Capítulo 8

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Aquiles – pov

É, não fiquei com ela, e agora está uma energia péssima entre a gente.

A gente veio inventar de vir pro campinho de futebol, só pra ver se a bolsa de Estela estava aqui, e adivinha? Não estava. Estamos literalmente presos no campinho de futebol aqui do lugar da festa. Como a gente fez essa proeza? Eu não faço a mínima ideia.

- Doido, como a gente vai desprender essa porta? – Naomi pergunta, preocupada – Isso tá com cara de que não recebe um óleo a três anos.

- Eu e os caba arromba essa porta, homi – Digo.

A porta é daquelas de grade, a fechadura deve ter a idade de Cristo, tão enferrujada que eu tenho medo de pegar um tétano se encostar nisso.

- Se Pietro for inventar de fazer isso, magro do jeito que ele é, ele se arromba todinho, meu filho – Naomi diz.

- Cala a boca, cachorra – Pietro responde e nós rimos.

- Gente, pela amor de Deus, arrombem essa porra – Giulia exclama, ela é a que está mais preocupada no momento.

- Calma, minha filha – Eu falo – Cigano, vem cá, me ajuda a arrombar essa porta com sua força extrema.

Ele sorri e vem até frente da porta comigo.

- Pra trás, crianças – Grito – No três, cigano. Um, dois, três.

E em um piscar de olhos, batemos os ombros na porta, acho que quase quebrei meu braço com isso. A porta não mexeu nenhum milímetro. Que merda. Caio no chão pelo impulso e taco minhas costas na grama molhada do campo. Ouço uma gargalhada alta atrás de mim, faço uma careta antes de me levantar e colocar as mãos nas costas.

- Chico quebrou a coluna, Meu Deus – Julio diz, ironizando.

- Vai se lascar, cabinha.

- Ei doido – Naomi ri horrores olhando para mim – O pessoal do reforço vai adorar saber dessa cena, viu.

Naomi faz reforço escolar comigo, e ela sempre passa o reforço inteiro implicando comigo e contando as coisas que eu faço para a professora. Ela é gente boa, chamo ela de PPG, por conta das iniciais do sobrenome dela, que ela usa de @ no instagram.

- Toma no cu, ppg, Cláudia vai passar o dia me aperreando amanhã.

Cláudia é nossa professora de reforço, ela também implica comigo por conta das coisas que Naomi diz a ela. Mas tudo bem, sou famoso nessa cidade.

- Tenho medo de encostar nessa fechadura pra tentar abrir e pegar uma doença- Bia diz, observando a fechadura da porta.

Ela sacode a porta, vendo as dobras e a parte que está emperrada.

- Bora, façam a magia ai, meninos, vocês não são os fortões daqui? – Cecília diz, passando as mãos pelas pernas, provavelmente pro conta dos milhões de mosquitos que aqui tem.

- É homi, Henrique não é Cigano? Ele tem que força pra arrombar uma porta, né? – Violeta cruza os braços.

Fernanda se aproxima e passa as mãos nas costas de Henrique, passando por ele e indo até a porta.

- Ah, gente, aqui não é muito difícil não – Diz ela.

- Bora, afastem-se de novo – Eu digo, respirando fundo e olho para Henrique, como quem diz "bora?".

Ele respira fundo também e se posiciona para tentar de novo.

- Um, dois...três! – E fomos de novo.

E mais uma vez, não se mexeu nenhum pouco.

- Ah, desisto, vamo esperar alguém chegar aqui mesmo – Henrique diz.

- Oh porra pra doer, parceiro – Digo, passando a mão na lateral do meu braço, que já está dolorido pelas duas tentativas de arrombamento dessa porta de metal.

- Mano – Naomi diz – Esses meninos nem para saber arrombar uma porta, misericórdia.

- Óia o respeito, sebosa – Digo.

- Tá, e a gente vai ficar aqui, é? – Lina pergunta.

- Gente eu não posso ficar aqui não, meu Deus a minha vó vai me matar, gente pela amor de Deus arrombem essa porta, peguem um tétano, sei lá.

Maria parece estar prestes a surtar, quer dizer, ela já está surtando.

- Te acalma, Maria – Bia franze as sobrancelhas – A gente vai morrer aqui dentro não.

- Ai, genteee! – Cecília bate nos braços e nas pernas – Eu não posso ficar aqui não, tô cheia de picada.

- De picada, é, Cecília? – Julio diz e a gente começa a rir.

Cecília vai até ele e agarra seus cabelos, dando um puxão.

- Cala a boca, Pinto molhado.

Começamos a rir e Julio solta um gritinho fino, fazendo-nos rir mais ainda.

- E esse gritinho, Julin? – Pietro brinca.

- Se lascar, Pietro – Julio responde.

Tentamos mais umas três vezes arrombar a porta, e na quarta, foi eu, Henrique, Pietro e Julio juntos. Como? Também não sei. Mas a porta finalmente abriu. Quer dizer, bem, ela não exatamente abriu.

- Ai! Cacete! – Grito, deitando por cima da porta de caiu por inteiro.

- AEE CARALHO! – Ouço alguns gritos e muitas risadas.

- Salvadores da pátria – Bia diz.

Abro os olhos e vejo Ellen, meio constrangida, na minha frente, com a mão hesitante estendida para mim. Pego-a e levanto, nosso olhar grudado um ao outro, como se não tivesse outro lugar para olhar. Saio dessa hipnoze que é os olhos dela quando ouço o grito de Pietro, que estava se contorcendo no chão. Bato minha camiseta, tirando a terra que restava e ajudo os meninos a levantar.

Nossos Finais (nem sempre) FelizesOnde histórias criam vida. Descubra agora