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quinta

Deitada nas bancadas da escola, os meus cabelos eram penteados pelos dedos da Pipa, visto pousar a cabeça nas suas pernas. Sentia-me derrotada da noite mal dormida. Tanto pensei, que nada dormi e o meu humor estava terrível.

Felizmente a professora faltou. A última aula do dia estava a ser passada no esteiro, na bancada. A conversa baseava-me no surto do dia anterior. As mensagens que recebia ao longo do dia eram dela a exigir uma conversa. Não respondi. Não as li ao fim de três seguidas. Não queria falar com ela. No entanto, uma outra chegou ao ecrã.

- Ela diz que me vem fazer uma espera à porta da escola. - Comentei sem querer acreditar. - Acham que tem coragem?

- Provavelmente. Ontem também te bateu... Nada me choca vindo da tua mãe, amiga.

- Pois, infelizmente, nem a mim.

Decidi apanhar o autocarro mais cedo, para não me cruzar com ela. Pelo caminho, desejava que as suas palavras não se concretizassem. Pelo menos, à porta da escola não estava.

Quando saí do autocarro, apressei-me a chegar ao edifício, deixando-me distrair com movimento à entrada do campus, onde os rapazes assinavam camisolas e tiravam fotos com os adeptos. Estava à procura do João, encontrando-o no meio de um grupo de miúdos entusiasmados.

Nem dentro dos carros estavam. Alguns sim, mas os mais novos não. Tirei uma fotografia e enviei-a para o meu namorado no insta. Deduzi que não a fosse ver por estar tão ocupado.

Mantive-me à porta do prédio à espera que terminasse a sua sessão de autógrafos e fotos, de modo a reparar em mim. Achava mesmo querido, gostava de o ver rodeado de fãs. Pouco depois, ele acenou na minha direção.

Assim, diante de todas as pessoas.

Quando a quantidade de adeptos diminuiu, vi-o a correr lentamente na minha direção.

- Como estás? - Abraçou-me assim que dei um passo na sua direção, levando-me a suspirar. Não me cansava daquele seu aperto.

- Estou bem e tu? Não tive a última aula.

- Estou bem. Melhor agora. - Afastamos-nos para conseguir olhar nos meus olhos.

- Foi por isto que faltaste à aula? Foi por isto que não te vi sair? - Aquela voz arrepiou-me dos pés à cabeça. - Que tristeza...

- Volta para o campus, está bem?

Hesitou. Pedi-lhe por favor. Deu-me um beijo rápido na testa e passou a estrada sem encarar as paranóias da minha mãe. Agradeci mentalmente, pois não precisava de ser crucificada à frente dele ou de qualquer outra pessoa.

Assim que parou à minha frente começou a disparar num tom elevado, fazendo-me inúmeras perguntas sobre o João, principalmente se era ele o meu namorado e o porquê de ter fugido.

- Ele não tem que aturar uma louca como tu aqui aos gritos sem necessidade.

- Tu não falas assim comigo!

As palavras fugiram novamente da minha boca, ainda que num tom de voz baixo e calmo. Gritar e encher-me de nervos não ia acontecer novamente após o que senti no dia anterior.

JUST YOU  ➛ JOÃO NEVESOnde histórias criam vida. Descubra agora