A esperança é a primeira que morre

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Estou em um campo de flores, rodeado de crianças brincando. Minhas mãos seguram um arco e flecha e eu me posiciono para atirar. Não tenho controle sobre o meu próprio corpo, eu atiro no alvo, mas erro.

Solto um gemido de dor depois que viro para trás. O pai de Yang me deu um tapa no rosto, sinto minha pele queimar, esse homem não é nada fraco.

- Eu lhe disse para treinar mais, por que errou um alvo tão fácil?

Eu abaixo a cabeça involuntariamente, não consigo controlar meu corpo, senão já teria chutado esse velho gordo. Levanto minha cabeça e faço uma reverência para o homem, afastando-me logo em seguida.

Eu não estou sonhando, estou vivendo uma memória novamente, mas dessa vez, eu sou o Yang. Eu não sei se fico triste ou feliz de estar no lugar dele. Eu sei que a sua vida não é das melhores, mas eu quero saber mais sobre a sua vida de certa forma.

Eu caminho lentamente até uma árvore, um garoto conhecido está lá em cima. Seus olhos pousam em mim e eu sorrio, o garoto desce da árvore e me encara. É o Zhou Wei, meu querido Zhou Wei.

Ele sorri e pega na minha mão, me levando para uma colina, a paisagem rural do vilarejo é linda, cheia de cerejeiras e árvores frutíferas.

- Você está atrasado, A'Wu está esperando a gente.

Eu solto uma risada e começo a correr até o topo, quando chego lá, vejo o meu suposto irmão tentar atirar em uma árvore, mas sua postura é ruim demais até para conseguir acertar o chão.

Eu me posiciono atrás dele e o ajudo a atirar. Com a minha ajuda, ele consegue acertar o meio do alvo. O garoto sorri e começa a pular de alegria.

Zhou Wei sorri e puxa nós dois para um abraço apertado, parecemos irmãos, apesar de não termos laços de sangue. Mas como sempre, a felicidade foge das minhas mãos, como se fosse areia.

Alguns homens vestidos de preto correm até nós e pegam suas espadas. Nós recuamos até sentirmos a dureza das árvores atrás de nós. A'Wu está tremendo e me abraçando com força, enquanto A'Wei me protege com seus braços. Ele é bem maior que eu, apesar de termos no máximo 15 anos.

- Não protejam esse garoto insolente, ele merece apanhar depois de errar tanto no arco e flecha.

- Ele merece apanhar só por errar o alvo? Então você deveria apanhar por ter apontado a sua espada sem a autorização do chefe. - Zhou Wei grita

Isso me lembra de quando Zhou Wei me contou que uma das regras do seu vilarejo era não apontar a espada para alguém sem a autorização do líder, que no caso, é o pai de Yang.

O homem parece ficar sem palavras, ele abaixa a espada e encara seus companheiros de equipe, todos estão boquiabertos com a ousadia do garoto, acho que não esperavam isso de alguém que nem nasceu originalmente naquele lugar. Parece que o meu homem sempre foi bom em provocar as pessoas.

Eu solto um grito de dor quando sinto uma espada bater em minhas costas, não preciso nem olhar para trás para saber que foi o meu pai, ou melhor, o pai de Yang.

O homem velho me olha com desdém e me bate com sua espada de novo, dessa vez eu caio no chão e sinto um gosto de sangue impregnar a minha boca. O meu irmão começa a chorar e se ajoelha na minha frente, impedindo o homem de se aproximar de mim.

- Você não pode fazer isso com ele, papai.

Zhou Wei se aproxima do A'Wu e fica ao lado dele, me protegendo. Começo a suspeitar que as únicas pessoas que gostam do Yang são esses dois.

- Se tiver que machucar alguém, então machuque nós dois também.

Ergo meu olhar, sei que A'Wei que disse isso, e não consigo parar de pensar no quanto ele é cuidadoso e gentil com todos que ama. Eu sinto uma dor se estalar em minhas costas, me impedindo de levantar.

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