Galinhas

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Meus olhos se abrem com o estrondo e eu me levanto imediatamente. Ming está parado na porta, a bandeja com comida que estava em suas mãos está no chão. Ele alterna o olhar entre mim e Zhou Wei. Parece surpreso, seus olhos se arregalam da mesma forma que os meus quando vi meu noivo no dia passado.

- Então você dormiu o dia inteiro por causa dele, agora faz sentido. Pensei que estivesse doente - ele disse, parecendo extremamente calmo para alguém que acabou de ver uma pessoa supostamente morta.

Zhou estava atrás de mim, seus braços fortes me puxaram para a cama novamente. Ele beijou meu pescoço e sorriu para Ming.

- Ele está muito bem. Diga a Yang que tudo deu certo e por favor vá embora - ele disse, sua voz soou mais autoritária que o normal.

Ming o obedeceu prontamente e fechou a porta do quarto. Ele nunca me obedece dessa forma. Realmente, eu não tenho moral nenhuma com aquele cara.

- Você manda nos meus criados agora? - eu digo, zombando de sua atitude.

Eu queria fazê-lo sentir-se um pouco inferior a mim, mas falhei nisso. Ele gargalhou e beijou meu pescoço, não deu a mínima para o que eu disse.

- Meu príncipe está sempre tão azedo. O dia está lindo hoje, deveria estar feliz - ele disse, ainda beijando meu pescoço.

Eu me desvencilhei dele e encarei seu belo rosto, esperando uma explicação racional. Ele percebeu o que eu queria e desviou o olhar, parecia se sentir culpado por algo.

- Sua mente é tão barulhenta, consigo ouvir as engrenagens do seu cérebro. Apenas me conte tudo o que aconteceu, não é difícil.

Ele olhou para mim e assobiou, sua expressão demonstrava algo entre orgulho e admiração.

- Estou impressionado, meu príncipe é muito mais inteligente agora - ele disse, usando sua voz serena, tentando me distrair.

Revirei os olhos e ameacei sair da cama. Ele puxou meu braço novamente e ficamos de conchinha, encolhido nos braços dele enquanto ele começava a falar.

-Yang me levou para o vilarejo dele e precisou usar magia negra para salvar a minha vida. Fez diversos rituais e, quando acordei, depois de três dias do incidente, ele parecia exausto. Estava literalmente me dando todo o seu sangue e energia para que eu sobrevivesse. Eu senti pena dele, por um momento até esqueci que meu assassino estava na minha frente. Ele sorriu tanto ao me ver acordado que começou a chorar e se desculpar. Eu nunca o vi naquele estado, me senti até culpado por demorar para acordar.

Suas palavras pesam na minha mente. Não consigo imaginar Yang chorando, ainda mais por ter matado alguém que já estava enganando tanto há meses. Eu nunca pensei que ele se arrependeria desse ato. Meu noivo continuou falando, soltando um suspiro pesado.

-Ming nunca apareceu lá. Ele foi fiel a você e terminou com Yang. Isso o deixou ainda mais devastado, pois perdeu o amante e o melhor amigo na mesma semana. Ele explicou o motivo de querer tanto os seus poderes e chorou tanto que até fiquei com pena. Eu o abracei e esperei até que ele se acalmasse. Yang não é do tipo emocional; ele costuma esconder seus sentimentos de todos, mas vi a dor em seus olhos por ter que guardar essas emoções em seu coração por tanto tempo. Eu o perdoei.

Eu encarei seus olhos no mesmo instante, tentando averiguar se aquilo era uma piada ou algo parecido, mas seu rosto estava calmo, não havia mentiras ali. Eu queria gritar e dizer que Yang não merecia o perdão dele, mas não o fiz. Apenas balancei a cabeça em negação.

-Eu sei que não deveria perdoá-lo, mas senti necessidade. Ele foi quase um irmão para mim a vida inteira, eu não podia deixá-lo na mão assim.

Suas palavras estavam me deixando enjoado. Eu pulei da cama e vesti minha roupa. Ele olhou para mim com lágrimas nos olhos, parecia prestes a desmoronar.

The Great WarOnde histórias criam vida. Descubra agora