Way Down We Go [TWD]

16. unwanted visitors.

Estar em Alexandria de novo era outro tipo covarde de tortura psicológica, quase uma humilhação sem a menor necessidade. Tanto para Esme em seu status atual como suposta traidora, como para Daryl como prisioneiro naquele estado lastimável no qual se encontrava — coberto de hematomas, com olheiras fundas pela falta de descanso e sinais claros de má alimentação e desidratação; e claro, muito mais imundo do que o normal.

Mas não era surpreendente que fossem expostos àquela situação, não vindo de Negan.

Ainda não passava de metade da manhã quando os Salvadores chegaram nos portões de Alexandria e o líder tirano fez seu discurso teatral costumeiro, o grupo de soldados com ele havia sido selecionado um por um e nisso, fez questão de que Esme fosse junto, e Daryl também. Ambos tinham sido moradores de Alexandria anteriormente, o que tornava levá-los com o grupo invasor uma demonstração definitiva de poder, de dominação – como se fosse um aviso sutil de que aquele que não se juntasse a eles como um, acabaria como o outro.

Os visitantes eram claramente indesejados, mas isso não era algo que pudesse impedir Negan ou fazê-lo sentir qualquer remorso. Pelo contrário. Adorava tripudiar sobre o medo desesperador que causava nas pessoas, especialmente ali, onde ainda nem fazia uma semana que tinha tornado a comunidade vítima. O pavor ainda era fresco nos ares de Alexandria, e era isso que o divertia.

O dia passou se arrastando lentamente, cada segundo parecendo uma hora. Ainda era só o começo da tarde quando Esme e Daryl, quem tinham de estar na sombra de Negan como cachorros em uma coleira, tiveram que ouvir os comentários nojentos por parte do líder dos Salvadores sobre Maggie.

O caipira não esboçou nenhuma reação ou falou nada, como vinha se tornando costume, simplesmente manteve o olhar no chão de modo vago. Estava começando a pensar que delirava durante o sono quando pensa que tinha falado com Daryl na cela durante a noite, embora soubesse que não. Era dilacerante ver aquele homem bruto e ainda assim gentil que conheceu, tão nitidamente vazio e culpado, despedaçado pela crueldade do lugar ao qual ela própria também estava ancorada.

Todavia, Esme não tinha tamanha discrição em sua reação: Negan não podia vê-la, estando passos mais a frente de ambos enquanto falava com Rick, então se atreveu a fuzilar o homem mais velho com o olhar. O líder de Alexandria tinha dado a entender que a gestante tinha falecido, possivelmente enferma, e aquele filho da puta não tinha o menor respeito ao se referir à ela, mesmo depois de morta.

Esme sentiu o coração palpitando com puro ódio, a adrenalina subindo. Mas sua raiva era principalmente de si.

Não estava lá ao lado da amiga, não fez nada para impedir o assassinato do marido dela, e agora poderia fazer menos ainda pela situação num geral. Maggie tinha morrido, grávida, traumatizada, adoecida e possivelmente furiosa com Esme. Ou pior, decepcionada. Não restava muito a se pensar sobre isso, e entre a negação e a raiva que sentia pelo luto imediato, escolheu direcionar sua fúria à Negan, o causador indireto da morte de Maggie.

Em seguida, com Negan incrédulo, foram guiados pelo padre Gabriel até o cemitério improvisado em um dos cantos perto do muro de Alexandria. Viu de soslaio Gabriel limpar as mãos na calça, esta suja de poeira, mas seu cérebro não registrou a informação aparentemente desconectada. Apenas olhou em frente para uma cova recente, que condizia com a morte de Maggie a no máximo alguns dias.

Um nó denso se formou no meio da garganta de Esme, as lágrimas presas aos cílios inferiores se esforçavam para cair, penduradas por pouco – o que as impedia de cair era a vermelhidão nas escleras dos olhos verdes, um reflexo de amargura contida que direcionava inteiramente à Negan enquanto ele insistia em suas afirmações sujas. A adrenalina que impulsionava sua vontade de esfaquear o mais velho, era a mesma que a impedia de ceder ao luto e simplesmente chorar, e assim era ao contrário, não conseguindo mover um músculo em seu momento de dor emocional.