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Aos 18 anos, Gael era um recém-saído do ensino médio e passou alguns meses esperando pelo resultado do Enem, ele lembra que nunca se sentiu tão nervoso quanto na semana de inscrições para o Sisu, não conseguia dormir direito e quando conseguia, estava - literalmente - sonhando com a sua vaga na universidade.

Pode parecer ou não, pela sua posição nos dias atuais, Gael era um bom aluno e recebeu premiações por isso.

Quando o site atualizou com os resultados, Gael estava trêmulo e começou a chorar, gritar e pular dentro da casa, junto a sua mãe e irmã mais nova.

Seria calouro em engenharia química pela UFRJ naquele ano.

Entrar em uma universidade pública pode não parecer tão significativo assim, mas Gael veio de uma família pobre, ele jamais passou fome e agradecia imensamente por isso, mas nunca tive muitos luxos, nasceu e foi criado na favela, se esgueirando pelos becos e vielas, subindo e descendo escadarias.

Naquele dia ele foi grato por ter chegado ali, o primeiro da família a entrar na universidade, motivo de orgulho e comemoração.

Os primeiros dias foram animadores, Gael amava a química e como era complexa, essa era a sua motivação quando se deparava com ônibus lotado as 6:30 da manhã.

Ele entendeu que era um homem gay um ano antes, revelou para mãe - que disse que sabia - e pra irmã, ambas encheram ele de abraços e falas positivas.

Tinha um garoto no ônibus que lhe chamava atenção todos os dias, foram assim por semanas, ele subia um ponto depois e descia no mesmo que Gael.

Até que um dia, em meio de tantas pessoas naquele ônibus lotado, Gael tinha vencido a disputa por um acento livre, conforme o caminho foi seguindo, o lugar ao seu lado ficou livre, e nada mais nada menos que o garoto que ele tinha gay panic sentou ao seu lado.

Era agora.

Gael estava longe de ser tímido, mas aos 18 anos ele não sabia flertar direito, só tinha ficado com duas pessoas antes.

- É... hm, oi. - Ele disse e depois limpou a garganta, achou que sua voz tinha saído esquisita. - Dá UFRJ também né?

- Oi, sou sim. - A voz era suave e ele tinha um leve sorriso nos lábios. - Cursa o quê?

- Engenharia química, e tu?

- Direito.

- Porra, humilhou meu curso agora.

- Caô, eu gostava de química orgânica.

- É bem legal mesmo, esse primeiro período tá fácil até.

- Também tô no primeiro, qual o seu nome?

- Gabriel, e o teu?

- Dante.

- Diferente, mas gostei.

E foi assim que Gabriel conheceu Dante, eles se tornaram amigos, todos os dias Dante entrava no ônibus e varria o olhar pelas pessoas até encontrar Gael, acenando para ele e ficando perto pelo resto do caminho.

Eles falavam sobre tudo, faziam reclamações sobre a faculdade, contavam experiências que tinham, se aconselhavam, riam, compartilhavam fofocas.

Era aquele tipo de companhia que era gostoso de ter.

Aquela amizade ia além de dentro do ônibus, começaram a sair juntos, ir um para casa do outro, Gael gostava do que eles tinham.

Durante o começo do segundo ano de faculdade, Gael se sentia desesperado, ele não tinha dinheiro pra nada e era péssimo ficar pedindo dinheiro à mãe, já bastava ela sustentar ele e a irmã, não queria ficar pedindo dinheiro a mais.

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