Borboleta preta

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Zhou Wei andava tranquilamente pelo jardim da seita com A'Wu. Os dois iriam cuidar das galinhas enquanto seus amados conversavam na varanda. Como sempre, Xiao não estava falante. Na verdade, a maior parte do tempo, ele apenas resmungava para tudo o que Zhou Wei dizia.

-Vocês não têm mais seita? - Zhou perguntou, esquecendo completamente a delicadeza nas palavras.

A'Wu concordou, e pela primeira vez no dia, começou a falar, usando sua voz serena e rouca de sempre.

-Perdi a minha seita na guerra, e A'Liang foi expulso da seita dele, então apenas fugimos juntos. Meus irmãos conseguiram estabelecer o clã novamente, mas não tive coragem de encontrá-los de novo.

Depois do desabafo, Wu sentiu-se mais leve. Não falava dos seus irmãos há anos; ele sentia saudade de sua família.

-Por que você não quer encontrá-los? - Zhou perguntou, prestando muita atenção em todos os movimentos do rapaz.

--Culpa, eu os deixei e fugi com A'Liang no momento em que eles mais precisavam de mim. Acredito que eles devem amaldiçoar o meu nome hoje em dia.

Wei sentiu-se triste pelo homem. Sabia muito bem como era aquela sensação. A culpa nos rasga por dentro e por fora. Uma vez que você se sente culpado por algo, não tem mais volta, a não ser que você resolva tudo com a pessoa na qual errou.

-Eu acho que sua família ficaria feliz de te ver novamente. Mesmo que você tenha sido covarde, você priorizou a pessoa que mais amava, e eles vão entender isso -Zhou disse, sorrindo para o homem mais baixo.

-Você é muito sábio, irmão Wei.

Os dois homens sorriram e começaram a cuidar das galinhas. Nem perceberam o olhar dos seus parceiros em suas costas.

-Eles são bem parecidos, não acha? -Liang perguntou, enquanto comia uma maçã.

-Meu homem é muito mais bonito que o seu. Tirando isso, eles são bem parecidos - Huang zombou.

Os dois rapazes começaram a discutir, e a garotinha parecia perdida com tantos homens ali. Ela concluiu que eles eram idiotas e resolveu ir atrás de uma borboleta preta que a encarava no jardim. O inseto começou a levá-la para a entrada da seita, pousando na mão do homem de olhos verdes.

- Olá, garotinha - Ming disse, enquanto se agachava para ficar na altura dela.

- Faz tempo que não vejo você, o que aconteceu, tio? - A garotinha perguntou, ingenuidade esbanjava em seu olhar.

Ming apenas resmungou baixo e sorriu. A borboleta tornou forma e virou Liu Yang, o homem que a garotinha amava.

- Tio Yang! - Ela exclamou e pulou em seu colo, sentia tanta saudade dele. Já fazia muito tempo que eles não se encontravam.

- Pirralha, sentiu a minha falta? - Yang sorriu e segurou a garota em seu colo. Ele gostava dela.

A garota beijou a bochecha do homem e alisou o seu cabelo.

- Você diminuiu, tio? - A garota perguntou. Ele parecia um pouco mais baixo para ela.

Yang gargalhou e deixou a garotinha no chão.

- Eu não diminuí, você que cresceu, garotinha.

Jiayi sorriu e olhou para si mesma; realmente, ela havia crescido e engordado também. Seu peso parecia bom para sua altura.

- Eu vou chamar o papai para você conversar.

- Não, garotinha, ele não quer me ver. Por favor, não diga que estive aqui, está bem? - Yang abraçou a garota sorrindo; ele não queria criar uma briga.

- Vocês ainda estão brigados, não é? Tudo bem, eu não vou dizer nada - A garota disse e beijou a bochecha do homem novamente, enquanto acenava.

Os dois homens sorriram e acenaram para ela, sumindo no horizonte logo em seguida. A garota concluiu que realmente eles só tinham ido ali para vê-la, como sempre faziam, mas que nas semanas passadas não haviam feito.

- Eu sempre vou guardar o seu segredo comigo, tio.

☆☆☆

A princesa estava enrolada em sua manta. Não havia ninguém na cama com ela. Começou a imaginar que tudo aquilo foi um sonho, até ouvir uma batida na porta.

- Princesa, posso entrar? - Era a voz do garotinho, o ser humano que ela havia esquecido completamente de manhã.

Ela correu e se vestiu, arrumando a cama e tentando parecer o mais agradável possível.

- Entre, querido - ela disse.

O garotinho entrou. Atrás dele estava o seu marido, que parecia feliz, apesar de não conhecer o garoto.

- Ele me contou que você o salvou. Não sabia que era tão forte assim, minha princesa - Kai exclamou.

A mulher sorriu e pegou o garotinho no colo, abraçando-o.

- Ele que me salvou, na verdade - Meilin disse, beijando a bochecha do garoto.

Li Kai olhou para os dois e sorriu. Imaginava que seus filhos seriam tão carinhosos quanto a mãe e provavelmente iriam gostar muito de Huan. Talvez pudesse até adotá-lo e transformá-lo no herdeiro da seita, na qual Kai havia herdado depois do falecimento de seu pai.

-Seu pai ofereceu o castelo para morarmos. Vamos para lá e levaremos as últimas pessoas que restaram da nossa seita. Meu pai não está mais vivo, preciso governar - Kai parecia tranquilo enquanto dizia isso. Ele pegou todos os pertences da princesa e segurou em sua mão.

-Vamos levar a criança também? - A garota perguntou, torcendo para que ele concordasse.

O homem acenou com a cabeça e sorriu para o garoto. Os três saíram do local e instruíram as pessoas, levando-as até o castelo que até agora estava abandonado. Uma grande faxina foi feita no local. As mulheres limpavam os quartos e o jardim, enquanto os homens limpavam as salas principais. O lugar era enorme. Eles poderiam ficar ali por décadas, era totalmente confortável para isso.

-Seu pai ainda está vivo, está em cativeiro. Eu vi ele - O rapaz falou, abraçando a amada por trás.

Ela se espantou com a informação. Pela primeira vez na vida, desejou que seu pai estivesse morto, mas os deuses pareciam não ser justos o tempo todo.

-Ele lhe falou algo? - A mulher sussurrou, sua voz falhou; ela odiava não conseguir disfarçar sua angústia.

- Ele falou que o castelo é nossa moradia, e que Huang vai ser coroado logo e vai reinar, mesmo que ele não queira... Ele me pediu para matar o seu irmão - O homem sussurrou a última parte, sabendo que ia deixar a mulher nervosa.

- O que? - Ela gritou e se virou para olhar nos olhos laranjas do homem.

- Eu não fiz isso. Na verdade, eu ajudei o seu irmão a fugir do local. Fizemos um acordo - Ele disse, segurando o ombro da mulher.

Ela encarou o homem em silêncio. Queria perguntar que tipo de acordo era aquele, mas não queria ser intrometida. Seu pai sempre disse que ficar calada seria melhor para ela.

- Pode falar. Eu gosto de ouvir a sua voz. Você quer perguntar sobre o acordo, não é? - Li Kai perguntou.

Ela concordou, suspirando. Sentia-se cansada, não fisicamente, mas mentalmente. Seus olhos se fecharam por um momento, e ela sentiu lábios familiares tocarem a sua bochecha. Abriu os olhos imediatamente e encarou o parceiro.

- Eu amo você. Não esconda nada de mim. Suas vontades, desejos e segredos podem ser compartilhados comigo. Sou seu marido, nunca vou lhe julgar - ele declarou. Queria dizer isso a ela há algum tempo.

A mulher sorriu e agarrou o rosto do homem, beijando-o com desejo, compartilhando suas angústias e medos naquele momento.

- Eu ainda estou aqui - o garotinho disse.

The Great WarOnde histórias criam vida. Descubra agora