Odiava monitorar os Trabalhadores enquanto empalavam ou acorrentavam zumbis as pedras e telas que fechavam a entrada do Santuário. Aos olhos de Esme, era uma atividade mais perigosa do que produtiva, mas pela milésima vez: o que podia fazer a respeito?
Dwight e uma Salvadora que não conhecia, com ela, eram o trio tomando conta da cerca enquanto um caminhão vindo de Hilltop descarregava caixas de legumes frescos, entre um monte de outras coisas, como melado e até armas. A atenção de Esme estava nos Trabalhadores, porém. Daryl também tinha sido colocado para ajudar com a tarefa e era por isso que Dwight estava ali — era o carrasco pessoal de Daryl, embora Esme tentasse amenizar a situação orientando o sulista e os outros desafortunados do outro lado da cerca, lhes dizendo para tomar cuidado com alguma direção, toda vez que um zumbi de algum lado fazia menção de agarrar um deles.
O som dos disparos fez todos no pátio olharem para o lugar de onde vinham os estrondos. Além das verduras, o caminhão tinha transportado um clandestino: Carl Grimes, com seu chapéu de xerife na cabeça, empunhava uma arma quase do tamanho dele, apontando-a para os Salvadores, já tendo dois deles mortos.
Esme arregalou os olhos, relaxando o corpo. Não apontaria uma arma de qualquer tipo para um garoto, e de qualquer modo, Carl era a última pessoa naquele lugar em quem gostaria de atirar. Ele também tinha dito que só queria Negan — ela também, então por que tentaria impedir ele?
O jovem Grimes pareceu perceber como ela era a única que não estava disposta a revidar, e então viu Daryl atrás da cerca, pálido como os mortos com quem estava lutando. Aquilo foi distração suficiente para Dwight derrubar Carl no chão e acabar com o plano irresponsável e mal elaborado dele.
Quis protestar e dizer que era um exagero, mas Carl já tinha matado dois Salvadores apenas no meio-tempo em que tinha aparecido, então tentar contornar as coisas dizendo que ele era só um garoto não funcionaria bem.
Que semana maldita, pensou, pendurando o fuzil de volta no ombro pela bandoleira enquanto Negan levava Carl para dentro, como convidado. Pela primeira vez, Dwight e Esme fizeram algo juntos: ambos reviraram os olhos. Contudo, aquilo aparentemente ainda era melhor do que se Negan tivesse matado o adolescente, e ela sabia disso.
De volta à suas funções, Dwight levou Daryl para dentro. Ele limparia o chão, e para que Esme não "facilitasse" o trabalho de seu prisioneiro novamente, Dwight deu um jeito de mantê-la ocupada com trabalho externo. Desse modo, a morena ficou mais tempo em buscas por suprimentos do que no Santuário.
Quando chegou, estava atrasada para o discurso de Negan, mas não atrasada o bastante para perder a demonstração de crueldade: um pobre rapaz seria punido, anteriormente namorado de uma das "esposas" de Negan, pelo que Esme tinha entendido. O pecado que havia cometido? Rumores diziam que continuava se encontrando com a mulher que amava — e se tivesse certeza, se referiria a Amber como garota, dada a aparência juvenil da loira.
O ferro quente queimou a lateral do rosto de Mark como uma vez havia queimado Dwight. O pensamento fez Esme estremecer, mas não mais do que fez o urro de dor do rapaz. Cerrou o punho quando pensou ter visto a pele derretida de Mark presa a superfície do ferro em brasa como um chiclete mastigado sendo esticado, um gosto amargo surgindo na língua dela com o vislumbre da imagem.
Do outro lado, Daryl também assistia, sem reação — era difícil dizer se o cenho franzido era repulsa, simpatia ou outra coisa, ele estava assim desde que tinha sido levado ao Santuário, e ela não conseguia não entendê-lo. Como esperado, estava acompanhado por Dwight que, apesar de tentar disfarçar, tinha ainda mais desconforto no olhar: ele já havia tido a experiência em primeira mão.
Virando o rosto para o lado, Esme encontrou as "esposas" enfileiradas, todas assistindo. Afinal, a lição era para elas. Amber chorava histericamente, as outras aterrorizadas, mas em silêncio. Sherry abraçava a mais nova: ela sabia como era estar no lugar dela. E por um momento, o coração de Esme sentiu seu coração menos dilacerado. Pelo menos, elas cuidavam umas das outras.

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Way Down We Go [TWD]
FanfictionEntre alianças frágeis, decisões impossíveis e cicatrizes que ninguém vê, Esme descobre que os verdadeiros inimigos nem sempre são os mortos. Com o passado a perseguindo pelos corredores do Santuário e o futuro a espera nos portões de Alexandria, Es...