O astro rei brilhava suave, banhando a superfície terrestre quase timidamente. O grupo de Rick estava em silêncio enquanto cruzava o pátio bem cuidado e cheio de vida. O som abafado de seus passos na terra seca e os eventuais estalos de galhos e folhas sendo esmagados por suas botas haviam sido substituídos por crianças brincando e até risadas.
Por um momento, o Reino parecia um refúgio, mas os olhos de Rick não deixavam de observar os soldados que patrulhavam o perímetro, dividido entre cautela e paranoia.
Na semi escuridão do teatro, o homem de dreads grisalhos aguardava em seu trono, improvisado a partir de uma cadeira de madeira elegante, e ao seu lado, Shiva, uma tigresa que ele tinha como animal de estimação ou amiga, estava deitada com um olhar calmo — como se soubesse que era algum tipo de realeza por estar associada ao rei local.
Shiva se movia lentamente, quase graciosa enquanto bocejava ou sacudia suas correntes ao emitir algo mais baixo do que um rugido. Não estava claro se gostava dos convidados, mas também não fez questão de se mostrar uma ameaça.
— Bem-vindos ao Reino! — Ezekiel anunciou, a voz profunda e teatral preenchendo o espaço, os braços fazendo um movimento aberto exagerado. — Eu sou Ezekiel, como nossos amigos já devem ter mencionado. — Disse ele, gesticulando para Morgan e Carol por um momento. Suas mãos então voltaram a repousar, uma delas encontrando o topo da cabeça de Shiva, afagando os pelos com uma ternura nítida pelo animal. — Estou curioso pelo motivo da visita, no entanto.
Rick hesitou. Ezekiel era... peculiar, para dizer o mínimo. O mundo tinha acabado, estava infestado de mortos caminhando e devorando os vivos que restavam, mas ali estava ele, brincando de ser rei de uma comunidade de sobreviventes.
Contudo, quando se considerava que a ameaça com a qual Rick estava preocupado também era um homem com complexo de rei, e pior, um rei louco e tirano, começava a fazer sentido de novo ter ido até ali.
Ezekiel podia ter criado aquele lugar e ter feito toda aquela encenação de rei justamente para criar para todos ali um escape, para ajudar a suportar a realidade infeliz que existia fora de seus muros. Negan simplesmente se achava rei de tudo que sobrou do mundo, e achava que todos lhe deviam respeito e servidão — era por isso que ele tinha que ser derrubado.
O xerife olhou para Carol, como se buscasse aprovação, e ela assentiu levemente, encorajando-o a falar.
— Eu sou Rick Grimes. — ele disse, se aproximando com passos calculados. — Estamos aqui porque queremos a sua ajuda contra Negan e os Salvadores.
O sorriso de Ezekiel murchou por um momento como uma flor exposta ao sol por muito tempo, substituído por uma expressão séria. Ele se levantou de seu trono, com uma dignidade quase exagerada e um ar teatral — muito condizente com o pugar que sediava aquele encontro.
— Lutar contra o Santuário é... como jogar um balde de água em um incêndio que já consome uma floresta inteira. — Ezekiel disse, escolhendo cuidadosamente as palavras. — Então, diga-me, Rick Grimes, por que eu deveria arriscar meu povo e minha comunidade para lutar a sua guerra contra eles?
O líder de Alexandria engoliu em seco. Já esperava uma negativa inicial, mas ainda não tinha planejado uma resposta prévia, um argumento imediato para convencer o rei do Reino.
Essa dúvida não transpareceu no semblante ou na postura de Rick em momento algum, e com convicção nas próprias palavras, ele respondeu:
— Não é a minha guerra; Negan não vai mais se aproveitar de nenhuma comunidade, não vai mais deixar ninguém vulnerável. — afirmou ele. — Com a ajuda do Reino, isso acaba aqui.
— Se veio aqui, não sou eu quem está vulnerável. — Ezekiel balançou a cabeça, inclinando-a levemente ao olhar para Rick mais uma vez. — E não pretendo no envolver numa luta que não é nossa.
Ele respirou fundo, sentindo o peso da segunda resposta negativa.
— Negan não vai parar em Alexandria. — Rick alegou, as mãos subindo para descansar no quadril enquanto encarava Ezekiel. — Ele vai querer o que você tem também. Mais cedo ou mais tarde, ele virá pra cá, e quando vier, será tarde demais para lutar. — Avisou ele, e enfatizou: — A única chance que temos é agora, juntos.
Houve um silêncio tenso, quebrado apenas pelo som de Shiva rosnando baixo, como se sentisse a tensão no ar.
Carol deu um passo à frente, seu olhar procurando o de Ezekiel, apenas para encontrar os primeiros sinais de hesitação.
Fazia sentido ele não querer arriscar o mundo quase fantasioso que existia dentro dos muros do Reino, não querer sacrificar as pessoas pelas quais ele era responsável pelo que parecia ser um problema dos outros.
A questão era que Negan era muito maior do que um problema e não apenas para um indivíduo ou grupo, para todos.
— Você sabe que Rick está certo. — ela disse calmamente, a voz inocente como se não estivesse instigando a dúvida já plantada na cabeça de Ezekiel. — A pergunta não é se Negan virá, mas quando. Se lutarmos juntos agora, temos uma chance maior.
Ezekiel olhou para Carol por um longo momento, depois para Morgan em um canto mais afastado e escuro, com o braço esquerdo dobrado sobre o peito e a mão destra sobre o queixo, assentindo para o rei.
Finalmente, ele deu um passo à frente com um suspiro pesado de quem estava descontente, mas derrotado. Talvez pela influência de Carol, talvez pela concordância mútua de todos ao redor dele, ou talvez simplesmente por ter aceitado a realidade do que Rick tanto parecia temer, o rei disse por fim, em sua voz mais firme:
— Então lutaremos juntos, Rick Grimes. Prepare seus homens e me conte seus planos.
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Way Down We Go [TWD]
FanfictionEntre alianças frágeis, decisões impossíveis e cicatrizes que ninguém vê, Esme descobre que os verdadeiros inimigos nem sempre são os mortos. Com o passado a perseguindo pelos corredores do Santuário e o futuro a espera nos portões de Alexandria, Es...
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