Capítulo 39

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- NÃO - Cecília grita, como se estivesse prestes a morrer – EU NÃO ACEITO!! ISSO NÃO PODE ACONTECER, ELLEN.

- Mas aconteceu, amiga.

- NÃO, MEU DEUS, NÃO.

Ela começa a lacrimejar, colocando a mão na boca, em uma mistura de choque e frustração.

- Não acredito, não – Bia diz, em estado de negação.

- Foi, mas a gente continua amigo – Dou de ombros e olho para Cecília.

- NÃO QUERO VOCÊS AMIGOS NÃO, ELLEN! OH MEU DEUS.

- Te acalma, Cecília- Digo – Pela amor de Deus.

- COMO QUE EU ME ACALMO? – Ela ajeita a postura e vem pra mais perto, se inclinando na cadeira e levantando o dedo indicador – O MEU CASAL, O MELHOR CASAL VAI SE SEPARAR! NÃO TEM COMO EU FICAR CALMA.

- Ai gente, poxa – Naomi ajeita os óculos redondos do rosto – Até o São João vocês vão estar juntos de novo, eu abençoo.

- Deus te ouça, amiga – Sorrio fraco – Sério, foi muito chato ter que terminar com ele dessa forma.

Olho pra lado e vejo que Cecília está quase chorando. Literalmente.

- Mentira, Ceci – Digo, incrédula.

- Eu não aceito – As lágrimas descem pelas suas bochechas vermelhas, o que me faz rir.

- A Cecília também, né – Lina cruza os  braços – Chorando por isso.

- Cala a boca, Lina.

Soltamos algumas risadas disfarçadas para que Cecília não perceba.

- Mas a gente vai voltar no futuro – Falo, tentando consola-la – E pensar que quem deveria estar nesse estado era eu, meu Deus.

Cecília continua chorando, mas está mais calma do que antes.

- É, mulher, eles ainda vão voltar alguma hora – Bia diz, com um sorrisinho no rosto.

- Tá bom – Ela enxuga as lágrimas – Mas se vocês não voltarem eu choro.

- Eu já vi gente dramática, agora igual a Cecília... - Naomi solta uma risada.

- Vai se fuder, Naomi.

- Ai gente, não vou superar, entendeu? – Lina entra em negação – Não vou conseguir superar!

- Oh, mas tá tudo bem, a gente ainda conversa e tudo, mas sem compromisso e nada. Estamos amigos.

- Que ódio, viu? – Bia se encosta na cadeira – Nam, doido.

- O maior casal, né – Naomi faz uma cara desanimada.

- Imagina os professores sabendo disso – Bia sorri.

- CP vai ficar indignado – Digo.

CP, ou melhor César Paulo, nosso professor de história e filosofia, ele é um grande amigo da nossa turma. Sempre solta piadas, apoia os casais, dá conselhos etc. Desde sempre ele apoiou eu e Aquiles, ficou chocado quando soube que estávamos oficialmente juntos, sempre nos apoiando (e tirando muito de onda da nossa cara).

- Certeza, homi – Naomi responde.

- Mas – Viro para Cecília – Vocês tem que ficar tranquilas, que pelo menos a gente ainda se fala.

- Tá bom – Ela se encolhe na cadeira e se acalma, ainda indignada com isso.

- E agora? – Naomi fala.

- E agora o que? – Respondo.

- Qual vai ser o casal da turma agora?

Sorrio, disfarçando um pouco da tristeza.

- Verdade, e agora? – Bia franze as sobrancelhas e curva a boca pra baixo.

- Ai gente, vamo mudar de assunto, gosto disso não – Eu falo.

-Tá bom, parar de depressão- Lina fala animada, tentando passar a animação para as demais – Uma hora dessa.

Aulas e mais aulas de passaram, e estamos na última. Sentada na frente de Aquiles, evitando olhar para ele, o que eu acho que ele esteja evitando olhar pra mim também. Ele vira pra trás, sinto olhar no fundo de meus olhos e minhas bochechas queimarem.

- E aí, Maria bonita? – Bom, parece que ele não estava me evitando.

Ouço o apelido. Paraliso. Sem resposta. Inferno.

Eu juro que eu queria gritar na cara dele "Não me chame de Maria bonita, não me chame dos seus apelidos que você me chamava quando estávamos juntos". Mas olhe pra tola paralisada na frente dele, por conta de um apelido ridículo que não deveria me pegar tanto assim.

- E aí, Chico – Com a voz falha, eu finalmente respondo.

Rezando para que ele não tenha notado o choque em que fiquei.

- Tudo bem? – Ele pergunta.

Como poderia estar tudo bem? Está tudo bem pra você? Deveria estar tudo bem pra mim? Merda.

- Mais ou menos, e você?

- Na medida do possível – Aquiles diz, ajeitando os fios castanhos do cabelo dele e respirando fundo.

- Parece que estamos os dois não muito bem.

- É, infelizmente – O olhar dele abaixa e depois sobe para mim de novo.

Volto pra casa, tentando ocupar minha mente em qualquer outra coisa que não seja, bem, vocês sabem. Primeiro dia pós-término, achei que estaria pior, na verdade, eu acho que estou normal. Abalada, mas bem. Afinal, eu consigo viver sem as pessoas, acho que isso é uma coisa boa que eu aprendi a ter. Saber viver ser ter as pessoas ai teu redor, dói, mas é o melhor a se fazer. Mas não significa que você não possa querer as pessoas perto de você, ou gostar de viver com elas. Pelo contrário, na verdade.

Nossos Finais (nem sempre) FelizesOnde histórias criam vida. Descubra agora