Abra a porta

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(P.O.V. Marlene)

(07/06/1981)

Desde a morte de Dorcas eu voltara a morar com minha mãe e meu padrasto. Cerca de dois meses depois, Matthew e Martin voltaram para lá também.

Estávamos perdendo a guerra, isso era nítido.

Após meu surto, por causa do luto, pensei seriamente em abandonar a guerra e sumir do mapa. Mas Dorc havia morrido lutando. Se eu abandonasse a guerra a essa altura do campeonato, seria como desonrar a memória dela... e isso eu jamais faria.

Desde janeiro daquele ano eu partia no máximo de missões que eu conseguisse participar. Salvei muitas pessoas, tanto trouxas quanto bruxas. Mas não era o suficiente para tentar tampar o vazio dentro de meu peito. A impotência que eu sentia por não ter conseguido salvar a única pessoa que realmente me importava.

Era de manhazinha quando eu fui até a cozinha para tomar um copo d'água. Todos dormiam, exceto eu. Já tinha um tempo que eu não sabia o que era dormir direito. Os pesadelos não me deixavam em paz.

Suspirei ao começar a preparar um sanduiche para mim, fazendo barulho mesmo e fodasse. Todos daquela casa tinham um sono extremamente pesado. O mundo podia cair lá fora e ninguém acordaria.

Meu olhar se recaiu sobre mim mesma enquanto me olhava no vidro e esperava o sanduíche esquentar. Eu estava acabada. Olheiras profundas. Rosto magro. Lábios secos. Cabelos caindo. Eu parecia muito mais velha do que realmente era. A guerra havia acabado comigo.

Respirei fundo ao desviar o olhar.

Me sentei a mesa e foi o prazo de apenas uma mordida até meu café da manhã ser interrompido por uma batida na porta. Puxei a varinha que mantinha meu coque no lugar e caminhei até a porta. Observei pelo olho mágico quem era e a abri.

- Posso saber o que você tá fazendo aqui tão cedo? – indaguei.

- Preciso conversar com você – a voz de Peter saiu assustada.

- Aconteceu alguma coisa? – Ele assentiu e eu o deixei entrar, trancando a porta em seguida. – O que foi?

- Sirius não tá respondendo minhas cartas, acho que alguma coisa aconteceu.

- Já avisou pra Dumbledore? – Peter assentiu mais uma vez. – E o que ele disse?

- E-eu... – As mãos dele começaram a tremer e lágrimas romperam por suas bochechas.

- Peter? Quer uma água? Tenta se acalmar, tá? Respira – falei, virando-me de costas para pegar um copo d'água para ele. – Você quer comer alguma coisa? Posso fazer um sanduiche pra você e... – Arregalei os olhos ao vê-lo pelo reflexo a minha frente, apontando a varinha em minha direção. – Peter?

- S-sinto muito.

- Abaixa essa varinha, agora, Pettigrew. Se usaram Imperius em você, trate de quebrar essa maldição.

- Não posso.

- Peter!

- N-não posso. – O feitiço saiu de sua boca, mas não antes de eu jogar o copo de vidro cheio de água contra o seu rosto e sair correndo em direção ao meu quarto, já que era o quarto mais próximo.

Eu tranquei a porta e comecei a bater contra a parede que fazia divisa com o quarto de Matthew e gritei. Fiz o máximo de barulho que eu podia. E, de repente, só ouvi uma explosão.

Meu coração se quebrou.

Não era só Peter que estava ali. Havia mais pessoas... Mais comensais.

Minha varinha... Eu havia deixado ela na mesa.

Empurrei todos os móveis que eu consegui para frente da porta, para dificultar a entrada em meu quarto. Corri para dentro do banheiro e me mantive ali, com o pânico percorrendo por meu corpo.

- Marlene? – a voz dele se fez presente, dando breves batidinhas. – Marlene, eu sei que tá aí. Vamos conversar. Preciso que entenda.

Peter...

Eu tapei minha própria boca para evitar que os meus soluços pudessem ser ouvidos.

Peter.

Peter era o traidor.

Ele havia nos traído.

E eu abri a porta para que ele entrasse.

- Marlene... Marlene, abra a porta! Marlene! – gritou, socando a porta.

Ele continuou gritando, socando, chutando... até que o silêncio reinou.

E então...

- Querida – eu ouvi aquela voz... A voz dos meus pesadelos. – O seu amigo quer falar com você, deveria ter mais respeito... Aposto que seus pais lhe ensinaram como ter educação... Ao menos... Eu ensinei.

Denry Mckinnon. Meu pai.

- Eu vou contar até três, Marlene. E quando eu chegar no três, você vai ouvir um grito da sua mãe. Se mesmo assim não sair. Vou repetir a contagem e vou acertar seus irmãos e seu padrasto. E se ainda você não tiver saído, eu vou arrombar essa porta e vou fazer você ficar admirando os corpos, da mesma forma que eu obriguei você a fazer com a sua irmã. Me entendeu?

Isso não era um blefe. Era exatamente o que ele tinha prometido há anos atrás, antes de ser levado para Azkaban. Como...? Como ele havia saído?...

- Um. Dois. – Eu abri a porta e vi seu sorriso crescer. – Oi, filhinha. Sentiu saudades do papai? – Me mantive em silêncio, vendo os corpos na sala... é óbvio.

- Me enganou – o sussurro saiu.

- Não, apenas imaginei que você ficaria mais inteligente ao longo dos anos. Acho que me enganei.

Meu estômago se revirou ao ver o que ele havia feito com minha mãe e eu perdi minhas forças, me ajoelhando e vomitando, e chorando, e sabendo que eu morreria também.

- Se lembra da minha promessa? – Senti seu pé contra as minhas costas, me empurrando contra o chão cheio de sangue e vômito.

- Eu sou sua filha. Eles eram seus filhos!

- Não – Denry se agachou, tocando meu rosto. – Ele era o seu pai. – Seu dedo apontou para meu padrasto, todo desfigurado. – Sua mãe confessou enquanto eu matava seus irmãos. Finalmente ela disse a verdade. Você não é minha filha. Mas entre todos, você sempre foi a mais parecida comigo. – Seu polegar fez carinho contra minha bochecha. – Se eu não tivesse prometido matar todos vocês, eu a deixaria viva, meu bem. Talvez até cuidasse de você..., mas, infelizmente, eu sou um homem de palavra.

Ele se levantou e eu sabia que a varinha estava apontada para mim.

Meu olhar foi em direção a Peter.

- Eu espero que você tenha uma morte muito lenta, Pettigrew – falei e ouvi várias risadas ao meu redor.

Ele engoliu a seco.

- Essas são suas últimas palavras? – Fiquei quieta. – As da sua amiguinha foram muito melhores. – Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, eu ouvi a maldição da morte e depois, mais nada.

...continua no próximo capítulo...


(Recadinho da autora: O efeito borboleta está surgindo, querides, e não é querendo assustar vcs, mas vai piorar... rsrs)

Os Marotos (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora