Todos os caminhos que tentaram para chegar até Hilltop estavam bloqueados por, pelo menos, o dobro da quantidade de pessoas que eles tinham dentro do trailer, e trocar tiros com uma grávida a bordo era tremendamente estúpido, levando-os a contornar o caminho repetidas vezes. E então, com o passar do tempo dirigindo em círculos, aquele dia se mostrou desperdiçado.
O grupo de Alexandria foi se vendo cada vez mais encurralado por aquilo que pensaram ser um novo grupo, enorme e espalhado por todo lugar, especialmente aqueles por onde tentavam passar, impossibilitando-os de chegar até a comunidade aliada, enquanto o estado de Maggie se agravava. Glenn não saiu do lado dela nem ao menos por um minuto, enquanto Esme tentava controlar a febre repentina da gestante de qualquer forma como pudesse. Sua preocupação com Maggie e a criança que ela gerava superava seu aborrecimento com viagens demoradas, que já tinha se revelado em outras ocasiões, especialmente na primeira ida a Hilltop. Transparecia nos olhos de Esme o quanto queria poder fazer mais para ajudar, mas o olhar de Maggie ainda era gentil para ela, mesmo que fosse praticamente inútil para a situação que a esposa de Glenn estava passando, ainda eram amigas.
Em determinado momento, surgiu uma idéia: uma parte iria no trailer para chamar atenção em outro ponto, enquanto a outra parte iria a pé carregando Maggie pela floresta. Parecia perfeito enquanto se preparavam. Esme ficou na divisão que atravessaria a floresta, porque uma pessoa a mais para limpar o caminho de zumbis era útil, embora também porque poderiam precisar de uma enfermeira com certo grau de experiência.
O orvalho gélido e o breu noturno causavam calafrios, intensificando a adrenalina que o momento de execução do plano causava. Esme teve a impressão de que Maggie já tinha pedido mais de uma vez para ir andando, quando sua atenção e a de todos os outros foi chamada por assobios em perfeita sincronia, quase melodiosos, surgindo gradualmente no meio do mato e das árvores no escuro. Era calculado, os espantando como ratos em uma direção específica, embora não percebessem isso. Todos estavam em alerta, e em um nível considerável de desespero.
Esme sentiu um puxão na gola de seu casaco pela parte de trás enquanto o resto do grupo corria desnorteado, sem dar falta dela quando luzes foram acesas, se revelando como faróis de veículos estacionados formando um semicírculo. O impulso a manteve no lugar enquanto o grupo de pessoas do qual Esme fazia parte corria a diante, carregando a amiga grávida e febril. Os olhos verdes giraram rápido para encontrar seu agressor, reconhecendo o rosto do mais velho de imediato.
— É mesmo você... Eu achei que tinha começado a ficar louco. Mas era você, afinal. — A voz masculina era familiar e carregada de surpresa, como se não esperasse encontrar Esme viva nunca mais.
— Você... — Os ossos de Esme estremeceram em reconhecimento, e em seguida, um soco pesado acertou sua boca. Nada mais foi dito, mas ele levou a arma na cintura de Esme e a faca que, sem coragem para usar, ela deixou cair no chão. Não queria dar a ela a chance de se recompor de seu choque e pânico, para que não reagisse.
Foi levada para junto do resto do grupo, sendo colocada de joelhos também, entre Carl e Eugene na ponta esquerda. Apesar de alguns ainda se manterem firmes, todos temiam por seus destinos e os dos amigos ali, onde todos estavam desarmados e de joelhos, completamente a mercê de um número muito maior e muito bem armado de homens. Não reagiria se nem mesmo Rick o tinha feito, mas não conseguiu evitar sussurrar para Eugene quando viu seu rosto inchado e avermelhado, até um pouco ensanguentado.
— Eles te bateram?
— Eu tô bem. — A voz trêmula o entregava. Estava apavorado como todos os outros, incluindo Esme, que não estava naquela cena pela primeira vez. Eugene evitou olhar para ela mas, se tivesse olhado, teria visto o canto dos lábios de Esme inchando também.
O estômago de Esme se torceu, seu corpo gelado quando ela reconheceu seu entorno. Não o lugar, não os rostos no lado oposto, mas a situação, embora reconhecesse mais uma voz além disso, essa sem nome para ela:
— Vamos trazer os outros agora. Dwight? — Um homem loiro com uma cicatriz de queimadura na lateral esquerda do rosto andou até o outro, logo, respondendo ao chamado. Não tinha a menor idéia de quem era esse, embora ele segurasse uma arma muito familiar... A besta de Daryl. — Anda logo.
Sentiu que deveria, entretanto, não baixou a cabeça, vigiando o que Dwight faria a seguir. Mais a frente estava o trailer deles e próximo, uma van cujas portas traseiras foram abertas por Dwight. Aquele outro homem falou de novo:
— Vamo lá, uma reuniãozinha pra vocês.
Entendeu a ironia na voz dele quando Rosita, Michonne e Daryl foram puxados para fora da van. Daryl estava enrolado em um cobertor sujo, vislumbres de manchas de sangue no interior. Ele parecia tão fraco, estava pálido. Os olhos de Esme arregalaram vendo que ele mal parava em pé.
— O que fizeram com ele? — Não foi alto o suficiente, mas o mesmo homem a ouviu, soltando um riso amarelo.
— Hm, ele é especial pra você?
— Não! — respondeu sem exaltar a voz, afinal era verdade, pensava. Ele era forte e vê-lo daquele jeito era perturbador, igual com Maggie... Esme parou. Achava Daryl forte? Balançou a cabeça em negação, tentando se tirar dessa linha de pensamento. Que grande bobagem. Talvez o admirasse por ter tido um papel muito importante ao inseri-la no grupo, mas era só isso, não valia a pena se entregar a confusão que o medo estava fazendo em seus pensamentos. — Ele não é especial; mas me importar com as pessoas do meu grupo é um direito meu, não concorda?
Ela se encolheu em seu lugar enquanto observava o homem que a puxou pela gola do casaco e lhe socou a boca indo cochichar algo no ouvido de Simon, como descobriu se chamar o tal homem. Não viu o olhar orgulhoso de Rick para ela, no entanto. Ele pareceu feliz que ela estivesse se sentindo tão familiarizada com eles, que se sentisse tão incluída e parte do pacote quanto os outros. Simon a olhou mais uma vez, com certo entusiasmo após a informação que o outro levou até ele.
— Você tem potencial, garota. — Ele disse, apontando o dedo para ela e então se afastando, admirando todos já ajoelhados enquanto caminhava até o trailer. — Hora de conhecer o homem!
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Way Down We Go [TWD]
FanfictionEntre alianças frágeis, decisões impossíveis e cicatrizes que ninguém vê, Esme descobre que os verdadeiros inimigos nem sempre são os mortos. Com o passado a perseguindo pelos corredores do Santuário e o futuro a espera nos portões de Alexandria, Es...
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