A primeira aula

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Remus sentia a onda de desprezo vinda de Snape. O professor de poções nem mesmo pensara em disfarçar a forma como o olhava quando Dumbledore o apresentou diante de todos os alunos como o novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas.

Sabia que não seria fácil conviver com Snape, mas pensou que, nessa altura da vida, já teria amadurecido o suficiente para esquecer as "rixinhas" da adolescência. Não precisavam ser amigos, nem conversar um com o outro, porém o mínimo que Remus esperava era o respeito vindo de um colega de trabalho.

Tal respeito nunca ocorreu.

Remus não se deixou abater, sorrindo ao planejar sua primeira aula.

Bakker uma vez avisara, quando foi professor em Hogwarts, da tradição do bicho-papão. Alguém deveria passa-la adiante, não?

Todos os alunos já estavam sentados com os livros depositados nas mesas. Remus entrou poucos minutos atrasado com o malão já em mãos.

- Boa tarde – cumprimentou e se recostou na mesa, observando todos. – Por favor guardem todos os livros de volta nas mochilas. Hoje teremos uma aula prática. Os senhores só vão precisar de varinhas.

Inúmeros olhares curiosos o rodearam enquanto guardavam suas coisas nas mochilas.

- Certo, então – disse, desencostando-se e indo em direção à porta. – Queiram me seguir. – Não sobrou um na sala, assim como já imaginava.

Um corredor vazio. Mais alguns passos. E Pirraça estava ali, interferindo em seu caminho. O poltergeist pareceu perceber sua presença, sem nem olha-lo e a musiquinha que sempre cantarolava quando Remus chegava perto, ressoou:

- Louco, lobo, Lupin... Louco, lobo, Lupin... – Os cantos de seus lábios se ergueram levemente, nostálgico.

- Eu tiraria o chicle do buraco da fechadura se fosse você, Pirraça – disse em resposta, notando o que ele estava aprontando. – O sr. Filch não vai poder apanhar as vassouras dele. – Como já esperava, Pirraça o ignorou, fazendo sons um tanto quanto inapropriados.

Remus deu um suspiro antes de empunhar a varinha e direcionar seus olhos aos alunos.

- Este é um feitiçozinho útil. Por favor observem com atenção. – A varinha foi direcionada. – Uediuósi! – O chicle disparou com tudo em Pirraça, fazendo-o sair às pressas.

- Maneiro, professor! – exclamou o filho de um de seus antigos colegas da Ordem, Thomas. Ou seja, aquele garoto era...

- Obrigado, Dino. – Ele pareceu surpreso, mas Remus não o olhou por tempo demais. Ninguém ali precisava saber que ele já fora colega de vários pais daqueles alunos. – Vamos prosseguir? – indagou retoricamente, já que não esperava respostas. Virou-se ao guardar a varinha e seguiu o caminho pré-definido: a sala dos professores. – Entrem, por favor – disse, abrindo a porta e deixando os alunos passarem.

Remus encarou Snape ao nota-lo sentado em uma poltrona. O que, por Merlin, ele estava fazendo ali? Um sorriso irônico cresceu nos lábios do professor de poções enquanto observava-o da mesma forma ridicularizadora que sempre fazia.

- Pode deixa-la aberta, Lupin. Eu prefiro não estar presente. – Remus piscou sem demonstrar afetação, apontando com a mão o caminho para fora da sala. – Provavelmente ninguém o alertou, Lupin, mas essa turma tem Neville Longbottom. Eu o aconselharia a não confiar a esse menino nada que apresente dificuldade. – As mãos tiveram que se apoiar uma contra a outra para que se impedissem mutualmente de chegar até o rosto de Snape e lhe socarem o nariz. – A não ser que a srta. Granger se incumba de cochichar instruções ao ouvido dele.

Os Marotos (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora