O pátio do Santuário estava quase deserto, exceto por alguns Salvadores patrulhando, Esme dentre eles. A iluminação era mínima, com as sombras onde a luz das lanternas não alcançavam criando um ambiente assombroso.
Esme estava cansada, mas alerta, sentada entre os Salvadores como se fossem iguais. Rezava para ninguém perguntar por sua pistola e faca, enquanto o fuzil que passou a usar descansava contra o barril de metal que fazia de cadeira. Esme mantinha a postura defensiva, como quem não podia confiar nem na própria sombra.
Enquanto os outros jogavam carteado, apostando cigarros, ela ficou de fora. Não fumava, então se contentou em observá-los, o fuzil sempre ao alcance de sua mão.
— Esme é uma azarada! — comentou um deles em meio a conversa, o tom humorado e levemente embriagado.
Tinham voltado de uma busca onde haviam encontrado uma garrafa de whisky escocês, e decidido entre eles que Negan não precisava saber. Concordaram que mereciam uma recompensa por seu trabalho árduo e assim o fizeram, partilhando a bebida em segredo.
Mas Esme não bebia. Não com eles.
— Marshall não morreu por causa do meu azar, foram os zumbis. — replicou Esme imperturbável, revirando os olhos com a palavra azar.
Embora devesse dizer que aquele Salvador jogado no banco do carona com uma barra de ferro atravessada no peito provavelmente tinha uma história diferente para contar.
De qualquer modo, para o bem de Esme, os mortos não contavam histórias.
— Está ficando perigoso lá fora, veja Fred, não estava com ela, mas não voltou até hoje. — interviu outro, engolindo um gole generoso do whisky em seguida a menção do assediador de Enid. Convicto, acrescentou: — Não é o azar dela.
E não se tratava do azar de Esme. No caso de Fred, se tratava de uma corda em uma árvore. Contudo, Esme apenas assentiu. Se os Grimes, Daryl ou Sherry pudessem ouví-la, teriam feito uma boa careta para a encenação.
Foi quando ela desceu do barril, pegando o fuzil pela bandoleira e o pendurando no ombro.
— Querem saber? Alguém tem que fingir que está trabalhando, ou vamos ser nós naquela cerca. — ela disse simplesmente, recebendo alguns acenos de cabeça e risos bêbados.
Foi quando finalmente se afastou. Não se importava se eles morressem, a verdade era que precisava respirar longe daqueles imbecis por algum tempo depois de passar a tarde inteira aturando suas idiotices.
Caminhou até estar longe dos olhos deles, a conversa e os risos não se tornavam menos irritantes conforme a distância aumentava, dissipando parcialmente os sons que ecoavam pelo pátio. Cada vez que a gargalhada de um deles alcançava os ouvidos de Esme, seus passos endureciam mais.
Não tinha intenção de proteger o Santuário em hipótese alguma, só queria um pouco de sossego. Acabou sentada no chão, desconfortável sobre a gravilha, no espaço estreito entre dois carros estacionados, as costas pressionadas contra a lataria de um deles.
Respirou fundo devagar, ouvindo o farfalhar sutil das folhas próximas da cerca. Um zumbi seria muito mais barulhento, então se permitiu ignorar o som, fechando os olhos e descansando a cabeça no carro atrás de si.
Puxou o ar pelo nariz de novo, pronta para soltá-lo quando sentiu uma mão áspera cobrindo sua boca, a fazendo arregalar os olhos no mesmo instante. De imediato, se debateu por reflexo, parando abruptamente quando as orbes verdes reconheceram a silhueta na semi escuridão.
— Shh — Daryl murmurou, a mão livre gesticulando na frente dos lábios um pedido de silêncio.
Esme se manteve imóvel, em estupefato com a surpresa. Afastou a mão dele de seu rosto com uma mistura de choque e irritação — tinha se esforçado tanto para que ele tivesse uma chance, arriscou tanto para que ele pudesse pelo menos recuperar a liberdade... e agora ele reaparecia ali como se não pudesse morrer por isso.
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Way Down We Go [TWD]
Fanfic☆ oh, pαı, me dıgα, nós tıvemos o que merecemos? oh, nós tıvemos o que merecemos... e lαdeırα α bαıxo, nós vαmos.