Capítulo 41

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Maio sempre é um calor dos infernos. Não que nos outros meses não sejam, mas em maio parece que piora tudo.
Os dias tem passado mais lentos, tem sido mais proveitosos. Mas sempre um pontinho vazio, que ainda não decifrei o que seja. Talvez seja coisa da minha cabeça mesmo. Largo minha bolsa no chão e vou direto pro banho. Minha vida mudou bastante esse ano. Minha turma mudou, tenho começado a ler, fiz muitas amizades. E, bom, comecei a namorar.
Se é uma bomba ou não, é isso. Igor, agora é meu namorado. Oficialmente.
- MENTIRA  - Cecília arregalou tanto os olhos que parecem que vão sair pra fora - EU NÃO ACEITO.
- Pois vai aceitar - Digo.
Ela se emburra, cruza os braços e faz cara feia. Típico.
- Na minha cabeça você ia casar com Aquiles ainda - Bia diz.
- É, mas não foi, e duvido muito que vá ser algum dia - Eu desabafo.
E realmente, duvido muito que eu ainda volte com Aquiles. Minha mãe proibiu eu de ficar com ele, mas aceitou Igor, mesmo com muitas perguntas. Parecia mais um interrogatório. O que é esquisito.
- Ah, que sabe, né? - Lina senta - Eu ainda aposto que vocês namoram pelo menos uma vez daqui pra frente.
A menina de cabelos longos e ondulados nas pontas, matizado de vermelho. Olhos grandes, que estavam arregalados agora. Naomi. Entra na sala como um furacão.
- Gente.
- Que foi menina? - Digo, estranhando o afobamento dela - Morreu alguém?
- Não, mas eu vou me matar.
- Valha meu Deus - Lina exclama - E o que foi?
- Tá todo mundo aqui? - Naomi praticamente joga a bolsa no chão, ao lado de sua cadeira e respira fundo.
- Só a Maitê que tá lá fora - Bia diz - E o que foi, garota?
- Vai chamar ela.
- Tá.
Bia levanta e vai até a porta, soltando um grito para que Maitê venha.
- O que diabo foi?
- Naomi quer falar com a gente - Respondo.
- Tá, desembucha, menina - Bia pede, Naomi respira fundo e olha no olho de cada um de nós.
Eu, Bia, Lina, Cecília, Maitê, Thaís e Violeta.
- É o seguinte... - Ela faz uma cara sôfrega - Eu vou embora.
Por um segundo, todas ficamos em silêncio, tentando entender exatamente o quê Naomi estava tentando dizer.
- Embora? Como assim? - Quebrando o silêncio, Thaís pergunta.
- É, embora como? Seja específica, querida - Bia diz.
- Eu vou pra Santa Catarina.
Naomi fala como se estivesse cuspindo as palavras, como se não quisesse dizê-las. E foi como um baque. As palavras, e nós finalmente termos entendido, que ela realmente vai embora, foi como um baque enorme. Cair em um vulcão, ou, em uma bacia de água fria. Naomi vai estar a 38 horas da gente. Em outro estado. Em outra cidade.
- Mentira, né? - Lina solta uma risada fraca, sem querer acreditar.
- É sério - Naomi assente - A família da minha mãe mora toda lá, e aqui as coisas estão muito difíceis. Mãe recebeu uma proposta de emprego muito boa, a gente vai ter que mudar.
- Quando? - Falo, esperando que ela comece a rir e diga que é uma brincadeira.
- Julho.
Mas não é.
- Deixa de mentir, ppg - Violeta parece não acreditar, igual a gente.
- É sério. Meu padrasto vai junho, pra ir arrumando as coisas em casa.
Lina levanta e abraça Naomi. Estamos em completo choque ainda, quando o sinal toca. Os meninos entram, gargalhando e dando tapas uns nos outros.
- O que foi que vocês estão com essa cara? Alguém morreu? - Aquiles entra, abrindo a garrafa e bebendo toda a água.
- Diabo é isso, depressão é essa? - Júlio senta na frente de Maitê - Me dá água aí, Mai.
Maitê pega a garrafa e o entrega.
- Eu vou embora - Naomi fala em um impulso, para que eles parem de falar - Vou pra Santa Catarina.
Júlio quase cospe a água que estava bebendo, se engasga e começa a tossir. Naomi solta uma risada e dá tapas nas costas dele, que respira fundo.
- É o que? - Olha, essa foi a indignação mais sincera que eu já ouvi.
- É.
- Mentira, homi, deixe de ser mentirosa.
- É sério - Naomi se ajeita na carteira - Vou em Julho.
- Valha minha nossa senhora - Aquiles está com a expressão mais engraçada e confusa do mundo - Puta que pariu.
- Pois é, vou sentir falta das maluquices de vocês.
- Eita eu falei de nossa senhora e depois falei palavrão, né? - Aquiles está se recompondo aos poucos - Perdão, Jesus.
- Porque? - Henrique pergunta.
- As coisas estão difíceis aqui, e minha mãe recebeu uma proposta de emprego muito boa lá. A gente vai ter apoio da família por parte da minha mãe...e, é.
- Caralho, mas pelo menos é melhor pra você e sua família né? - Henrique sempre tentando amenizar a situação.
Naomi assente, cabisbaixa. Mas começa a rir quando olha para Bia, que ainda está exatamente na mesma posição que estava a vinte minutos.
- Meu Deus.
- Eu estou assim de saúde - Digo.

Nossos Finais (nem sempre) FelizesOnde histórias criam vida. Descubra agora