Aquiles-povMinha irmã é uma miniatura de mim. Só que um pouco mais delicada, eu diria. Nesse momento ela está procurando alguma outra camisa minha para vestir, e óbvio, sem eu ter deixado.
- Oh, Alicia, pega alguma velha, pela amor de Deus.
- Não - Ela fala quase que perfeitamente.
Respiro fundo e apenas aceito que ela vai pegar a minha camiseta vermelha que nunca sequer usei pra vestir em casa e sujar de iogurte.
- Mãe! - Grito quando Alicia sai do quarto - A senhora viu camisa dos escolares?
- Tá lavada! - Ela grita de volta- Vem buscar aqui fora.
Tiro a camiseta do varal e a visto.
- Tá tão jogador, meu filho - Andressa sorri orgulhosamente.
Sorrio de volta.
- Fazer um gol pra senhora hoje, viu?
- Viu! - Ela dá um beijo na minha testa e volta a colocar as roupas na máquina.
- Escuta, a Alicia tá com minha camisa e ela não quis de jeito nenhum escolher outra. Daqui um tempinho, troca por alguma minha velha, pela amor de Deus.
- Tá certo, Francisco - Ela diz, sorrindo levemente de canto.
- Francisco? - Pergunto, intrigado.
- É, seu nome, né? Eu que dei.
- Você nunca me chama de Francisco - Cruzo os braços.
Minha mãe teve a brilhante ideia de colocar meu nome como Francisco Aquiles, por isso alguns me chamam de Chico, foi daí que o apelido foi criado. Descobriram que meu nome era também Francisco e começaram a achar o jeito de arrumar um apelido.
- Hoje eu chamei - Ela vira e cruza os braços, me imitando, mas é perceptível o sorriso que ela tenta conter - E aí?
- Ah, meu Deus - Sorrio - Precisa me engolir não, Dona Andressa.
Ela ri e eu rio também.
- Tá bom, vai logo se não vai se atrasar!
- Tchau, mãe, te amo.
- Tchau, meu filho, te amo.Me jogo no chão, ofegante e suado. O jogo foi bom. Ganhamos de 4 a 2 do time de Pietro.
- Tu viu a queda do Cigano? - Pietro chega rindo e se senta ao meu lado.
- Não, o que foi?
Ele solta uma risada fina antes de falar.
- Ele foi encher a garrafa - Ele pausa pra rir - O chão tava molhado, né, ai ele foi, escorregou e caiu de bunda, malandro.
- Mentira, doido - Eu digo, começando a rir por imaginar a cena.
Henrique começa a se aproximar com uma expressão de dor, com a mão no quadril e segurando uma garrafa.
- Tacou a bunda no chão, Cigano? - Brinco e ele para de andar e me encara.
- Rapaz, mas eu tô mole mesmo, viu - Ele se escora no pilar da parede da quadra.
Nós rimos e eu tiro minha chuteira do pé.- ELA FOI CORNA? - Henrique solta um grito - Acredito nisso não, homi.
- Quem foi corna que eu não estou sabendo? - Pergunto, apoiando a minha bicicleta no pilar do guarda sol da pracinha de frente a quadra.
- Tua ex - Pietro fala.
Fico intrigado.
- Como é a história? - Quase grito.
- Peraí, as meninas deram autorização pra contar as vocês, deixa a Bia contar o resto.
- Não tô acreditando nisso não - Digo, ainda intrigado com a informação.
Pietro digita algumas coisas e manda um áudio.
- Manda ela voltar pra Chico ai agora.
- É o que, macho? - Grito quando ele envia o áudio a Bia.
- Peraí, homi - Ele digita mais um pouco e finalmente guarda o celular - Foi o seguinte.
- Calma que eu vou até sentar - Me sento no banco de madeira juntamente a Pietro e Henrique.
- Ó, pelo visto, ontem ou foi anteontem teve festa la na cidade dela, ele disse que não ia. Ellen foi pra festa, e no dia seguinte amanheceu com uma foto dele na festa beijando outra menina.
Eu abro a boca instantaneamente, em estado de choque.
- O QUE? - Henrique levanta.
Pietro ri das nossas reações e concorda com a cabeça.
- Tua chance, Chico - Henrique diz.
- Deus te ouça - Respondo - Será que ela tá precisando de consolo?
Henrique e Pietro riem.
- Brincadeira, acho que ela me quer mais não.
- Ah, eu descubro isso agora! - Pietro começa a digitar e eu entendo imediatamente.
Dou um tapa na mão que segurava o celular, ele cai no meio de suas pernas.
- Sai, azilado! - Ele pega o celular de novo e tenta desbloquea-lo - Deixa eu saber, menino!
- E tu vai fazer o que, pela amor de Deus?
- Perguntar a Bia, que ela vai saber a resposta de Ellen rapidinho.
- Vai não, a menina acabou de descobrir um chifre, Pietro, deixa de ser leso!
- E o que que tem, cara? - Ele se faz de burro, só pode.
- Ah, meu Deus... Não mande nada não, viu?
- Tá certo, homi - Pietro desliga o celular de novo.
- Oh doidera - Henrique finalmente abre a boca - Ainda não acreditei que ela levou chifre. Ela sabia quem era a outra?
- Sabia não, era uma galega qualquer ai - Pietro responde.
- Meu Deus.
- Agora...Minha nossa, esse doido tem juízo não - Uma mistura de alívio e raiva cresce dentro de mim.
É como se eu estivesse feliz e furioso com a situação, uma mistura de tudo. Sem saber o que exatamente eu deveria saber, se eu falo com ela ou não. Se eu finjo que não sei. Se eu finjo que não me importo. Por que eu me importo, bastante, na verdade. Em como ela está, se ela esculhambou ele, se eu deveria mandar os Ciganos atrás dele pra ele levar uma pisa, sei lá. Só queria notícias dela sobre tudo isso que aconteceu.
- Vocês vão pra festa de PPG sábado? - Pergunto.
- Eu vou - Henrique responde.
- Também, né.
- Hoje é a das meninas, né? Pelo menos Ellen não vai ficar sozinha por hoje - Digo.
- Eita que Chico já tá pensando - Henrique brinca.
- Né isso, vai querer aparecer lá pra consolar ela é?
- Se lascar vocês dois, homi.
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Nossos Finais (nem sempre) Felizes
RomanceEllen e Aquiles já tiveram muitas idas vindas. Aquele típico de amor de escola, se conhecem, viram amigos, se apaixonam, namoram, terminam, e acabou. Mas com eles não foi bem desse jeito. Eles tiveram vários finais, nem sempre foram felizes, mas sem...