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Ohana



Eu era só uma puta.

Eu era só uma puta e sabia disso.

Eu sabia disso porque todo mundo, não me deixavam esquecer desse detalhe. Todos os dias, clientes dos mais diversos tipos me lembravam disso. E conforme o tempo passava, mais eu sabia que não poderia simplesmente deixar de ser só uma puta. Eu não poderia viver uma vida normal porque meu passado sempre me condenaria. Sempre seria o meu fantasma particular, e seria sempre motivo de vergonha.

Eu sabia disso. Eu sabia que era só uma puta, e nunca pensei que pudesse ser um pouco mais do que isso. Eu sabia o meu lugar, sabia o que eu fazia, e sabia que era apenas isso. Nunca tentei ser mais do que eu era para cliente nenhum.

Infelizmente, era só o que eu era. Uma puta, como tantas outras.

Então por que ela achou que eu quisesse ser mais que isso? Por que achou que eu estava tentando seduzi-la ou ter algum tipo de controle sobre ela? Por que achou que eu iria pensar que tinha esse direito?

Por que ela disse aquilo?

Eu não queria, nunca quis ter controle de nada. De sentimento algum. Se me fosse possível considerar qualquer utopia, seria simplesmente uma kara retribuindo os sentimentos que eu nutria por ela, mas eu já tinha descartado essa possibilidade, então estava satisfeita com a nossa amizade. Com a nossa proximidade, com o pouco da companhia dela, com o pouco dela que eu tinha. Quando tinha.

Por que ela havia dito aquelas palavras?

Eu sabia que era só uma puta, mas ouvir essa afirmação da boca dela, com tanta raiva, tanta mágoa, doeu mais do que eu podia imaginar. Doeu demais.

O fato de vê-la como uma cliente diferente dos outros pesava. O fato de admirá-la e pensar nela como uma proteção, uma "mesmo que estranha" amizade, também pesava. Mas era o fato de estar completamente apaixonada por ela que fez com que suas palavras me dilacerassem. Me reduzissem a quase pó, quase nada. Fez com que eu me sentisse tão imunda e insignificante, tão descartável.

Não devia doer tanto. Não devia porque eu sabia que aquela era exatamente a verdade, mas doía porque, de alguma forma - milagre talvez - eu esperava que ela visse em mim algo além de uma prostituta. Alguém que valesse a pena, que pudesse ser legal e fazê-la rir de piadas bobas. Alguém que ela pudesse ver não como um objeto, mas como uma pessoa.

Uma pessoa que pudesse fazer parte da vida dela, de qualquer forma, e que deixasse a sua marca.

Mas eu não havia conseguido. Não havia deixado marca alguma nela.

Ela me via só como uma puta, e doía saber disso.

Doía porque eu gostava dela mais que tudo.

Agora, a última lembrança que eu tinha dela eram aquelas palavras gritadas, como se eu tivesse a desafiado. Aquelas palavras, que ainda repetiam na minha cabeça como um pisca-pisca. Aquelas palavras que talvez ninguém mais naquele salão tivesse levado tão a sério, principalmente por serem verdades, mas que me queimaram como fogo.

Aquela era a última lembrança que eu tinha dela. De uma Larissa tanto protetora como vingativa. E eu queria poder responder a todas as suas palavras, queria poder xingá-la de nomes esdrúxulos, queria poder tentar provar a ela que ela estava errada e que eu valia alguma coisa. Mas ela havia se tornado mais uma cliente que surgia e, depois de alcançado o objetivo, ia embora sem sequer olhar para trás.

E então eu tinha a certeza que não a veria outra vez.

...

- Hana?

My Dear Whore - OhanittaOnde histórias criam vida. Descubra agora