Capítulo 1

243 8 1
                                    


- Não se esqueçam de me mandar os trabalhos até à próxima quinta-feira! E, antes que me esqueça, a pedido da associação de mobilidade da escola, devo-vos falar sobre a abertura do prazo de inscrições para Erasmus do próximo semestre – avisa-nos o professor de estatística – terão o mês de novembro inteiro para vos inscreverem e, no início de dezembro, sairão as colocações. Por isso, o melhor será começarem a pensar para onde querem ir e verem quais são os requisitos de entrada de cada universidade. No site da escola poderão ver tudo isso, incluindo as universidades disponíveis para cada curso. E é isto. Vejo-vos na próxima aula – diz, enquanto pega nas suas coisas e caminha em direção à porta.

FINALMENTE as aulas acabaram. Só por hoje, mas acabaram. Mais um segundo sentada naquela cadeira e ia dar em louca. A minha sanidade mental já deve ter chegado a números negativos.

Estamos na primeira semana de aulas! PRIMEIRA SEMANA! E já temos uma carrada de trabalhos e apresentações para fazer, fichas marcadas ... Como é que vou sobreviver a um ano inteiro disto.

Olha que a ideia de ir de Erasmus não está a parecer muito má. Dizem que nas universidades estrangeiras, como em França ou na Alemanha, não é um ensino tão teórico. É mais prático e supostamente ganhas muito mais tempo livre. E que, para além de adquirires muita experiência, também fica no teu currículo, A maioria das empresas consideram-no muito atrativo quando vão para contratar alguém. Só tem prós.

No entanto, conhecendo-me, não acredito que consiga sobreviver muito tempo noutro país. Significava que tenho de ser independente e responsável, ou seja, deixar de ser preguiçosa. O que é simplesmente impossível. Não conseguiria sobreviver sem ver, no mínimo, três episódios das minhas séries por dia, ou passar uma tarde inteira a ouvir música, a ler ou escrever. Impossível.

Mas pior ainda ... ter de conhecer e SOCIALIZAR com pessoas novas.

Morri aí.

Eu até que me considero uma pessoa simpática e não me importo de passar o meu tempo com as pessoas que mais gosto. Por exemplo, desde que entrei na universidade passo a maior parte do meu tempo na Pastelaria Oliveira (não mais que em casa, com o amor da minha vida que é a minha cama querida, óbvio). Eu e as raparigas estamos sempre lá ou para estudar ou para falar e comer. E não ajuda que a Bia trabalhe aí.

Mas ter que falar com alguém que nunca vi na vida, e, ainda por cima, o mais provável é ter de ser eu a começar a conversa, não dá para mim. A minha bateria social não serve para tudo, temos pena.

Sinto-me muito mais confortável em estar com aquelas que já me dou bem. Não sinto necessidade para mais. E falando nisso....

- Sofi, queres vir à pastelaria comigo? A Bia tem um turno agora e a Ana combinou passar por lá mais tarde.

Acredito que não saibas quem é a Sofia. Tens sorte. Ela é uma pessoa interessante de conhecer. Quando começas a falar com ela nas primeiras vezes, parece ser uma rapariga muito simpática, querida, sem maldade nenhuma naquela alma. Depois, ela passa a sentir-se à vontade contigo e tu começas a sofrer bullying todos os dias.

Ok. Posso estar a exagerar. É só que a sua forma de mostrar afeto e amor é atacando os outros, resumindo. E eu que o diga. Todos os dias sofro. Principalmente pelo meu tamanho, como ela é maior que eu para aí uns dez centímetros. Mas lá no fundo (mesmo, mesmo no fundo) ela gosta muito de nós, mesmo não o admitindo. Ela é uma softie no final do dia (mas não lhe digas que eu te disse isto ou ela mata-me).

No caso da Bia, ela é o completo contrário. É muito dramática na sua forma de ser. Literalmente. Se ouvires umas gargalhadas muito altas, provavelmente é ela que se está a rir no fundo da rua. Não estou a exagerar. Tu podes estar a quilómetros dela e ainda a ouves a falar. Outro aspeto interessante, e completamente diferente da Sofia, é o facto que, se pudesse, viveria só de abraços. Ela ADORA abraços. É uma pessoa muito adorável e que se abre facilmente aos outros.

Enquanto à Ana, acho que a posso descrever como um mix de tanto a Sofia e a Bia. Abre-se facilmente às pessoas, gosta de mostrar aos outros que gosta deles e é muito sociável, exatamente como a Bia Essas duas parecem conhecer tudo e todos. Como já deves estar a imaginar, as duas são as fofoqueiras do grupo. Acontece algo a alguém e nesse mesmo dia já sabemos de tudo. Melhor que a cm.

No entanto, a Ana também pode ser uma flor difícil de cheirar, como a Sofia. É muito direta. A pessoa mais direta que conheço. Diz-te o que pensa e se não gosta de algo não fica calada, mesmo que não o gostes de ouvir. E nem penses em te meteres com ela. Pode ser pequena, mas ferra. Isto é na brincadeira (mas, não vou negar, às vezes até penso que o vai fazer literalmente).

Já que falei destas três, vou também falar da Íris. Ela é a atleta do nosso grupo. Joga basquetebol (é a mais alta de nós), adora handebol (o pai dela é arbitro) e odeia futebol (diz ser overrated). Nunca a irei compreender nesse aspeto, o que pode estar relacionado com o facto de eu ser um zero à esquerda no que diz respeito a qualquer tipo de atividade física. Ela, tal como a Sofia, não é de mostrar muito afeto aos outros e, como a Ana, é direita. Fun fact, ela não consegue ouvir 25% do ouvido esquerdo, o que é uma informação muito importante (não). Vais ouvir isto muito, só para te avisar.

Somos todas amigas desde o secundário. Fomos da mesma turma e tivemos muita sorte de termos ficado todas nesta universidade. É uma das melhores do país. Eu e a Sofia estamos a estudar economia, a Ana e a Bia gestão e a Íris matemática, todas agora no segundo ano. Somos praticamente inseparáveis, até partilhamos apartamentos e tudo, eu com a Ana e a Íris e a Sofia com a Bia.

Acabando as apresentações, voltemos ao presente. A Ana tem aulas de natação depois das aulas (couldn't be me, nem morta me vês a fazer qualquer atividade física de livre vontade) e normalmente vamos juntas embora, então vou ficar à espera dela na pastelaria e assim faço companhia à Bia. Também posso aproveitar o tempo e escrever um bocadinho, ouvir música e lanchar (tem lá uns croissants de morrer por mais).

Não me importava de ter companhia no caminho, mas não pensei bem a quem a estava a pedir. Sabes o que a Sofia me respondeu?

- E ter que aturar pessoas, principalmente Bias, de livre vontade? No thanks.

Não te preocupes. É uma resposta típica dela. I'm used to it.

Guess I have to walk there alone.

Oh well.

É a vida.

É a vida

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Sweet Love (Kim Seungmin) PTOnde histórias criam vida. Descubra agora