Cabe a você escolher

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Eu pensava que sabia o que era sofrimento, mas eu estava errado. A dor que senti era agoniante, meus ossos doíam, minha cabeça latejava de dor, o sangue fresco escorria do meu pescoço. Eu morri naquele dia, não do jeito que você está imaginando, eu morri como o vilão que eu sempre fui.

Você deve estar pensando como estou contando essa história se eu "morri". A resposta para essa pergunta é bem simples: vaso ruim não quebra.

Eu não quebrei e nunca vou quebrar. Eu vou viver para sempre, meu legado vai ser passado de geração em geração. Eu nasci aqui para mudar o mundo, para ser invencível e eu fiz isso.

Bom, de qualquer forma, vou explicar como fui morto, ou quase morto. Isso depende da interpretação de cada um. A única coisa que posso afirmar com certeza é que eu nunca fui um narrador muito confiável. Talvez se a história fosse contada por Zhou Wei, as fontes seriam mais verídicas (ou justas).

Eu tinha acabado de acordar, Ming trouxe uma bandeja de remédios e água para mim, seus cabelos estavam mais desgrenhados que os meus e olheiras profundas decoravam seu rosto. Ele me contou sobre toda a viagem no tempo e todos os acontecimentos do dia anterior.

Eu comecei a rir desesperadamente, como tudo isso aconteceu e eu não me lembro de nada? Encarei o homem com desdém, esperando que ele começasse a sorrir e me dissesse que era uma pegadinha, mas ele não o fez.

- Você pode acreditar em mim ou não, isso não importa, eu só quero que me ajude a encontrar o Yang, ele está desaparecido desde ontem.

- Quer dizer que eu fiz um pacto de sangue e passei por todas essas coisas em um dia só?

Ming revirou os olhos e sentou ao meu lado, deixando a bandeja no meu colo. Eu apenas comecei a tomar os remédios sem contestar, ele é o único que pode me dizer o que realmente aconteceu ontem, e eu preciso saber.

- Eu realmente fiz tudo isso? - Pergunto, ainda meio desconfiado.

- Sim, mas não se preocupe, todos estão bem, exceto Yang, que está desaparecido.

Sua voz carrega uma amargura muito evidente; ele deve pensar que a culpa é minha, que o seu amante desapareceu por minha causa. E talvez seja minha culpa mesmo.

Ele solta um suspiro alto, me olhando com aqueles olhos de esmeralda. Eu sempre odiei esses olhos; eles são tão bonitos que sempre me sinto mal quando tenho que mentir para ele.

- Não é minha culpa, Ming - Eu digo, levantando da minha cama e saindo do quarto o mais rápido possível.

Minha covardia me impediu de olhá-lo nos olhos. Quando saí do quarto, senti meus joelhos fraquejarem; a mentira nunca foi algo com o qual eu era bom em lidar.

Não importa o quão convincente eu fosse, a mentira enganava os outros, mas não a mim mesmo. Eu queria dizer a ele a única parte da noite passada da qual eu me lembro, mas não poderia dizer a ele o que eu fiz.

Não que eu me importe de não ser perdoado, mas não quero mais nenhum conflito agora. Eu solto um suspiro longo e entro no quarto de Zhou; a decoração dourada deixa o lugar ainda mais encantador. Modestamente, eu sou ótimo escolhendo a decoração dos quartos, ainda mais das suítes principais, que são o meu quarto e o de Zhou.

Ele está sentado na cama, lendo um livro no qual não consigo identificar o nome. Quando eu me aproximo, ele ergue a cabeça e sorri.

- Como está, pimentinha? - Seu sorriso radiante me faz sorrir de volta.

- Estou bem, e você? - Sento ao seu lado, segurando sua mão com força.

Seus olhos estão avermelhados; eu sei que são as consequências da guerra da noite passada. Eu beijo seus lábios, sentindo seu gosto cítrico. O homem não demora muito para me puxar para o seu colo.

- Antes de irmos comer... podemos, por favor, ficarmos juntos assim só por mais um tempinho? - Ele diz, sussurrando em meu ouvido.

- Claro, eu nunca resistiria ao meu homem.

É incrível que ele tenha um rosto tão feroz e assustador, mas quando está olhando para mim, tudo que eu vejo é um homem sensível e gentil no qual quero passar o resto da minha vida.

Esse homem faz meus olhos brilharem, seus lábios são tão macios quanto seda, seu corpo é esbelto e forte, sua personalidade é doce como mel. Ele é minha alma gêmea.

Ele deita em cima do meu corpo, suas mãos grandes seguram minha cintura, apertando-a gentilmente. Seus olhos dourados cintilam, suas pupilas estão dilatadas, sua respiração ofegante me faz soltar um suspiro baixo, ele está sussurrando em meu ouvido, me provocando. Ele quer que eu delire e que implore por seu toque. Merda, ele sabe exatamente que é isso que vou fazer.

- Zhou... não me provoque... - Eu sussurro, me sentindo fraco demais para falar mais alto.

- Quem está provocando quem aqui? - Ele sorri, sua risada sempre fica um pouco mais sarcástica quando ele está me desafiando. E eu não posso negar, eu amo isso.

Queria ter a chance de provocá-lo de volta, de tocar em seu corpo e sentir sua pele se arrepiar. Eu queria ser tocado de uma forma mais intensa naquele momento, mas uma batida na porta nos interrompeu, indicando que o café está pronto. Zhou levanta e arruma os próprios cabelos, que eu havia bagunçado alguns minutos atrás.

O vento faz a janela do local abrir e nós dois tomamos um susto, batendo as testas rapidamente. Nos encaramos e começamos a rir, zoando da nossa própria idiotice. Eu pego na mão do homem e saio do quarto, levando-o para a sala de jantar, na qual também utilizamos para tomar café da manhã. Ele se permite ser levado por mim e fica atrás do meu corpo.

As pessoas passam por nós e apenas algumas fazem reverências, grande parte dos funcionários ainda é devoto ao meu pai, o antigo rei. Eu não me importo com essas pessoas, eles não me tratam como uma ameaça, sou apenas uma pessoa normal para eles, isso é ótimo, na verdade. Eu não quero ser o centro das atenções, não agora.

- Meu Rei... por que está com essa cara? - Zhou diz, sinto sua mão tremer um pouco. Ele está com medo de mim?

- Nada, meu bem, estava apenas pensando na comida. Vamos? - Eu entro na sala, tentando ao máximo não demonstrar nenhum sentimento.

Quando chegamos à mesa, todos estão ali: Ming, minha irmã, meu cunhado, as crianças e a cadeira vazia de Yang. Eu sento na primeira cadeira, que é a mais alta, destinada somente a mim. Zhou senta ao meu lado, seu sorriso radiante faz todos os outros sorrirem. Eu costumava ser o que sorria mais... O que era mais amado... O mais fraco...

Que bom que não sou mais assim. Talvez a coroa tenha me dado uma nova oportunidade de ser alguém realmente importante, mesmo que eu tenha que ser bruto. É melhor do que ser alguém fofo, mas insignificante.

Apenas as pessoas bondosas preferem ser amadas do que colocar medo. Mas eu digo... que é mais fácil e eficiente fazer alguém ter medo de você do que amar você. Cabe a você escolher se prefere ser amado ou temido.

Eu oscilo entre os dois. Eu não quero ser tão temido, muito menos tão amado. Eu quero ser adorado, reconhecido, respeitado. Não preciso de mais nada além disso.

O amor não vai me trazer benefício algum, e o medo muito menos. Mas a adoração das pessoas, a aprovação do povo... isso sim vai me fazer ser reconhecido. O povo é a maior parte da sociedade, se eu tenho eles em minhas mãos, não precisarei de mais nada.

Se alguém cria problemas e aflige as pessoas, meu dever é pará-lo, e foi isso que eu fiz... eu o matei.

- Amor? - Zhou diz, me olhando com aqueles olhos chamativos.

- Desculpa, eu estava viajando... - Sorrio e abaixo a cabeça.

O homem segura meus ombros, me fazendo olhar para ele, o desespero está evidente em seu olhar. Ele balança o meu corpo e grita:

- Quem você matou?

The Great WarOnde histórias criam vida. Descubra agora