Capítulo 7

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Fomos chamados pra dançar. Meu. Deus. Ok, fomos para o camarim e estou lado a lado com Aquiles, que vejo-o me espiar de rabo de olho e desviar o olhar novamente para a entrada, que estávamos prestes a entrar. Às vezes esqueço que ele é mais ou menos uns oito centímetros a baixo de mim, mas não reparo muito, apenas quando teve os ensaios.

- De mãos dadas para a entrada, crianças! – A voz da professora de dança ecoa atrás de nós.

Olho pro lado, vejo Aquiles com a mão estendida para mim e as sobrancelhas levantadas e uma expressão levemente engraçada. Dou um sorrisinho e junto minha mão com a dele. E a música começa a tocar e inundar o salão inteiro. A luz da frente do salão invade meus olhos e ilumina a entrada, ficamos nos nossos lugares e nos posicionamos.

A dança foi fluindo conforme havíamos ensaiado todas as vezes, mas dessa vez, pareceu mais conectiva. Estávamos nos movendo ritmicamente, à medida que a música toca, sinto as mãos de Aquiles em minha cintura, minhas mãos em seus ombros, seus olhos que fuzilavam os meus. Até que eu não estou tão nervosa assim. De repente, toda a plateia que estava nos assistindo, parece desaparecer, e tudo some. Só fica eu, e ele. Dançando, meio desengonçados, mas dançando do nosso jeito. Uma explosão de sentimentos cresce dentro de mim onde quer que a ponta dos dedos dele me tocam. Giramos, dessa vez, Henrique não deixa a Cecília cair, o que arranca olhares e sorrisinhos nossos lembrando da cena anterior.

A dança acaba, saímos pelo mesmo lugar que entramos e começamos a rir.

- Olhem, um ponto bom, o Cigano não deixou a Cecília cair dessa vez! – Aquiles conta e Cecília dá um tapa nele, que começa a rir.

- Ai gente, vocês não esquecem isso não? – Cecília diz, parando em um quiosque para comprar um refrigerante.

- Não tem como esquecer, Ceci – Digo.

Olhamos para trás após ouvir o barulho de uma garrafa quebrando no chão. Bom, essa cena a gente não vê todo dia. Esther acabou de quebrar uma garrafa de Vodka no chão. Ela e Estela, sua irmã que estuda com Pietro e Melina, estão afastadas do salão, em um lugar de terra que é praticamente atrás de tudo daqui. Esther está cambaleando, como se tivesse bebido muita coisa até agora, o que provavelmente é verídico.

- Meu Deus – Lina exclama, arregalando os olhos.

- Ok, ela tá muito bêbada, gente – Naomi diz.

- A gente devia ir ajudar ela, parceiro – Violeta olha pra gente.

- E a gente vai fazer o que? – Digo.

- Ai meu Deus, gente, olha agora.

Depois de Maria dizer, automaticamente todos olham para elas e vimos Esther beijando Zeca, é, pois é.

- Não, mentira – Aquiles segura uma risada.

- Ei doido, inacreditável – Henrique começa a rir.

Realmente, inacreditável. Que cena é essa, meu Deus?

- Oi gente – Malu chega, que havia se separado da gente quando fomos dançar – Ah, vocês viram a cena linda ali atrás, né?

- Com certeza – Maria responde.

- Ai gente, ela já beijou uns cinco meninos hoje, ela e Estela, né – Malu fala, como se fosse extremamente cotidiano esse tipo de situação – E ela trouxe uma bolsa cheia de garrafas de bebida.

- Meu Deus – Lina fala, chocada.

- Não acredito nisso não, parceiro – Violeta fala – Quem que ela beijou?

- Um monte de doidinho da sala de vocês – Malu responde.

                                         ——

Então, fiz uma péssima escolha. Certo, eu disse mais cedo que não tinha certeza se faria aquele negócio, de ficar com o Aquiles, e realmente, eu não fiz. Enrolei, e enrolei muito, e tá um clima extremamente esquisito entre a gente, e eu acho que a gente não vai mais dar certo. Eu e essa minha enrolação estragamos tudo, as meninas ficaram muito chateadas com isso, e ele também. Estraguei tudo. É, é isso. Cecília quase me matou, literalmente, ela me ameaçou de muitas formas. Lina ficou com raiva mas até que entendeu meu "medo", e tudo mais. Não tive a melhor decisão agora, mas...

- GENTE! – Bia vem até nós.

Nesse momento, está eu, Ceci, Lina, Naomi e Violeta. Afastadas por conta daquilo tudo que acontecer comigo e com o Aquiles.

- Vocês não sabem!

- Sei mesmo não – Lina diz.

- Bora, fala! – Violeta apressa.

- Henrique ficou com a Yasmin – Bia fala, e a gente abre a boca instantaneamente.

Yasmin é uma menina da sala de Bia, não estudamos na mesma sala, então a gente não conhece tanto ela assim. Temos algumas coisinhas contra ela, por ela ser uma menina que faz de tudo para chamar atenção dos meninos, e por falar mal de muita gente do nosso grupo. Ela teve briguinhas com algumas de nós. Mas de qualquer forma, só do cigano estar ficando com alguém, é uma fofoca e tanto.

- É o que? – Cecília fala como se estivesse cuspindo as palavras – Como assim? Agora? Que?

- Não calma, explica isso direito – Digo, ainda meio confusa por ser um casal que nós não esperávamos.

Henrique, Pietro e Aquiles se aproximam, rindo.

- Já tão sabendo do mais novo casal do colégio? – Aquiles diz, levando um tapa no braço de Henrique.

- Vai se fuder, Chico!

- A gente soube – Violeta diz – Que história é essa, cigano?

- É, e ela mordeu minha língua.

Ok, essa foi boa. Começamos a rir como quem ouviu a melhor piada do universo, e em alguns minutos, Lina já está chorando de rir. Giulia corre até nós e para.

- O cigano ficou com a Yasmin? – Ela pergunta, parecendo indignada.

- Sim, e ela deu uma de jacaré e mordeu a língua dele – Pietro brinca e começamos a rir como hienas.

Em um piscar de olhos, a turma inteira está junta de novo, soltando piadas sobre esse casal incrível. Julio já disse as coisas mais engraçadas possíveis, confesso, são muito maldosas, mas pela amor de Deus. É muito engraçado.

- Me dá um beijinho aqui, nhaq – Julio finge puxar Henrique pra beijar e depois imita uma mordida.

- Doido, vocês são muito ruins – Giu diz.

- E ela é um baby shark é? – Naomi brinca, Fernanda bate na mesa, rindo.

- É a crocodila, homi – Fernanda solta a piada.

- Gente essa menina vai ganhar tantos apelidos que eu tenho pena, sério – Digo.

- A coitada da sangue-suga, gente – Bia diz – Eu vi a cena inteira, acho que foi a coisa mais feia que eu já vi na vida.

E ficamos ali, rindo que nem loucos. Até Thaís, outra amiga nossa, (sim, nosso grupo é extremamente grande, né?) chega correndo, ofegante, vestindo uma camiseta xadrez, clássica, e um short de couro.

- Jogaram a bolsa de Esther no rio daqui de trás, e tava com umas quatro garrafas de whisky, vodka, tudo. Um celular e vinte reais.

Calma, muita informação pra gente assimilar de uma vez só.

- Calma, esse São João está rendendo mais do que deveria – Eu respondo.

Nossos Finais (nem sempre) FelizesOnde histórias criam vida. Descubra agora