Capítulo 4

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Passou-se um mês desde que falei com aquele rapaz. Um mês completo!

Nunca mais o vi o que, de certa forma, eu agradeço aos deuses do céu. Deus me livre de ter de passar outra vergonha ao ter de falar com ele mais uma vez. Já pensei em muitos cenários em que nos voltávamos a encontrar e, digo-te já, nenhum foi em meu favor.

Deste modo, posso concluir que ele não frequenta a nossa universidade. Ou pelo menos não está num curso que esteja relacionado com a nossa área, ou eu o veria no edifício da faculdade de economia e gestão.

Ter que o ver a passar quase todos os dias seria tortura. Depois daquele dia, quando estava a tentar dormir só conseguia pensar na nossa interação e senti a vergonha toda outra vez, como se estivesse a reviver esse momento. Foi critico. Ya? Porque é que eu haveria de dizer isso? E "vemo-nos por aí, I guess"? Eu devia andar nas drogas nesse dia, só pode.

Mas, se tiver de ser honesta, mesmo achando que só passo vergonhas à frente das outras pessoas, existe uma parte dentro de mim (bem lá no fundo) que o queria voltar a ver. Tu não percebes, ele era mesmo, MESMO lindo. E ele tinha sido tão simpático.

A Bia passou a noite toda, quando estávamos a jantar com as outras, só a falar dele. Como parecia ser um príncipe, como foi tão querido com ela e que, em vez de ficar irritado por ela se ter enganado a pôr o pedido duas vezes no computador (Bia, tu fizeste isso de propósito, não foi?), só se riu e disse-lhe que não se devia stressar com isso. Até começou a fazer conversa e a lançar piadas para aliviar o ambiente.

No entanto, a vida não o trouxe de volta. O melhor é, simplesmente, guardar esse dia nos baús no sótão da minha memória. Se calhar não o ter voltado a ver é o universo a dizer-me para continuar a viver livre do gajo lindo. Consegui até agora, consigo até sempre.

- Eu sei que normalmente reclamo que falas demais, Teresa, mas estou a ficar preocupada. Tu vieste o caminho todo em silêncio. Quem és tu e o que fizeste à minha amiga - diz-me a Sofia, com o que acho ser uma cara de preocupada (acontecimento raro, a Sofia finalmente mostrou sentimentos).

- Em primeiro lugar, Ó MEU DEUS! TU CHAMASTE-ME DE AMIGA! ISTO É HISTÓRICO! VOU O ANOTAR NA MINHA AGENDA!

- Retiro o que disse.

- Cala-te! E, em segundo lugar, não me lembro de tu alguma vez me teres mandado calar - o que, agora que penso nisso, é um bocado chocante que nunca tenha acontecido. Eu quando começo a falar, não paro, o que pode levar às pessoas ficarem muito irritadas comigo. Além de que isso seria algo que a Sofia teria dito.

- Não te disse, mas penso ... - faz uma pausa e suspira - muito.

- Tens sorte que eu te adoro - e com isto dou-lhe um sorriso enquanto ela me faz uma cara de enojada. Ah... adoro a nossa dinâmica. - É melhor despacharmo-nos ou a professora mata-nos.

Tu deves te estar a perguntar o porquê da nossa pressa, right? A situação é a seguinte: a nossa professora de microeconomia mandou-nos um email ontem (a mim e à Sofia) a pedir-nos para ir ter com ela para conversarmos sobre algo muito importante. E, como se não fosse óbvio, estamos uns minutinhos atrasadas (a culpa não é minha, obviamente).

Quando finalmente chegamos à sala, a respirar de uma forma que se pode comparar à forma como os cães ficam quando acabam de correr, sabes, com a língua de fora, que mais parece que estão a ter um ataque de paragem respiratória, a nossa professora observa-nos com um olhar de interrogação (não faça perguntas, por favor).

Ainda demoramos um tempinho a estabilizar a nossa pressão arterial (repito, não sou feita para fazer exercício físico) e cumprimentamos a stora.

- Bom dia. Estava a ver que nem amanhã vinham - exagera a professora Olga (só passou 5 minutos da hora, dramatic much).

- Pedimos muitas desculpas. O autocarro atrasou-se - não se atrasou nada, mas não me vais ver a dizer que eu é que não o apanhei a tempo por querer acabar de ver um episódio de um drama (priorities)

- O importante é que já se encontram aqui. Vamos agora falar do porquê de eu vos ter chamado. - Com isto, a prof põe dois panfletos na sua secretária - Como vocês devem saber, ou deviam, a nossa faculdade tem um projeto de mentoria. Ou seja, todos os alunos que necessitam de ajuda nos estudos ou querem ajudar outros nesse aspeto podem-se inscrever.

Eu considero-me uma pessoa inteligente (pode não parecer, mas sou) e acho que já consigo imaginar o que a professora Olga quererá de nós. And I am not liking it.

- Infelizmente, existem poucos mentores inscritos no que diz respeito aos cursos ligados às ciências sociais, como economia. E como acredito que vocês são uma das minhas melhores alunas, eu gostaria e espero muito ver o vosso nome nesta lista. Obviamente não é algo obrigatório. Vocês participam se quiserem. - E olha-nos de uma forma que parece indicar que não temos muita manobra de escolha, contrário às suas palavras.

Inscrever-me nesse projeto significa que vou ter menos tempo para ver séries ou ler, o que é um problema enorme só por si (não nos vamos relembrar da razão por me ter atrasado), mas também terei de falar e dar explicações a pessoas que provavelmente nunca falei na vida. E sou obrigada a participar! A vida é mesmo injusta.

Depois de assinarmos os nossos nomes de forma voluntária, que não parece ser tão voluntária quando tens uma velha a fixar-te com uns olhos de falcão e a fazer pressão, saímos da sala.

- Só vou rezar para que fique com alguém fácil de aturar. Já te tenho que aturar todos os dias, não preciso de mais dores de cabeça.

- Uau, Sofia. Sempre com a simpatia. Também te adoro.

 Também te adoro

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Sweet Love (Kim Seungmin) PTOnde histórias criam vida. Descubra agora