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Ohana


Eu continuava encarando o rosto bondoso daquele médico.

Qual era o nome dele mesmo?

Bem, não importava. Nada importava.

Porque eu estava grávida.

- Era o que eu imaginava.

Aquela parecia ser a voz de Alex.
Ah, sim. Alex. Ela estava ao meu lado.
Mas não importava.

Porque eu estava grávida.

- Ohana?

A voz dela soou ao meu lado outra vez. Até onde eu lembrava.

Pigarreei de forma suave, apenas para fazer algo além de respirar. Me pareceu ser a coisa mais fácil a fazer.

Tentei raciocinar, mas obviamente não consegui. Ainda assim, fui capaz de pronunciar a única resposta que meu cérebro havia conseguido formular, em uma voz tão assustadoramente calma que só tornava mais claro o tamanho do meu desespero.

- Isso é impossível.

Talvez aquilo fosse uma óbvia prova de que eu duvidava dos conhecimentos médicos do Dr. Carter. Talvez ele se enfurecesse comigo, mas eu não estava exatamente me importando com isso. Mesmo assim, ele não pareceu se abalar com minha descrença, e seu sorriso permaneceu sincero.

- Ah, não. Não é. Não estou dizendo que você pode estar grávida. Estou dizendo que você está.

Eu inspirei.

E expirei.

E inspirei outra vez.

- Não existe a possibilidade de ser outra coisa? - Perguntei, calma e pausadamente.

- Não. O que você acabou de fazer foi, além de outras coisas, o exame Lena HCG. Ele diz se você está ou não grávida, e qual o estágio da sua gravidez, através da medição da quantidade do hormônio HCG no seu corpo. Seu resultado deu, indubitavelmente, positivo.

- O resultado desse exame... - Comecei, de olhos fechados - Constatou que eu tenho esse hormônio?

- Veja bem, o HCG é produzido não só na gravidez...

- Então eu posso não estar grávida! - Interrompi-o sem a menor educação, desesperada para me agarrar àquele pequeno pedaço de argumento.

Ele me olhou pacientemente e sorriu ainda mais, como se eu tivesse algum retardo mental.

- O valor de referência do hormônio em mulheres não gestantes é inferior a 25 mUI/mL. O seu deu aproximadamente 17.000 mUI/mL.

Encarei-o como uma imbecil. Tentei pensar em algo que servisse como argumento, mas raciocinar parecia muito difícil.

"Não é óbvio? Você está grávida".

"Você está grávida".

"Grávida".

- Ohana? - Alex chamou de novo. De novo, não respondi.

- Doutor? - Chamei.

- Pois não? - Ele respondeu, sorrindo.

- Isso é impossível. - Concluí, esperando que ele me mandasse ir à merda a qualquer momento.

- Por que acha ser impossível? - Ele perguntou, ainda muito agradável.

- Porque eu tomo anticoncepcionais. - Respondi, com um ar de triunfo.

- Desde quando?

"Desde sempre", eu queria responder. Mas pensando bem, aquela não era a resposta certa.

My Dear Whore - OhanittaOnde histórias criam vida. Descubra agora