Way Down We Go [TWD]

8. a rain of bullets.

Ainda naquele mesmo dia, apenas poucas horas mais tarde, um acordo foi feito com Hilltop afinal: o grupo de Alexandria, que era bem armado e bem preparado para situações de combate, poria fim aos opressores da comunidade aliada, e em troca, receberiam os suprimentos que tanto precisavam. A idéia de provar comida fresca aguava a boca de Esme, cujo estômago só via enlatados a algum tempo. Do modo como o plano foi colocado, parecia simples, e da maneira como Rick explicou, convicto de que seria a tarefa mais fácil do mundo, não parecia que haveriam complicações. Como poderia? Jesus só sabia dizer que tinha visto em torno de vinte homens que trabalhavam para o tal de Negan. Ou seja, claramente, não tinha certeza, e chegou a assumir isso, mas o desespero de Rick por alimentar sua comunidade o fez ver só uma parte da situação, colocando Negan e seu grupo como valentões de ensino médio a serem subestimados.

Apesar do pressentimento ruim de Esme em relação a missão, tudo correu como o esperado durante a chuva de balas que impuseram ao posto avançado de Negan. Mesmo quando os "Salvadores" já estavam todos mortos, ainda tinha alguma coisa errada, e Esme parecia a única percebendo isso. Se manteve em silêncio no caminho de volta para Alexandria, apenas presa ao pensamento de que algo não estava certo.

Para um grupo tão aterrorizante, tinham sido derrotados fácil demais.

Óbvio, era covarde atacar pessoas enquanto dormiam, mas de outro jeito não teriam chance contra o número de pessoas e de armas de calibre muito maior que habitavam dentro do posto avançado. O fato era que não haviam mocinhos ou caras maus em um apocalipse zumbi: eram todos humanos, e se para os alexandrinos era preciso matar saqueadores para garantir a própria comida, que fosse. Não haviam crianças no posto avançado, mas haviam crianças em Alexandria, e elas precisavam comer bem como todos os outros.

Esme se pegou em uma linha de raciocínio diferente quando avistou os agora familiares portões de Alexandria. Percebeu que se sentia tão acolhida pela maior parte daquelas pessoas — exceto por Daryl, na maior parte do tempo, que abriu mão de seus próprios princípios pela luta deles para sobreviver. Não exatamente, na verdade, já que estava dentro do seu código moral matar para não morrer, e aquilo foi pela promessa de receber abastecimento de alimentos. De fato, mataram em nome de Hilltop para não morrerem de fome.

— Como... Como vocês se sentem agora? — Gleen perguntou nervosamente, Heath e Esme se entreolhando antes de reponderem.

— Se não fossem eles, seríamos nós, mais cedo ou mais tarde. — Ela justificou, escolhendo os ombros. Os três eram os únicos que nunca tinham tirado uma vida humana antes daquilo.

— Eu quero esquecer. — afirmou o coreano, apertando os olhos com a lembrança sangrenta.

— Acho que eu também. — Heath acrescentou.

Esme acenou em concordância. Não achava que teria tido qualquer chance contra os homens naquele quartinho se eles não estivessem desacordados quando os esfaqueou pelos olhos — uma região que por não ter nenhuma camada de osso no caminho da lâmina até o cérebro tornava tudo mais fácil e rápido para ela que não se via como alguém muito forte. Engoliu em seco quando lembrou das fotos na parede, não querendo conversar a respeito, era horrível demais para simplesmente mencionar. Mas pensando nisso, imaginou a que tipo de pessoas aquela coleção de polaroids pertencia, e ficou aliviada por ter acabado, por estarem todos mortos. Pelo menos, todos os que encontraram.

Alguns dias se passaram desde então, e tudo continuava como sempre tinha sido: Esme estava auxiliando Denise na enfermaria e com os estudos de medicina, Maggie tinha começado uma horta, Carl ficava atrás de Enid o dia todo, Carol andava um pouco distante e reclusa aos próprios pensamentos. E tinha Spencer. Ah, Spencer Monroe...

O rapaz praticamente implorava que Esme falasse dele para Rosita toda vez que encontrava com ela por aí — ele não sabia que elas de fato conversavam sobre ele, mas quando estavam tendo suas noites de garotas onde trançavam o cabelo uma da outra e Esme ouvia os desabafos de Rosita sobre como ele era insistente, apesar de ela claramente não ter interesse em nada mais sério com ele, porque afinal, "ele era um homem e os homens eram todos iguais". Esme costumava corrigi-la dizendo que eles eram, na verdade, "um pior do que o outro" mas sempre fugia do assunto quando se tratava do que a levava a pensar assim. Rosita não insistia.

Também continuava recebendo os típicos olhares de julgamento de Daryl. Todos tinham a estranhado um pouco quando chamou uma das mulheres do grupo do Negan pelo nome. Paula, a ruiva um pouco louca que tinha sequestrado Carol e Maggie por algumas horas na manhã após o ataque do grupo de Alexandria contra eles, junto de alguns outros. Todos a trataram de forma desconfiada por alguns momentos, mas Esme não sentiu a menor necessidade de se justificar e no mesmo dia isso foi esquecido. Daryl foi o último que continuou tratando-a como inimiga.

— Quem te deixou mexer com isso? — resmungou quando a primeira coisa que viu ao adentrar na enfermaria foi Esme sentada no chão, desmontando uma pistola.

— Achou que eu tava só jogando charme quando disse que queria aprender a atirar? — Esme deu um meio sorriso, provocativa, apesar de não olhar diretamente para o sulista. — Sasha tá me ensinando, achei que já tivesse notado. Sabe, eu meio que desci bala no grupo do Negan igual você. — pontuou, como se isso devesse bastar para lembrá-lo de que ela não era uma inimiga, era uma deles.

— Maggie tá passando mal. Vem logo e para de gracinha. — Apesar da afirmação e da urgência nela fugirem do assunto, isso abalou Esme visivelmente, preocupando-a de modo genuíno. Tinha muito carinho por Maggie.

— Temos que levar ela pra Hilltop. A Denise e eu não temos nada aqui sobre gravidez, não sabemos como ajudar.