The Great War

A ponte nebulosa

Talvez o ato de matar alguém não seja o mais impactante de todos, talvez seja a pessoa que você matou, se você matar um ente querido, você vai ser taxado como um vilão, se você matar alguém que ninguém gostava, você vai ser um herói. Mas e se não for nenhum dos dois?

E se você tiver matado alguém bom, mas que teve ações ruins? Alguém gentil, mas impiedoso? Do que você deveria ser chamado? Quando descobrir, por favor, me diga.

Todos esses anos eu sempre fui o que protegia os outros, dava a vida pelos outros, chorava pelos outros. Até o momento que eu cansei de ser feito de trouxa, toda a tristeza e o ódio que eu guardei em meu coração transbordaram. Talvez a minha raiva seja maior que meu senso de justiça, acho que isso que me levou a matar o Yang.

Estava de madrugada, todos nós tínhamos ido para nossos quartos, mas eu continuava inquieto, acabara de descobrir que meu maior rival atual tinha sofrido com uma infância perturbadora. O que eu poderia fazer para salvar meu povo e, ao mesmo tempo, salvar Yang? Ele parecia tão cansado quanto eu, suas olheiras estavam profundas e sua pele pálida contrastava com a luz do local.

Sua aparência dava a entender que ele queria competir com um morto-vivo, e com certeza ele ganharia. Eu senti dó desse homem, queria ajudá-lo, mas sabia que se o fizesse, o meu povo não entenderia por que estou ajudando o homem que matou o rei e estilhaçou seitas inteiras. Eu não poderia simplesmente escolhê-lo.

Infelizmente, não obedeci minha própria mente. Saí do quarto às pressas, procurando pelo homem. Era como se ele soubesse minhas intenções, pois ele estava ali, na frente de seu próprio quarto, encostado na porta com os braços cruzados.

- Me procurando, Huang? - Ele diz, seu sorriso sarcástico me deixa ainda mais apreensivo.

- Liu Yang, você precisa ir embora, vá para outro reino, mude de nome e não deixe ninguém descobrir sobre você e o Ming... - Eu digo, segurando seu braço, tentando fazê-lo acreditar em mim. Eu queria enganá-lo e precisava conseguir.

Ele me encara, seus olhos parecem mais negros com a luz do luar. O lugar onde estamos tem um lindo lago com diversas flores de lótus por sua extensão. Estamos ao lado da ponte que nos leva do jardim para os dormitórios. Eu sinceramente acho esse lugar lindo demais para ter uma cena tão triste, então eu puxo Yang para o outro lado, onde está o jardim.

Eu não sei por que, mas ele me permite guiá-lo, e eu o levo até o final do jardim, onde ninguém pode nos ver. Nossa... me sinto um assassino profissional. Ele encara meu rosto com desdém e dá um tapa em minha mão, para que eu pare de agarrar o seu braço. Eu solto um suspiro de dor com a sensação.

- O que você realmente pretende fazer comigo? - Yang me encara, seus olhos negros me dão medo, mas eu não demonstro

- Eu é que pergunto, o que você realmente pretende fazer em meu castelo?

Ele mostra seu sorriso sarcástico que eu tanto odeio, seus cabelos estão balançando com o vento frio da noite e a vista que costumava ser agradável já não parece mais. Estou carregando apenas uma adaga pequena, mas muito afiada, não sei dizer se ele percebeu e eu realmente espero que não.

Não quero assustá-lo, só preciso que ele desapareça daqui, e do mundo... e de preferência o mais rápido possível. Eu sou rápido... certeiro, cravo a adaga em sua barriga, seus olhos se arregalam instantaneamente, ele não acreditava que eu poderia fazer isso, mas sinceramente... nem eu acreditava.

Eu tiro o objeto pontiagudo de seu corpo, o sangue escorre por seu abdômen lentamente. Essa ferida não vai matá-lo, nem sequer vai doer tanto amanhã, mas sei que vai alcançar meu objetivo.

Ele não vai mais confiar em mim, vai me odiar na primeira oportunidade, e é isso que eu tanto almejo agora.

- Huang Jun... - Meu cunhado está na frente de seu dormitório, me encarando. Eu esqueci completamente que essa área é onde ele está instalado. Ele me olha, o pote de água que carregava nas mãos agora está estilhaçado no chão e sua boca está aberta.