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QUARTO MÊS


Ohana


Àquela altura, eu estava completamente transformada, e me transformava continuamente, dia após dia. Não era apenas pela aparência que se podia dizer isso: Embora minha barriga simplesmente houvesse resolvido crescer de uma vez só, compensando os quase três meses de disfarce, era também no meu humor que a gravidez se manifestava.

Se no início as mudanças bruscas de comportamento deixavam tanto Larissa quanto a mim mesma um pouco confusas, agora elas pareciam nos pegar completamente de surpresa. Cheguei a ter medo de estar desenvolvendo algum tipo de bipolaridade, já que, às vezes, era uma questão de segundos para que meu humor mudasse radicalmente, com direito à lágrimas e berros. Mas o dr. Becker nos certificou de que aquilo era normal.

Aparentemente, Larissa estava começando a ter um pouco de medo de mim. Claro que grande parte das vezes, quando brigávamos (sempre por motivos idiotas, porque meu humor resolvia entrar em crise) ela não respondia o que responderia normalmente só porque tinha medo que, insistindo na discussão, meu nervosismo atingisse níveis perigosos para a gravidez. Mas em alguns momentos eu realmente a notava um pouco tensa, sendo excessivamente gentil e mansa. E mesmo que isso só me irritava mais, ela parecia decidida a bancar o tipo de namorada "tudo-que-você-quiser,amor".

Ameacei-a de morte algumas vezes, e talvez porque eu parecesse sincera, em determinado momento ela passou a me sufocar menos. Me senti vitoriosa apenas até o momento em que seu pequeno afastamento trouxe uma sensação completamente absurda de abandono. Depois de muito drama, nós duas conseguimos balancear as oscilações que meu humor sofria, e então ela sabia quando era a hora de se afastar e quando era a hora de grudar em mim.

- Amor? - Ela gritou assim que ouvi a porta da sala ser batida.

- Quarto! - Gritei de volta, ainda me encarando no espelho enorme do closet apenas de calcinha e sutiã, exatamente o que estivera fazendo durante os últimos dez minutos.

Larissa entrou já com o blazer na mão, desfazendo de alguns botões da blusa e parecendo cansada. Não me mexi, ainda encarando o espelho. Esperei que ela se pronunciasse parada ali atrás de mim, também encarando o nosso reflexo.

- Tudo bem? - Ela perguntou, me olhando como quem olha uma granada prestes a explodir.

Assenti com a cabeça, lutando contra o biquinho pré-choro que começava a se formar no meu rosto.

Ela obviamente percebeu que não estava tudo bem, e por isso se aproximou, beijando meu pescoço de leve enquanto jogava despreocupadamente seu blazer em algum canto, envolvendo seus braços em mim logo em seguida.

- Tem certeza? - Larissa insistiu, brincando com a ponta do seu nariz carinhosamente no meu ombro, mas ainda me olhando pelo reflexo com o máximo de cautela.

O choro veio até minha garganta e voltou. Meu queixo tremeu e meu biquinho se transformou em uma careta.

- Estou... horrível. - Consegui falar, tentando não tremer a voz.

Ela suspirou contra meu pescoço.

- Me diga exatamente qual parte em você está horrível. Porque eu não consigo ver...

- Eu toda.

A lágrima que brincava em um dos meus olhos caiu.

- Amor... - Ela começou, com sua voz suave e calma, que demonstrava toda a paciência de um monge budista - Você não consegue ficar feia.

- Eu estou gorda... E deformada...

- Você não está deformada. Mas se a nossa filha está aí dentro, sua pele e seus músculos precisam se esticar.

My Dear Whore - OhanittaOnde histórias criam vida. Descubra agora