alguma coisa...

— Estava fazendo uma busca com Esme, eu não sei de nada. — Dwight o assegurou, em uma voz baixa e intimidada. Ele realmente não sabia de nada, pelo menos não até que Esme o convencesse de que deveria acobertá-la. Ali, começou a se questionar se valia a pena.

Negan encarou Esme novamente com igual frieza, buscando confirmação. Ela assentiu.

— Estivemos procurando mais provas da sabotagem de Mason pra que o carisma dele não possa se sobrepor a traição, como parece que pode acontecer. — afirmou, sem vacilar. — Alguns amigos dele acham que ele pode ser inocente.

A última sílaba a deixar os lábios de Esme foi seguida de um baque metálico, produto do golpe de Negan contra a mesa, as duas mãos segurando Lucille com uma firmeza mortal. Dwight e Esme arregalaram os olhos quando o som ecoou pelo cômodo mal iluminado, até mesmo Simon arriscou dar um passo para trás, pego de surpresa.

— E a minha esposa? Meu prisioneiro? — ele bradou, a cabeça balançando levemente enquanto cuspia as palavras, o olhar fuzilando os três diante dele. — Alguém tem que se responsabilizar por isso!

O trio engoliu em seco, deixando a sala cair em um silêncio tenso.

— Maxwell foi o último fazendo vigia no corredor das celas. — revelou Esme de repente, o jovem Salvador era o sacrifício que estava oferecendo para que o sacrifício não fosse ela ou alguém mais útil do que Maxwell. — Ele é incompetente em outros aspectos, se faz diferença.

Negan a olhou, pensativo, conseguindo ser aterrorizante até mesmo em silêncio. Girou Lucille nas mãos, ainda ponderando antes de voltar a se sentar e erguer o olhar para Simon, buscando uma opinião. Simon estalou a língua, fazendo pouco caso imediato do Salvador.

— Diferente do Mason, o garoto é só um moleque, não tem lá muita importância. — Ele elaborou e deu de ombros. Foi naquele tom casual que Esme sentiu os ombros pesarem ao se dar conta do que tinha feito: um rapaz de não mais que vinte anos de idade ia ser punido por uma transgressão dela.

Fechou os punhos, repetindo para si mesma que era melhor ele do que ela, numa tentativa falha de amenizar o sentimento de culpa. Não sabia mais do que o nome dele, mas não conseguia evitar o gosto amargo na boca pela idéia que tinha do quanto aquele rapaz ia sofrer por causa dela, e sem saber.

Tudo isso porque fez o que achava certo.

Way Down We Go [TWD]Onde histórias criam vida. Descubra agora