19. a riot starts.

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Carl chegou correndo. Passou pelos portões de Alexandria como um furacão, procurando com um olhar atento e respiração ofegante por seu pai. Sem sinal dele, foi para casa, um lugar provável onde encontrá-lo, embora o xerife não estivesse lá também. O garoto penteou os cabelos para trás com as mãos, agitado e um pouco nervoso. Precisava falar com Rick.

A casa onde armas, comida, medicamentos e outros tipos de suprimentos eram mantidos — e que agora se encontrava deveras vazia, foi onde encontrou o patriarca, conversando com Olivia. A mulher de cabelos pretos arrumou em um movimento tímido os óculos sobre o nariz, o olhar recaindo sobre Carl com preocupação pela agitação evidente dele. Rick se virou, lhe dando o mesmo olhar.

— Onde esteve? – indagou, o tom de voz entre repreensão e curiosidade pelo estado do adolescente.

— Tem que ver isso! – disse Carl em uma voz falha, ainda arfando por ar e ignorando completamente as preocupações do pai. Tinha as mãos apoiadas nos joelhos, tentando se recompor.

— Sobre o que está falando? Ver o quê? – O xerife questionou com confusão, sabendo da inutilidade de suas perguntas contra a teimosia do filho.

No Santuário, Sherry tinha planejado tudo meticulosamente. Iria fugir, e dessa vez, não seria pega. Estava determinada: se recusava a viver daquele jeito, mesmo que isso significasse morrer tentando escapar. Até mesmo a morte era melhor do que aquele lugar.

E tudo teria corrido como o planejado, se um único soldado não estivesse fora de seu posto no exato momento em que Sherry fazia seu caminho para fora daquele lugar infernal através dos corredores vazios e frios.

Uma mulher de olhos verdes como jade e cabelo castanho passando da altura dos ombros, com uma faca pendurada no cinto e um fuzil no ombro — sem dúvidas uma Salvadora. Ela a tinha visto, e agora certamente a entregaria. O sangue começou a correr frio em suas veias diante do pensamento.

Sherry não a julgaria, sabia como o lugar funcionava; sabia que se não a entregasse, seria ela quem sofreria as consequências por acobertar a fuga de uma das "esposas" de Negan, ou pior, alguém que ela amava sofreria. Os olhos já estavam cheios de lágrimas quando conseguiu organizar uma frase:

Por favor, não me entrega. – Suplicou com a voz trêmula. Foi tudo o que conseguiu dizer. Por mais que estivesse disposta a morrer por sua chance de liberdade, ser pega antes de deixar as instalações era miseravelmente azarado.

A mulher armada balançou a cabeça.

— Eu ficaria muito brava se uma mulher me atrapalhasse enquanto fujo de um tirano misógino. – Respondeu casualmente, a voz baixa como se estivesse contando um segredo. A empatia naquelas palavras arrancou uma expressão de surpresa por parte de Sherry. Esme deu um passo para o lado, insinuando que a outra continuasse seu caminho.

— Obrigada. – Murmurou com receio, prosseguindo com seus passos de modo apressado.

Sentiu que havia algo errado a cada movimento que fazia. Era incomum, antes ou depois do apocalipse, que as pessoas ajudassem as outras por pura boa vontade. Ainda assim, aquela mulher podia ser só uma boa pessoa, para variar.

Não foi muito longe, porém. Só caminhou alguns metros até que Esme desse um pigarro, lhe chamando a atenção e lhe fazendo parar para olhar para trás, confusa e receosa.

— Mas, eu não disse que ia fazer esse favor de graça.

Sherry engoliu em seco porque não conhecia Esme; honestamente, ela acobertaria uma fuga dessas, sem pedir por absolutamente nada em troca. Isso se não fosse ela mesma a mentora. Porém, Sherry não a conhecia e logo não conseguia imaginar a disposição que ela realmente tinha para fazer parte daquilo. Esme deu alguns passos na direção da outra mulher, lançando uma chave para ela.

— Corredor na frente da enfermaria, quarta porta da esquerda pra direita. O nome dele é Daryl. Só preciso que tire ele daqui com você.

Ao ouvir aquilo, franziu o cenho, surpresa. Então, estava certa: a morena era uma Salvadora mas era humana — também tinha alguém com quem se importava ao ponto de fazer aquela barganha.

— É justo. – concordou Sherry em um sussurro, se virando para correr para sua liberdade o mais rápido possível quando Esme assentiu, a liberando de fato dessa vez. Não tinha certeza do que a outra ganhava com isso, mas se era o preço para que sua fuga não falhasse dessa vez, então que assim fosse.

Rick olhava perturbado para o porta-malas aberto do Honda Civic 2008. O banco ao lado do motorista tinha um zumbi com uma barra de ferro atravessada no peito dele e no encosto, o prendendo ali. Ainda era possível reconhecê-lo como um dos Salvadores.

O porta-malas tinha caixas de munições diversas e uma variedade de armas muito úteis — mas toda e qualquer arma era útil quando Alexandria não tinha arma de fogo nenhuma. Eram calibres grossos, nenhuma pistola.

Era armamento para uma guerra.

— O que significa isso? – A voz de Rick era baixa e incrédula, mas ainda alarmada com a possibilidade. Os olhos percorriam as armas repetidas vezes, buscando respostas para as próprias dúvidas. – Você roubou o Santuário?

— Esme roubou. Pra nós, ela quer que a gente revide. – contou Carl com alguma esperança, erguendo o olhar para o pai. – Ela quer nos ajudar. – afirmou, cheio de certeza. Que prova ainda precisavam disso quando um dos Salvadores estava morto naquele carro, e certamente tinha sido pelas mãos dela? Carl esteve no Santuário, sabia que Esme tinha motivos. Ele também queria lutar. — Ela podia ter sido morta por isso, mas fez mesmo assim. Roubou as armas e matou um deles. Ela do nosso lado.

Mas Rick ainda estava aterrorizado por Negan. A idéia de atacá-lo de qualquer forma que fosse, naquele momento, lhe parecia simplesmente inconcebível. Não queria que mais pessoas morressem, especialmente os dele. E era isso o que iria acontecer.

Não existia vencedor, os dois lados perderiam pessoas, independente de quem saísse por cima.

A diferença era que Negan tinha soldados, Rick tinha uma família — Negan apostaria vidas sem valor para ele, enquanto Rick perderia pessoas insubstituíveis.

Não era uma aposta justa, e por isso, o xerife decidiu que não valia a pena. Lutar, para ele, significava apenas perder mais pessoas amadas.

— Ela está no Santuário, não dá pra confiar. — Ele finalmente disse, medindo o tom nas palavras como se a escolha certa pudesse mudar a mente jovem e rebelde de Carl. — Começar uma guerra não é a resposta. Essas armas...

— Não pode tá falando sério. – A indignação na voz de Carl era nítida ao interromper Rick. – Esme protegeu a Enid deles! Ela nos deu uma chance de fazer alguma coisa... — Ele gesticulou para as armas, como se estivesse dizendo algo óbvio que o pai se negava a ver, ou aceitar. – O Daryl tá lá, preso, e ele é família... — recordou ele a Rick, como se fizesse um último apelo. — A gente tem que fazer alguma coisa!

— Carl, filho, eu... — Rick hesitou, fazendo silêncio por um momento. Tudo que o adolescente dizia era muito válido, mas ele ainda tinha as próprias convicções e a necessidade de fazer o que achava melhor para todas as pessoas de Alexandria. Deixou os insetos e o vento fazerem barulho ao redor, o lugar isolado e com o mato alto, perfeito para esconder o carro. Talvez, ela realmente tinha planejado alguma coisa. — É arriscado. Nós não podemos...

Nós não podemos ficar parados enquanto o Negan explora a gente. Não estamos mais indefesos, pai! — Argumentou, pegando um fuzil nas mãos como prova do que dizia, o olhar suplicando pela reconsideração de Rick. Podia imaginar os motivos que levavam a hesitação dele em lutar, mas não conseguia aceitar o que estavam passando. Só sobreviver não é viver, e aquilo não era vida. Aquela não era a Alexandria onde Judith devia crescer, uma Alexandria controlada por um homem cruel e sádico. — Esme nos deu uma chance, e ela se arriscou por isso. O esforço dela foi em vão?

Way Down We Go [TWD]Onde histórias criam vida. Descubra agora